13 de setembro de 2020

Boicotar o Brasil até com o arroz? Por Riba Ulisses

Os políticos, jornalistas e a sociedade em geral não conseguem entender como funciona o mercado livre, que é o sistema que vigora no Brasil.
E como já tratei na semana passada, é o caso simplório do arroz e seu preço na ponta da cadeia produtiva, isto é, na gôndola do supermercado.
O arroz é uma gramínea, alimento de baixa qualidade nutricional, mas fácil de ser cultivado e, por isso, alimenta populações do mundo há milhares de anos.
Assim como o trigo.
Ninguém sabe se surgiu na Ásia ou na África.
No Brasil, faz sucesso faz tempo, ao lado do feijão.
Não por serem gostosos ou nutritivos.
Mas por serem baratos.
Apesar da chiadeira da mídia sobre o preço do tal arroz, o Brasil rraramente produziu o suficiente para abastecer o próprio país.
E se virava com estoques reguladores.
Atualmente, produzimos em torno de dez milhões de toneladas e consumimos onze milhões de toneladas.
Isto é, temos que comprar de outros países um milhão de toneladas todo santo ano.
Um problema?
Nenhum.
O Brasil sempre teve um estoque de emergência para os momentos de disparada de preços, que é quando a colheita já terminou faz tempo e um novo plantio ainda não começou.
Em 2020, o panorama só ficou diferente porque o brasileiro comprou mais arroz durante o confinamento social imposto pelas autoridades estaduais devido à pandemia da Covide-19.
Os estoques do governo federal caíram desde 2017.
E o arroz internacional ficou mais caro para importar por causa do dólar.
Os exportadores brasileiros aproveitaram o mesmo câmbio para vender arroz para o exterior e faturar mais reais.
Parece uma confusão, não?
Até é, mas o nome correto é ECONOMIA DE MERCADO.
Mas e a dona Maria, que tem pouco dinheiro para pagar um arroz mais caro?
Oras, faça um almoço e um jantar com produtos diferentes. Use o macarrão, outro campeão de audiência das mesas dos brasileiros.
Ou apenas o feijão.
Melhor ainda, largue essa combinação alguns dias e coma com ainda mais saúde.
Salada, legumes, folhas, vegetais, frutas.
Ou não coma arroz até o preço chegar mais perto da capacidade do bolso.
Ninguém vai morrer por não comer arroz durante uma ou duas semanas.
Até lá, o mercado vai se acomodar.
O Brasil precisa aumentar a produção já que a Dona Maria adora o tal arroz.
O arroz importado vai chegar mais barato pela retirada da alíquota de importação definida pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), como o Radar Aro já antecipou.
Aliás, uma medida correta, temporária e totalmente aceitável em uma política de preços de uma economia capitalista de mercado.
E se o Brasil fizer mais certo ainda, vai zerar também, temporariamente, as alíquotas de importação de soja e milho.
Afinal, o mercado interno está com preços aquecidos por causa dos embarques internacionais dos dois grãos e de carnes, principalmente para a China.
E o governo federal também tem a tarefa de impedir o aumento de preços de produtos da cesta básica no Brasil.
O que não deve fazer, nunca, é pressionar supermercados ou outros elos da cadeia produtiva. Isso é postura de país de terceira categoria.
Já frisei bem o que penso.
Um país moderno é aquele que exporta bastante, produtos mais caros, e compra bastante. Produtos do Agronegócio, máquinas, peças, tecnologia.
Nação que tem uma vida de transações comerciais intensa, com um número grande de parceiros.
Não é fácil para qualquer governo conciliar tantos interesses e pedidos de agentes econômicos do próprio país e do exterior.
E da Dona Maria.
Que é uma pessoa bacana, mas não sabe nada como administrar a economia de um país em 2020.
Todo mundo é muito bom para chorar quando precisa.
Todo mundo quer ver resolvido, primeiro, o seu problema.
Todo governo precisa ter paciência, conhecimento, visão de mercado, ter um norte definido para perseguir e ficar atento ao mercado interno e às tendências mundiais.
E nunca apelar para estratégias demagógicas e milagrosas.
As primeiras terminam em fracasso.
As segundas não existem.

 

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