Estudos da Embrapa definem períodos ideais de cultivo em regiões tropicais e subtropicais, reduzindo riscos e fortalecendo o acesso ao crédito rural.
O cultivo do alho passa a contar com um instrumento oficial de orientação climática no Brasil. O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou, no Diário Oficial da União de hoje, 25 de novembro, as portarias que instituem o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) específico para a cultura, abrangendo regiões tropicais e subtropicais. A iniciativa, desenvolvida pela Embrapa Hortaliças em parceria com entidades de pesquisa e associações de produtores, define períodos de plantio e áreas de menor risco para reduzir perdas e orientar financiadores e seguradoras.
Segundo o pesquisador Marcos Braga, o Zarc traz apenas a avaliação de riscos agroclimáticos, pressupondo que demais exigências agronômicas serão atendidas pelo manejo adequado. Os estudos se concentraram no alho nobre, categoria que responde pela maior parte da produção comercial, e dividiram o país em dois grandes ambientes produtivos: regiões de clima tropical, com recomendações específicas, e regiões subtropicais, onde há diferenças marcantes nas janelas de plantio e nos sistemas de produção.
O zoneamento classifica as cultivares conforme época de plantio e duração do ciclo, ressaltando a importância de utilizar variedades testadas para cada local. Em ambos os climas, fatores como temperatura, fotoperíodo e altitude são determinantes. O alho nobre exige mais de 13 horas de luz por dia e temperaturas baixas para formação de bulbos graúdos. Em áreas subtropicais, a altitude mínima recomendada é de 600 metros; em áreas tropicais, 750 metros.
A prática da vernalização — resfriamento dos bulbos antes do plantio — é indispensável em regiões tropicais e frequentemente realizada também no Sul devido às mudanças climáticas. O tratamento reduz exigências de frio e amplia as áreas aptas ao cultivo. “Essa técnica permitiu ampliar as regiões e as épocas de plantio das cultivares de alho nobre”, destaca o pesquisador Francisco Vilela. Hoje, a cultura está presente desde o norte do Paraná até a Chapada Diamantina.
A disponibilidade de água é outro ponto crítico. Com raízes superficiais, o alho não tolera déficit hídrico, mas também sofre com excesso de irrigação. A demanda varia entre 400 e 850 mm durante o ciclo, o que justifica a recomendação de cultivo irrigado em todo o país.
O Brasil produz atualmente 173 mil toneladas, com produtividade média de 13 t/ha. Estados como Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul respondem pela maior parte do volume. O Zarc não abrange o alho comum da agricultura familiar, mas instituições de pesquisa seguirão oferecendo notas técnicas para orientar esse público.
O zoneamento também alerta para riscos como a podridão branca, doença causada por fungo de difícil controle, capaz de inviabilizar áreas inteiras. Para acessar Proagro e seguro rural, produtores devem seguir as datas de plantio definidas pelo programa. Com o Zarc do alho concluído, a próxima hortaliça a receber zoneamento será o tomate para processamento industrial, previsto para 2025/26.


