Roberto Araújo – Gerente de Educação e Boas Práticas Agronômicas da CropLife Brasil

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“Regulamentação de produtos de controle, químicos e biológicos exige Ciência”

Riba Velasco

O Roberto é diferente. O Roberto é um profissional com foco. O Roberto pensa diferente. O Roberto é determinado. O Roberto é um profissional competente. O Roberto é, definitivamente, uma unanimidade. Mais do que a chuva de elogios que domina a avaliação de diversos profissionais do Agronegócio brasileiro sobre o trabalho de Roberto Araújo, o Roberto é Ciência. Também é CropLife Brasil. Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade de Brasília, fez inúmeras especializações. Marketing,  Agronegócio, Proteção de Plantas, Liderança e Administração. Na  Universidade de São Paulo, Escola Superior de Propaganda e Marketing, PUC do Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal de Viçosa e Fundação Dom Cabral. No campo profissional, a atuação também foi intensa. Trabalhou por 29 anos na Basf, nas áreas de comunicação, sustentabilidade, marketing digital, product stewardship e na área regulatória. Hoje, preside o Comitê Executivo da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), uma associação civil, sem fins lucrativos e conotação político-partidária ou ideológica, que tem o objetivo de liderar a criação de uma rede em prol da conservação de abelhas e outros polinizadores. Em outro front, igualmente sustentado por Ciência, gerencia as ações de educação e boas práticas agronômicas da CropLife Brasil, a associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos.

Não é fácil ser CropLife no Brasil. É bordoada sem fim para defender o segmento. Mesmo com a produção de alimentos no planeta inteiro sendo reconhecida como uma revolução impressionante de competência nos últimos setenta anos. E que hoje é responsável por entregar comida para 8 bilhões de habitantes, usar menos tecnologias químicas, investir em soluções biológicas, cultivar menos áreas, e se preocupar indefinidamente com segurança de processos e pessoas, lançamentos modernos e eficientes, ajudar a indústria a vencer o desafio de pôr café da manhã, almoço e jantar nas mesas de bilhões de famílias em cinco continentes. “Nosso propósito é disseminar informações sobre o uso correto de tecnologias de proteção de cultivos. Que a regulamentação dos produtos de controle seja baseada em ciência e alinhada aos países agrícolas concorrentes do Brasil. E engajar as principais vozes que promovem debates sobre desenvolvimento sustentável junto ao público urbano”, prega Roberto Araujo. É, o Roberto é bom mesmo. Acompanhe.

AgroRevenda – Qual foi o papel dos agrotóxicos na produção mundial de alimentos a partir dos anos 1950?
Roberto Araújo – De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1950, a população mundial era de 2,6 bilhões de habitantes. Hoje, é de mais de 7,9 bilhões. Nesse período, o
percentual da população urbana dobrou de 28% para 56% e a expectativa de vida aumentou de 45 para 72 anos, em média. Nesse mesmo período, a renda per capita mundial aumentou, estimulando o consumo de produtos oriundos da agricultura. O agronegócio é responsável não só pela produção de alimentos, mas, também, de biomassa, bioenergia, bioplásticos, ração animal,
cosméticos e medicamentos, dentre outros. Foi ainda na década de 1950 que ocorreu a ‘Revolução Verde’, que reuniu um conjunto de iniciativas de transferência de tecnologia de pesquisa e que avançaram substancialmente a produção e a produtividade agrícola mundial. Essas iniciativas resultaram na adoção de novas tecnologias, incluindo variedades de grãos, sementes e plantas de alto rendimento (melhoramento genético), associada ao uso de fertilizantes químicos, defensivos agrícolas, irrigação, novos métodos de cultivo e mecanização, dentre outras inovações. Neste período, o principal papel dos defensivos agrícolas foi reduzir as perdas na produção agrícola e suportar o grande aumento da produtividade, ajudando a suprir a crescente demanda mundial por alimentos, fibras e energia, além de otimizar o uso de recursos (principalmente, o uso da terra), ajudando a evitar desmatamentos e emissões de gases de efeito estufa. Em 1970, o engenheiro agrônomo e cientista Norman Borlaug, o ‘Pai da Revolução Verde’, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por ter ajudado a salvar mais de um bilhão de pessoas da fome. Estudos demonstram que a Revolução Verde contribuiu para a redução generalizada da pobreza, evitou a fome de milhões, aumentou a renda, reduziu as emissões de gases de efeito estufa e o uso da terra para a agricultura e, ainda, contribuiu para o declínio da mortalidade infantil.

AgroRevenda – Quais as principais diferenças entre os agrotóxicos usados nas fazendas do planeta há 50 anos e hoje em dia?
Roberto Araújo – De acordo com estudo de Ray Nishimoto (2019), os defensivos agrícolas lançados antes de 1969 usavam uma dose média de 1.200 gramas de ingrediente ativo por hectare e os defensivos lançados a partir do ano 2000 utilizam 12 vezes menos, ou seja, cerca de 100 gramas de ingrediente ativo por hectare. Além disso, são produtos que agem de forma mais específica para controlar pragas, doenças e plantas daninhas. Os perfis toxicológico e ecotoxicológico das novas moléculas também são mais seguros. Para os consumidores e para a conservação do meio ambiente e da biodiversidade. A Química e a Ciência avançaram muito, contribuindo para a melhoria da saúde, longevidade e qualidade de vida das pessoas.

AgroRevenda – O mundo e os oito bilhões de habitantes de hoje precisam de agrotóxicos para poder comer?
Roberto Araújo – As culturas alimentares competem com 100 mil espécies de fungos patogênicos, 10 mil insetos herbívoros e 30 mil espécies de plantas daninhas. De acordo com a FAO (2021), órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, estima-se que 40% da produção agrícola global é perdida devido ao ataque de pragas. As doenças das plantas custam à economia global mais de US$ 220 bilhões por ano. Sem o uso dos defensivos agrícolas, as perdas na produção seriam bem maiores, causando enormes prejuízos às nações e a oferta mundial de alimentos, fibras e energia seria menor, causando aumento de preços, escassez de alimentos o que, provavelmente, contribuiria para a miséria e os conflitos nos países subdesenvolvidos e naqueles que enfrentam adversidades no clima e no solo. Portanto, os defensivos agrícolas são produtos essenciais para garantir a segurança alimentar da população mundial, ou seja, o direito ao acesso a alimentos em quantidade e qualidade nutricional apropriada.

AgroRevenda – Qual a fatia de mercado que hoje os produtos biológicos defensivos ocupam no Brasil?
Roberto Araújo – De acordo com o levantamento ‘Business Intelligence Panel’ (BIP), da Spark Inteligência Estratégica (2021), os mercados de defensivos agrícolas biológicos e bioinoculantes
registraram crescimento na safra 2020 | 2021. O estudo revelou que o mercado total de bioinsumos movimentou R$ 1,7 bilhão, com avanço de 37% comparado à safra anterior (R$ 1,235 bilhão). Somados, esses dois segmentos ocupam a fatia de 3% das vendas do setor de defesa vegetal, que, segundo a Spark, subiram 16%, para R$ 53,83 bilhões, ante R$ 46,559 bilhões. No mercado de biodefensivos, os bionematicidas lideraram as vendas, com a participação de 43% (R$ 724 milhões), seguidos pelos bioinseticidas, que responderam por 25% ou R$ 417 milhões, e pelos biofungicidas, com 9% ou R$ 159 milhões. O mercado de biodefensivos atingiu R$ 1,3 bilhão, valor 37% superior à safra 2019 | 2020 (R$ 948 milhões).

AgroRevenda – Os produtos biológicos são, realmente, uma opção sustentável, eficiente e produtiva para o agronegócio brasileiro?
Roberto Araújo – O mercado global de biodefensivos movimentou mais de US$ 5 bilhões de dólares em 2020 e tem crescido a uma taxa de 14,4% ao ano. Com demanda crescente pelos consumidores por alimentos livres de resíduos químicos, além da necessidade de manejar a resistência de pragas e doenças, a expectativa para 2025 é de que o mercado de biodefensivos
movimente pelo menos US$ 8 bilhões. A União Europeia e os Estados Unidos são os mercados que mais utilizam produtos biológicos para o controle de pragas e doenças. Na América Latina,
o Brasil é o líder na utilização de biodefensivos e, em 2020, o crescimento foi de 30%. Nesse mesmo período, a indústria de produtos biológicos no País atingiu um faturamento superior a R$ 1,179 bilhão, com crescimento de 75% em relação a 2019. A expectativa é que este setor cresça a uma taxa acima de 35% ao ano até 2030. Ao encontro da tendência de crescimento no setor de biológicos, o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) é mais um incentivo para a agricultura brasileira. O PNB visa atender à crescente demanda do setor produtivo e da sociedade, que buscam alternativas de insumos de base biológica aos sistemas agropecuários. No entanto, as altas taxas de crescimento dos bioinsumos não podem colocar em risco a sustentabilidade do mercado de biodefensivos, caso a produção desses produtos seja realizada sem o devido controle de qualidade e fiscalização na produção ‘on farm’ (na fazenda). O alerta está em uma nota técnica publicada em 18/11/21 pela Embrapa, e que pode ser acessada pelo link: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/66275700/embrapa-divulga-recomendacoes-tecnicas-sobre-a-producao-de-bioinsumos-on-farm

AgroRevenda – Durante quanto tempo os químicos e os biológicos vão conviver, combatendo macro e micro seres vivos e, ao mesmo tempo, realizando o manejo integrado?
Roberto Araújo – A criação da CropLife Brasil é fruto do reconhecimento de que os sistemas agrícolas exigem muito mais do que os benefícios de cada tecnologia, isoladamente. Portanto, existe o entendimento de que as tecnologias não são concorrentes. Juntas, elas contribuem para uma produção agrícola mais sustentável. O uso combinado de defensivos agrícolas químicos, com produtos biológicos, sementes geneticamente melhoradas e biotecnologia potencializam o desenvolvimento agrícola sustentável. No final, o agricultor pode escolher a tecnologia mais apropriada para as suas necessidades e atender às exigências do mercado consumidor. A convivência entre químicos e biológicos será duradoura e tende a evoluir com o uso de soluções digitais e agricultura  de precisão.

AgroRevenda – As pragas e doenças que atingem o agro nas regiões tropicais, como no Brasil, podem significar um obstáculo diante das condições climáticas dos países produtores do hemisfério norte?
Roberto Araújo – No Brasil, a incidência de pragas (insetos, fungos e plantas daninhas) é mais alta por conta das condições climáticas de um país majoritariamente tropical, que apresenta características que alternam entre seco e úmido. Na primavera e verão, temos maior umidade e altas temperaturas, já no outono e inverno, períodos mais secos e com temperaturas mais amenas, sem o inverno característico da Europa, Canadá e boa parte dos Estados Unidos. Afinal, as temperaturas mais baixas, incluindo a neve, evitam a reprodução das pragas, que tornam os alimentos impróprios para o consumo. Por outro lado, esse mesmo clima favorece a biodiversidade, possibilita a produção de grande variedade de culturas e de até 3 safras por ano, dependendo da cultura, com recordes seguidos de produção e produtividade, ou seja, mais produção em uma mesma área.

AgroRevenda – Na sua visão, qual a melhor definição de uma molécula moderna que envolve um produto defensivo hoje, na terceira década do século?
Roberto Araújo – Nas medidas fitossanitárias para proteger a saúde das plantas, não existe ‘bala de prata’. É por meio da combinação de defensivos agrícolas, químicos ou biológicos, que o agricultor encontrará as melhores soluções para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Para evitar ou retardar a ocorrência de resistência às tecnologias, o agricultor deve rotacionar o uso
de produtos com diferentes modos de ação, para evitar que a pressão de seleção possa contribuir para o aumento da população de indivíduos resistentes (insetos, fungos e plantas daninhas),
que normalmente já existem na natureza. Com esse conceito em mente, é desejável que uma nova molécula tenha um modo de ação diferente e que possa somar às estratégias de manejo fitossanitário. A nova molécula deve ser mais seletiva, específica e eficaz, além de possuir um perfil toxicológico e ecotoxicológico mais amigável do que as opções já disponíveis no mercado, visando minimizar os riscos para a saúde das pessoas e ao meio ambiente. No entanto, por mais moderna e inovadora que seja a molécula, não há tecnologia ideal se ela for usada de forma incorreta. O maior desafio da indústria nessa década é promover as boas práticas agrícolas e o uso correto das tecnologias no campo.

AgroRevenda – O mundo produz hoje mais de um bilhão de toneladas de grãos. Onde mais podemos chegar com as novas tecnologias de produção e a defesa dos cultivos?
Roberto Araújo – Publicação da FAO aponta que a agricultura mundial terá de ampliar em 80% a produção de alimentos até 2050, para atender as necessidades de uma população projetada em 9,7 bilhões de pessoas. Com o aumento da demanda, a FAO prevê, também, que o Brasil deverá responder por 50% desse montante. De acordo com estudo divulgado pela Embrapa, em 2021, a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões, nos últimos dez anos, com destaque para carne, soja, milho, algodão e produtos florestais. De acordo com a Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa (SIRE), o agronegócio brasileiro já alimenta 800 milhões de pessoas no mundo. Os dados ainda indicam que a contribuição do Brasil para o abastecimento mundial deverá avançar ainda mais nos próximos anos. Apenas como exemplo, no caso da soja, as projeções realizadas pelo MAPA, dão conta que a produção do grão na safra 2029 | 2030 será de 156,5 milhões de toneladas. Esse número representa um crescimento de 30,1% em relação à safra 2019 | 2020 (CONAB, 2020). Ainda segundo o MAPA, o consumo doméstico de soja em grão deverá atingir 53,7 milhões de toneladas na safra 2029 | 2030, mas poderá chegar a 61,4 milhões de toneladas. O consumo deve aumentar 21,4% até 2029 | 2030, tendo em vista que é um produto essencial na preparação de rações e na produção de biodiesel. Por fim, o Brasil é percebido mundialmente como uma potência agroambiental, ou seja, tem potencial para dobrar a produção de alimentos sem a necessidade de ampliar a área desmatada. A produção e a produtividade do agronegócio brasileiro devem continuar crescendo nas próximas décadas, assim como as soluções de ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) para fomentar a agricultura circular e as iniciativas para conservação da biodiversidade.

AgroRevenda –  Como a CropLife pretende intensificar sua atuação na defesa de boas normas e conceitos corretos no universo do Agro Brasil?
Roberto Araújo – Por meio de um acordo firmado em 2021 entre a CropLife Brasil e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), será possível ampliar a capacitação profissional de  agricultores e aplicadores para o uso correto e seguro de defensivos agrícolas químicos e biológicos a partir de 2022. Instrutores do SENAR já estão passando por treinamentos de nivelamento e atualização, com o objetivo de oferecer formação e conhecimento para que as novas normas e legislações, tanto federais como estaduais, sejam atendidas pelo produtor rural.

AgroRevenda – Quais as principais metas da CropLife até 2030? 
Roberto Araújo – Disseminar informações sobre o uso correto de tecnologias de proteção de cultivos para a totalidade dos instrutores vinculados aos programas de educação de agricultores no Brasil. Contribuir para que a regulamentação dos produtos de controle (químicos e biológicos) seja baseada em ciência e alinhada aos países agrícolas concorrentes do Brasil.


CROPLIFE BRASIL – CLB
A Associação reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos. Foi criada em 2019 e é resultado da união de entidades que antes representavam cada um destes setores individualmente. Agora, agrega em uma única plataforma a experiência e o histórico de associações que por décadas lideraram as discussões sobre inovação na agricultura. Trabalha pelo crescimento do Agro Brasil e contribui para o aumento da oferta de alimentos, fibras e energia limpa. Auxilia os agricultores a enfrentarem os desafios para produzir alimentos, em quantidade e com qualidade, atendendo às demandas de uma população crescente.

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