Indústria de celulose no MS vivencia as ‘dores do crescimento’

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O estado do Mato Grosso do Sul está ganhando a atenção do mundo. Reforçando a sua forte vocação para o agronegócio, a região vem se sobressaindo na produção de celulose. O estado já se destaca como um grande produtor, com três unidades em operação em Três Lagoas, duas da Suzano e uma da Eldorado, totalizando 5 milhões de toneladas anuais. Em 2024, a nova fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, com capacidade de 2,5 milhões de toneladas, elevará a produção da região para 7,5 milhões, superando a Bahia (atual líder nacional) e consolidando o MS como o maior produtor do país.

Estamos assistindo essa evolução a olho nu nos últimos anos, com a chegada de novos investimentos de empresas gigantes que integram a cadeia do setor, como as já citadas Suzano e Eldorado, além da chilena Arauco, que construirá a sua primeira fábrica de celulose no Brasil no município de Inocência. A Arauco prevê um investimento de cerca de R$15 bilhões para uma fábrica com capacidade produtiva de 2,5 milhões de toneladas. Em 2028, ano que a unidade fabril da Arauco entrará em operação, o estado do Mato Grosso do Sul começará a produzir mais de 10 milhões de toneladas do insumo por ano.

A silvicultura também é destaque no estado. A área destinada para eucaliptos já ultrapassa 1,18 milhão de hectares e o cultivo serve de matéria prima para abastecer as fábricas da região. Quatro dos cinco maiores municípios no Brasil que cultivam eucalipto estão na chamada Costa Leste Florestal do MS. Até 2030, as florestas plantadas deverão superar 2 milhões de hectares na região.

A explosão do setor de celulose no Mato Grosso do Sul traz uma série de benefícios para as localidades, sob a ótica do desenvolvimento econômico e social, mas também vários desafios quando o assunto é a mão de obra especializada e executiva. Esse problema é histórico – acompanho esse mercado há anos e já participei, em outros momentos, ao longo da minha carreira, da busca de talentos para diversas empresas do segmento.

A dificuldade de encontrar profissionais capacitados se estende para todas as áreas. Isso ocorre porque a mão de obra, em sua grande parte, é extremamente técnica. A formação profissional ainda é limitada fora dos grandes centros, e a alta concorrência no mercado intensifica o problema de oferta – demanda. As empresas disputam os talentos gerando a “dança das cadeiras” e uma alta rotatividade nas empresas.

Os desafios abrangem desde profissionais na área florestal capazes de lidar com o modelo da silvicultura 4.0 até a busca por especialistas e executivos capazes de liderar projetos de engenharia complexos, envolvendo investimentos bilionários. Além disso, há a necessidade de gestores habilidosos para conduzir diversas áreas fabris, incluindo produção, processos, manutenção, recuperação, caustificação, utilidades e qualidade.

Outra área sensível é a cadeia de supply chain. A carteira de compras, usualmente, possui negociações na ordem de alguns milhares de dólares. A estrutura de demand planning e supply planning precisam estar em completo alinhamento e sinergia com a área comercial. A complexa operação logística, muitas vezes multimodal, demanda profissionais que compreendam essa dinâmica e façam a ligação entre os diferentes tipos de transporte – rodoviário, ferroviário, hidroviário e marítimo. Diante disso, é crucial contar com executivos experientes à frente de cada uma dessas áreas.

Por todas essas especificidades – e muitas mais – é difícil encontrar pessoas que atendam as demandas e exigências existentes no setor. O processo de entendimento do segmento e das suas particularidades é trabalhoso e a adaptação técnica e cultural nem sempre é fácil. Para nós, enquanto profissionais que trabalham na contratação de executivos e lideranças, isso traz uma série de dificuldades. Na fase de prospecção de candidatos, por exemplo, precisamos pensar fora da caixa, porém, nem sempre dá para inovar nessa busca de talentos. Muitas vezes, ficamos restritos ao setor de celulose ou segmentos correlatos e que estejam dentro de um contexto agroindustrial.

Com isso, o mercado de celulose se tornou extremamente inflacionado em termos de salários e remunerações. As empresas ainda enfrentam um déficit de mão de obra especializada e executiva, pois os profissionais em formação – em parte, resultado da parceria entre as companhias do setor e instituições educacionais – ainda não estão prontos para ingressar em grande escala no mercado nos próximos cinco ou dez anos.

Acredito que, com a dificuldade de encontrar mão de obra especializada e executiva no segmento de celulose – cenário que deve persistir nos próximos anos – terei muitos desafios, junto com toda equipe da EXEC no Mato Grosso do Sul. Nosso trabalho irá além da busca, atração, retenção e engajamento de profissionais experientes. Também auxiliaremos as empresas na preparação de novas lideranças, capazes de fazer a diferença nesse momento de crescimento.

Carlos Ornellas é sócio da EXEC, empresa de seleção e desenvolvimento de altos executivos e conselheiros.

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