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Em cenário geopolítico de conflitos, Brasil pode liderar agenda global na COP30

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A chegada da COP30 a Belém coloca o Brasil no centro das atenções internacionais quando o assunto é sustentabilidade e proteção do meio ambiente. O encontro deve marcar uma nova etapa das negociações climáticas, com foco menos em metas e mais em finanças: como pagar e quem vai pagar pela transição verde.

O contexto global é delicado. As relações multilaterais estão fragilizadas por disputas políticas e econômicas. Mesmo com poucos avanços recentes, há expectativa de que o Brasil possa se afirmar como protagonista de uma nova economia climática, combinando capital natural, diplomacia ativa e um papel central na proteção das florestas tropicais.

O principal anúncio esperado é o do Tropical Forests Finance Facility (TFFF), fundo voltado à preservação de florestas – um ativo que o país tem em volume muito superior a outros países interessados na agenda verde. O Brasil já se comprometeu com US$ 1 bilhão, e a expectativa é que União Europeia e países do Brics também contribuam. Mais do que captar recursos, o desafio será transformar compromissos em resultados concretos, superando o histórico de promessas que não saem do papel.

Outro tema de destaque é a convergência entre os mercados voluntário e regulado de carbono. O governo brasileiro defende que ambos coexistam, o que permitiria gerar receita com a venda de créditos regulados. As discussões sobre os artigos 6.2 e 6.4 do Acordo de Paris devem definir o rumo dessa agenda, essencial para dar previsibilidade aos investimentos em energia limpa e reflorestamento.

Há também um componente geopolítico relevante. Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, não são signatários do Acordo de Paris, tratado que serve de base para a COP. A nova administração republicana nos EUA voltou a se afastar das discussões climáticas e tem barrado medidas como a taxação de carbono no transporte marítimo. Já a China aposta em criar um mercado interno de carbono e usa essa agenda como instrumento de política industrial, sem se vincular formalmente ao tratado.

A União Europeia continua sendo a principal defensora de mecanismos de precificação de carbono e financiamento verde. Já os países do Brics, impulsionados pelo Brasil e pela China, buscam equilibrar as discussões entre o Norte e o Sul Global, com foco em soluções mais justas para países em desenvolvimento.

Nesse cenário, o Brasil tem a oportunidade de ocupar um espaço único: o de mediador entre blocos que hoje se olham com desconfiança. Ser anfitrião da COP30 não é apenas uma questão de prestígio diplomático, mas de liderança real na construção de pontes, na regulação dos mercados e na valorização da floresta em pé.

Se conseguir converter sua credibilidade ambiental em resultados práticos, o Brasil pode sair de Belém não apenas como sede da conferência, mas como referência global em finanças climáticas e governança verde.

 

Pedro Plastino é executivo de negócios climáticos e membro da delegação brasileira na COP30.

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