Basta acionar qualquer meio de comunicação e é um verdadeiro desfile de políticos. Governadores, prefeitos, secretários, assessores. Informação ‘chapa branca’, como se dizia antigamente nas redações. Todos os entrevistados são candidatos nas eleições municipais do fim deste ano e nas majoritárias de 2022. O presidente Bolsonaro também aparece, mas, na sequência, toma porrada atrás de porrada dos jornalistas. É outro pré-candidato.
Todos são ricos, têm dinheiro guardado, imóveis, poder, previdêcia privada. Podem sobreviver a meses e meses de confinamento.
Os cidadãos, certamente, prefeririam dar ouvidos a médicos, especialistas em contaminação, endemias e pandemias. Gente que aprendeu sobre o tema e não oportunistas intitulados ‘autoridades’. Enfim, menos jornalistas e políticos. E mais informação de profissionais competentes da área. Porém, as eleições estão aí!
Viva a entrega em casa!
O serviço de levar comida em casa para privilegiados é saudado como uma das providências exatas para combater a pandemia do Coronavírus. Por políticos, jornalistas, formadores de opinião, privilegiados em geral. Está em todas as medidas provisórias decretadas por políticos. Motoqueiros esfarrapados, se matando e desafiando o perigo da velocidade nas ruas para levar sandubas e pizzas quentinhas para a classe média brasileira entrincheirada em prédios e condomínios. Para esses jovens suburbanos e suados, ‘the virus is not in the air’.
Doenças
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as principais causas de morte no mundo moderno são doenças circulatórias (pressão alta, isquemia, avc´s, etc.), do coração, acidentes de trânsito, Alzheimer e outras demências, câncer, diabete, diarreia e tuberculose. Entre as dez principais, estão duas relacionadas a problemas respiratórios: pulmonar obstrutiva crônica e infecções das vias respiratórias. Nenhuma das duas ligadas a endemias, surtos ou pandemias. As que mais matam, de longe, são infarto e acidente vascular cerebral.
O Globo
A questão não é ignorar disseminação de qualquer vírus, apesar destes seres vivos microscópios habitarem o planeta desde que ele existe, há 4,5 bilhões de anos. Mas o mundo contemporâneo precisa combatê-los prescindindo de internamentos compulsórios ou prisão domiciliar. Não faz sentido com a aldeia global em que se tornou nossas vidas. E, falando em termos antropológicos, a conquista do ser humano sempre foi sinônimo da vitória dos mais fortes, sobreviventes, resistentes. Aqui, o assunto não é novela. É Evolução. Mesmo que desejarmos evoluir mantendo apenas nossos parentes e amigos como sobreviventes.
Os idosos
Ainda falando em Evolução e vida na Terra, os mais velhos sempre foram menos capazes para enfrentar a batalha da vida, da doença e das vicissitudes. Apesar de mais sábios, certamente. Inúmeras espécies matam os pares mais idosos ou deixam ‘ao leu’, para não atrapalhar o avanço e a sobrevivência da maioria, mais jovem e forte para encontrar comida, enfrentar os inimigos e as intempéries do Clima, impor-se em um território e em uma época. Várias civilizações de indígenas possuíam ritual próprio para largar os mais velhos pelo caminho. Cerimônia onde o respeito ao outro era sublime. E os idosos ensinavam o costume aos mais jovens, quando tinham menos idade.
Não são animais ou pessoas sem coração. É gente que sabia que os organismos mais desgastados são mais frágeis, sofrem mais com a longevidade da vida. O Homem moderno inventou os antibióticos, a comida em larga escala, as próteses, a dentadura, os remédios, os cateteres. E querem tratar os velhos com respeito. Perfeito. O problema é que morremos cada vez mais tarde. Talvez, bem mais tarde do que devíamos. Nos hospitais públicos, nas casas de velhinhos e nos casarões de gente endinheirada, nas favelas, largados ou muito bem cuidados, homens e mulheres frágeis, de pele enrugada, rostos sem alegria, corpos sem cabelos, vergados, amarrados às cadeiras para não escorregarem até o chão, parecem tudo, menos alegria de viver. Quando somos jovens, lutamos para manter nossos velhos vivos. Não é o que parece que eles querem quando olhamos no fundo dos olhos esbranquiçados de muitos deles.
O que fazer?
Eu não tenho a menor ideia.
Provavelmente, vou terminar assim. Na casa de filhos ou parentes, no hospital público, no abrigo de idosos, ou largado em algum canto.
O que sei é que a religião e o pavor da ‘não existência’, que atormenta a raça humana, vão manter a legião de velhos viva, mesmo que ela não deseje. A Ciência vai criar instrumentos cada vez mais precisos para isso. E já faz. Enfiam no organismo eletrodos, próteses de titânio e alumínio, fios de silicone e intestino de suíno, softwares, stendes, placas, parafusos. E a população idosa não vai parar mais de aumentar nos países mais civilizados. Talvez não sejamos mais humanos no futuro. E sim máquinas, sem partes orgânicas, com corpos firmes, ágeis, olhos vívidos, da cor que escolhermos, imortais até que um problema mecânico seja corrigido por ‘i-foods eletrônicos’. Se for assim, só precisaremos escolher o que colocar na memória eletrônica deste idoso futurista. Precisaremos inventar a felicidade cibernética. Imagine nunca morrermos? Será que é bom?