Brasil importa muito, produz pouco, mas precisa do mercado internacional eficiente de produtos para fertilização das lavouras
Apesar do ambiente de incerteza que permanece com o conflito entre Rússia e Ucrânia, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, vem afirmando que o Brasil tem fertilizantes suficientes para o plantio das safras até outubro próximo. E que o governo federal resolveu trabalhar, desde o ano passado, com alternativas para garantir o suprimento para o setor. “A safrinha de milho aconteceu e o que era necessário em termos de fertilizantes foi garantido. A safra de verão, que será no fim de setembro e outubro, ainda preocupa, mas também temos do setor privado a confirmação de que há um estoque de passagem suficiente para chegar até lá”, afirma a ministra desde março passado. O Brasil trabalha arduamente na busca de novos parceiros nos últimos três meses para compensar a diminuição do recebimento de fertilizantes da Rússia e Bielorrusia. Tereza Cristina garantiu que o Ministério tem um grupo de acompanhamento que conversa constantemente com as indústrias, os produtores, boa parte de logística e infraestrutura. “Temos que ter tranquilidade em todos os momentos e sempre estudar todos os cenários que podem acontecer”, disse. E a ministra pôs o pé na estrada para conseguir alternativas, visitando o Canadá e marcando outros compromissos internacionais. Além disso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estuda alternativas para aumentar a eficiência do plantio com o menor uso de fertilizantes. Também vêm sendo trabalhadas estratégias de fomento e financiamento para aumento da produção de bioinsumos, fertilizantes organominerais, nanotecnologia e agricultura digital. “A agricultura brasileira é forte, vai continuar forte e temos que dar as alternativas para ela continuar trabalhando”, ressaltou a ministra.
O governo lançou o Plano Nacional de Fertilizantes, elaborado desde o ano passado em parceria com outros ministérios e com a iniciativa privada, para reduzir a dependência do Brasil da importação de fertilizantes. “O Brasil precisa tratar esse assunto como segurança nacional e segurança alimentar. Então, esse Plano, que fizemos lá atrás, há mais de um ano, sem prever nada disso, era que o governo pensava que nós deveríamos ter para que o Brasil, que é uma potência agroalimentar, um plano de pelo menos 50% a 60% de produção própria dos seus fertilizantes”, pontuou Tereza Cristina. O Brasil é o quarto consumidor global de fertilizantes, responsável por cerca de 8% deste volume, e é o maior importador mundial.
O país importa cerca de 80% de todo o fertilizante usado na produção agrícola nacional. No caso do potássio, o percentual importado é de 95%. A Rússia é responsável por fornecer 25% dos fertilizantes para o Brasil. O gigante é o maior exportador mundial de fertilizantes, com praticamente US$ 7 bilhões exportados em 2020. É, ainda, o maior fornecedor do Brasil, com US$ 1,79 bilhão dos US$ 8,03 bilhões que importamos há dois anos. Em relação aos fertilizantes potássicos, a Rússia é responsável por 20% da produção global e é origem de 28% das importações brasileiras. Já para os nitrogenados, o país é o segundo maior produtor global. Como fornecedor para o Brasil, a Rússia participa com 21% dos nitrogenados e, no caso específico do nitrato de amônio, o país é praticamente o único fornecedor para o Brasil (dados da Companhia Tereza Cristina, Ministra da Agricultura. Nacional de Abastecimento – CONAB).
Bielorrússia – As exportações de fertilizantes da Bielorrússia para o Brasil foram suspensas em fevereiro deste ano por causa do fechamento dos portos da Lituânia para o escoamento do produto. Desde que soube que a Bielorrússia sofreria sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia, o governo brasileiro iniciou a busca de alternativas para suprir a demanda do setor. A própria ministra Tereza Cristina esteve na Rússia em 2021 e no Irã em fevereiro deste ano, negociando o aumento do volume de exportações de fertilizantes para o Brasil. A estatal iraniana National Petrochemical Company (NPC) adiantou que o Irã poderá triplicar as exportações de ureia para o Brasil, chegando a dois milhões de toneladas ao ano. E a ministra ainda viajou para o Canadá a fim de negociar o aumento dos embarques de potássio para o Brasil.
CONSUMO GLOBAL DE FERTILIZANTES
# Brasil é responsável por 8%
# É o quarto maior consumidor mundial
# Os líderes são a China, Índia e os Estados Unidos
# Compramos US$ 8,03 bilhões em 2020
# Importamos 80% de todo o fertilizante usado na produção agrícola
# No caso do potássio, o percentual é de 95%
# A Rússia fornece 25% dos fertilizantes para o Brasil
POTÊNCIA RUSSA
# O país fornece 25% dos fertilizantes para o Brasil
# Maior exportador mundial de fertilizantes | Vendeu US$ 7 bilhões em 2020
# Maior fornecedor do Brasil, com US$ 1,79 bilhão
# Responsável por 20% da produção global de fertilizantes potássicos
# Origem de 28% das importações brasileiras
# Segundo maior produtor global de nitrogenados
# Participa com 21% dos nitrogenados comprados pelo Brasil
# Praticamente o único fornecedor de nitrato de amônio ao Brasil
ANDA: “NÃO HÁ MOTIVO PARA ALARME”
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) lamenta o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e reforça que o Brasil possui estoque de fertilizantes até o fim de junho. E que o volume atual encontra-se acima da média dos anos anteriores. O país importa cerca de nove milhões de toneladas por ano de insumos para fertilizantes do Leste Europeu, 25% de tudo o que compramos no exterior. A ANDA segue atenta ao fornecimento de cloreto de potássio, pois mais de dois milhões de toneladas já estavam comprometidas com as sanções anteriores à Bielorrússia. E a atenção justifica-se, pois três milhões de toneladas de cloreto de potássio têm como origem a Rússia. Outro ponto de atenção refere-se aos fertilizantes nitrogenados, em especial nitrato de amônio, porque o Brasil importa volume expressivo da Rússia. Com relação aos fosfatados, a dependência do Leste Europeu é menor, o que atenua os impactos de abastecimento para a safra atual. A associação ainda informou que, embora existam restrições bancárias que causam insegurança e dificuldades para o fluxo de pagamento, as transações estão sendo realizadas entre empresas privadas. Outra questão é a logística marítima, por conta das restrições que inibem temporariamente o fluxo de navios à região do conflito, acarretando dificuldades para transportar os insumos, como registrado nas operações no Mar Negro. O mercado está buscando soluções para esses cenários. A ANDA reafirma que acredita na diplomacia brasileira e segue seu compromisso em buscar atender à demanda nacional.
PRODUÇÃO PRÓPRIA
“O Brasil já produziu muito mais minerais e elementos necessários para a fabricação de fertilizantes. Inclusive com fábricas administradas pelo Sistema Petrobrás. Mas os desafios globais acabaram se impondo. O país se transformou no terceiro maior produtor do Agro mundial em trinta anos. E virou um grande comprador. O solo nacional não possui grandes jazidas de Potássio e Fósforo. E muito menos o gás necessário para a formulação de Nitrogênio. Para piorar, nosso modelo de produção sempre foi pouquíssimo competitivo com a oferta dos maiores competidores internacionais. A estatal de energia brasileira abriu mão de três empresas por necessidade e não por incompetência. Os concorrentes fazem melhor e mais barato por tradição, geologia e know how. Há gente que fala sobre nossas reservas de potássio na Amazônia e também de recursos minerais em terras indígenas. E esse pessoal está coberto de razão. Mas sabe quando o Governo Federal vai conseguir implantar uma seara industrial moderna nestas regiões, por mais sustentável que seja? Nunca. A União vai ser massacrada por empresas de comunicação, partidos de oposição, ambientalistas financiados por grupos estrangeiros e ecologistas de ocasião. Qual a solução final? Bom, não existe resposta definitiva para problemas complexos. O mundo moderno econômico traz riqueza e prosperidade, mas requer dinâmicas contínuas. Mesmo que não houvesse guerras entre nações. O Brasil vai conseguir produzir sequer metade dos fertilizantes de que necessita? Certamente que não. Por vários motivos. Não temos minerais suficientes. Nem cadeia produtiva competitiva com o mercado internacional. Não conseguiremos nem usar o que possuímos sob o solo por causa do boicote dos inimigos do Governo Federal. Isto é o fim do mundo? Não. Seguiremos produzindo artigos agropecuários sem parar porque o mundo precisa. A guerra entre russos e ucranianos não vai durar para sempre. Nossa ministra do MAPA é extremamente competente e vai conseguir conjugar um aumento mínimo na produção nacional de fertilizantes com o abastecimento contínuo por parte de fornecedores novos e tradicionais no mercado. Com o tempo, não há chances de os pessimistas vencerem o trabalho e a competência dos agentes do mercado capitalista internacional”.