Desaceleração do crédito, juros elevados e avanço das importações pressionam setor e reduzem projeções de crescimento.
Os resultados do PIB do 3º trimestre, divulgados pelo IBGE, trouxeram sinais claros de desaceleração industrial, indicando um cenário mais delicado para o setor ao final de 2025. Embora a indústria tenha registrado alta de 0,8% entre julho e setembro, o crescimento acumulado em um ano caiu de 3% para 1,8%, mostrando perda de ritmo mais rápida do que a esperada, segundo análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, os efeitos da política monetária ainda estão se propagando: “Existe uma defasagem entre a elevação das taxas de juros e a materialização dos efeitos sobre a economia. Isso significa que perda de ritmo adicional ainda deve acontecer. No caso da indústria, o quadro é ainda mais preocupante. Então, somados aos juros, a demanda interna mais fraca e a ascensão expressiva das importações complicam muito o cenário para os próximos meses”.
O PIB nacional cresceu apenas 0,1% no trimestre, refletindo a combinação de crédito caro, desaceleração do mercado de trabalho e consumo moderado — que também avançou 0,1%, após dois trimestres consecutivos de 0,6%. Esse freio atinge diretamente a demanda doméstica por produtos industriais, que igualmente cresceu só 0,1%. Parte do consumo se deslocou para bens importados, cuja entrada no país aumentou 17% entre janeiro e outubro, reduzindo competitividade da produção local.
A indústria de transformação, mais sensível ao ciclo monetário e à concorrência externa, cresceu apenas 0,3%, resultado que ajuda a explicar por que o PIB de serviços também avançou somente 0,1% no trimestre.
Apesar da fraqueza generalizada, alguns segmentos evitaram queda maior da economia. A agropecuária subiu 0,4%, sustentada pela safra robusta; a indústria extrativa teve alta de 1,7%, impulsionada pela expansão da produção de petróleo e gás; e a construção civil cresceu 1,3%, interrompendo duas quedas consecutivas.
Outro ponto de atenção é o investimento: embora tenha crescido 0,9%, sua participação no PIB recuou de 17,4% para 17,3%, reforçando preocupações sobre a capacidade de ampliação da produtividade no médio prazo. Para a CNI, a combinação de juros elevados, importações crescentes e enfraquecimento da demanda mantém o horizonte do setor industrial moderado e sujeito a novas revisões.
OS NÚMEROS DO PIB DO 3º TRIMESTRE (CNI):
Desaceleração da indústria
- +0,8% no trimestre
- Crescimento em 12 meses cai de 3% → 1,8%
- Indústria de transformação: +0,3%
- Demanda doméstica por industriais: +0,1%
Avanço das importações
- Importações crescem 17% (jan–out)
- Aumento reduz espaço para a produção nacional
PIB geral do país
- +0,1% no trimestre
- Consumo das famílias: +0,1%
- Investimento: +0,9%, mas participação recua a 17,3% do PIB
Setores que evitaram queda maior
- Agropecuária: +0,4%
- Indústria extrativa: +1,7%
- Construção civil: +1,3%
Fatores de preocupação
- Juros altos com efeitos ainda em propagação
- Demanda interna fraca
- Importados ganhando participação
- Risco de nova perda de fôlego nos próximos meses
Avaliação da CNI
“A ascensão expressiva das importações e a demanda interna mais fraca complicam muito o cenário para os próximos meses.” — Ricardo Alban


