Certificação comprova potencial de remover carbono do solo e atrai produtores interessados em práticas acessíveis e de alto impacto ambiental.
Uma das discussões mais relevantes da COP30, em Belém (PA), foi a apresentação técnica do Protocolo Carne Baixo Carbono, iniciativa que promete reorganizar a pecuária nacional sob critérios mais rígidos de rastreabilidade e mitigação climática. O pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo detalhou, na AgriZone, os resultados alcançados desde a criação do modelo, que combina boas práticas, certificação e retorno econômico ao produtor.
Segundo a calculadora de carbono recentemente finalizada pela Embrapa, propriedades que já adotam o protocolo registraram redução média de 35% na intensidade das emissões quando comparadas ao desempenho típico da pecuária de corte no país. Construído desde 2018 em parceria com a Marfrig (MBRF), o sistema busca diminuir emissões e ampliar a captura de carbono pelo solo — dupla frente considerada essencial para que o setor avance em compromissos ambientais.
Os dados apresentados reforçam evidências acumuladas pela pesquisa brasileira. “Já sabíamos desde 2012, através de experimentos no Cerrado, que pastos bem manejados podem superar a mata nativa na remoção de carbono. Isso também acontece na Amazônia e na Mata Atlântica”, explicou Giolo. A validação entre 2020 e 2023, em fazendas como o Grupo Roncador (MT) e a Trijunção (BA), registrou estoques de carbono no solo ainda maiores nas áreas certificadas.
A adoção, segundo o pesquisador, tende a se expandir justamente por ser acessível. O protocolo reúne 67 critérios divididos em módulos de solo, pasto, animal, terminação intensiva e frigorífico. Para ingressar, são exigidos apenas 20 itens mínimos, com evolução prevista a cada dois anos. “O protocolo não é nada complexo, bastante abrangente, e pode ser usado em todos os biomas, exceto nas áreas alagadas do Pantanal. As práticas não estão muito fora do que os produtores já fazem”, destacou. A ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira elaborou um guia simplificado para auxiliar produtores nessa jornada.
O interesse crescente também se explica pela demanda da indústria. Leonel Almeida, gerente global de Pecuária Sustentável da MBRF, afirmou que já há quase 700 propriedades mapeadas com condições de adesão imediata, somando até 300 mil animais. “O protocolo vem coroar as boas práticas agropecuárias, que já vêm sendo utilizadas, e tornar a sustentabilidade algo concreto”, disse, ressaltando o alinhamento com o modelo produtivo brasileiro.
Além da pecuária, a Embrapa já prepara novos desdobramentos. Carina Rufino, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, revelou que o modelo será adaptado para outras cadeias. “Em 2026 vamos começar a operar o protocolo de baixo carbono no mercado da soja, com potencial de 30% de redução das emissões e 30% em remoção. Vêm por aí protocolos para sorgo, leite, trigo e milho, dentre outros”, afirmou.
A iniciativa também tem sido reconhecida por seu potencial de transparência. Mauro Armelin, diretor-executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, avalia que a proposta contribui para enfrentar o desafio climático e ampliar o poder de escolha dos consumidores. “A redução das emissões por combustíveis fósseis é um caminho, mas outro caminho está aqui neste protocolo, com a adaptação às mudanças climáticas na prática”, afirmou. Para ele, o sistema permite rastrear a origem da carne e fortalecer campanhas como “Siga o Rastro”, que incentiva escolhas mais sustentáveis.
Com certificadoras já credenciadas, uso da plataforma Agri Trace Animal da CNA e alinhamento a ODS, IPCC, 4 pour 1000 e critérios ESG, o protocolo se consolida como uma das principais ferramentas para inserir a agropecuária brasileira no centro das soluções climáticas globais.


