18 de maio de 2020

A Fiesp que interessa! Por Riba Ulisses

Uma reunião online realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) com a participação do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.
O encontro teve a presença de representantes dos quarenta maiores grupos empresariais do Brasil, do Ministro da Economia Paulo Guedes, do Ministro da Casa Civil Braga Neto e de Paulo Skaf, o presidente da FIESP.

O presidente Jair Bolsonaro acabou monopolizando toda a repercussão que houve na Imprensa ao defender novamente a retomada das atividades econômicas no Brasil.
Ele também fez os ataques habituais aos principais meios de comunicação do país e chegou a pedir aos empresários que o apoiam a parar de investir em publicidade nos grupos de comunicação que, para ele, seriam contra o governo.
E ainda ironizou o fato da Medida Provisória que trata da Flexibilização do Trabalho, enviada por ele ao Congresso Nacional, ter um relator do Partido Comunista do Brasil.
O que, na prática, não significa nada.
Foi cumprido um rito legal na definição do relator e, muitas vezes, o relatório preparado pelo relator é rejeitado nas comissões iniciais ou mesmo em plenário.

Bom, vamos falar agora sobre o que interessa, que é a vida e o bolso dos brasileiros e a análise do momento econômico do Brasil devido a pandemia da Covide-19.
Esta, sim, foi a notícia mais importante da reunião da FIESP.
E desconhecida pelos jornalistas brasileiros.

Paulo Skaf, o presidente da FIESP, ao contrário do presidente, iniciou sua participação afirmando que é necessário um alinhamento entre os poderes públicos Federal, Estadual, Municipal com o Judiciário e o Legislativo para o país sair da situação de conflito e buscar um mínimo de crescimento econômico neste ano para frear um pouco que seja a depressão econômica que vai se abater sobre todo o planeta quando as pessoas voltarem às ruas.
Voltarem a trabalhar.
Voltarem ao desemprego em massa.

Skaf ainda cobrou do Governo Federal uma resposta para o pacote de medidas sugeridas  pela FIESP para a substituição do confinamento social e a retomada das atividades econômicas num prazo de quarenta e cinco dias.
Na sequência, Skaf destacou duas medidas que considera vitais para ajudar as empresas brasileiras.
A liberação dos créditos tributários acumulados e que o Supremo Tribunal Federal reconsidere a decisão de tornar a Covid-19 uma doença de trabalho, o que vem trazendo muito insegurança jurídica para todas as empresas brasileiras.
E voltou ao tema dinheiro.
Mais dinheiro.
Mais rápido.
Para ajudar as empresas a pagar os salários dos funcionários e a manter o capital de giro.

O presidente da FIESP terminou sua participação enfatizando a importância de outra decisão.
Uma operação que reúna os ministros do Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República e outros órgãos federais para debater o fim da burocracia que está travando projetos importantes de empresas que têm recursos próprios para realizar grandes investimentos assim que começar o fim do confinamento social.

Outro empresário, Rubens Menin, da Construção civil, afirmou que 90% das atividades do setor estão funcionando regularmente e com níveis de contaminação abaixo da média nacional, o que é ótimo.
Ele reforçou que a manutenção dos protocolos sanitários trás segurança e ajuda a não paralisar a economia.

O tarimbado Abílio Diniz, do Grupo Carrefour, que já foi o imperador do varejo brasileiro, elogiou a gestão federal no processo de liberação da primeira parcela de ajuda dos R$600,00 a milhões de brasileiros.
E apoiou a abertura das atividades econômicas defendida pelo presidente, reforçando que a retomada deve vir com recursos da iniciativa privada e não com recursos dos contribuintes.
Abílio Diniz informou que o Carrefour está aberto este tempo todo, operação normal de nada menos do que 85 mil funcionários e raros casos de contaminação da COVID 19.
Abílio confirmou que o grupo está dando importância total aos protocolos sanitários.

João Guilherme Sabino, empresário do segmento de açúcar e álcool, que vem sofrendo bastante com a pandemia, disse que é importante haver financiamentos a juros baixos para estocar a produção.
João Sabino reforçou que o setor está descapitalizado neste momento e também reclamou dos meios de comunicação.
Ele disse: “Todo setor do Agro está trabalhando, produzindo, exportando. Isto deve ser divulgado e não está ocorrendo”.
É uma meia verdade, certo seo João?
Os jornais falam sim do Agro.
Está certo que é pouco, mas falam.

Outro empreendedor do setor, Rubens Ometo, reclamou de uma ação de dumping por parte dos russo e sauditas.
Em tempo: dumping é quando um grupo de empresas combina baixar os  preços para combater os concorrentes.
Ele destacou que o segmento emprega 55 mil trabalhadores diretamente e solicitou a liberação dos depósitos judiciais para substituir as fianças bancárias

Luiz Carlos Trabuco falou em nome do setor financeiro e elogiou a rotina de reuniões semanais que os bancos públicos e privados têm mantido com o Ministro Paulo Guedes e as diretorias do Banco Central e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES.
Os encontros servem para a análise de concessão de crédito e formulação de pacotes econômicos para auxiliar os setores mais prejudicados pela pandemia.

Fernando Galetti Queiroz, CEO da Minerva, falou em nome do Agronegócio e solicitou a liberação dos créditos tributários das exportações para gerar fluxo de caixa.
Só para lembrar, o Minerva exporta praticamente 80% de toda a carne que produz.

Rogélio Goldfarb, do setor de veículos, reconheceu que a situação para eles está desesperadora. E prevê que tudo pode ainda piorar por causa de crédito, câmbio e incertezas sociais.

Carlos Sanches levou o recado das Indústrias farmacêuticas.
Elas empregam nove mil funcionários, mantém hoje quatro mil deles trabalhando externamente desde o inicio da pandemia e só souberam de quatro casos de Covid 19.
Sanches reforçou que a manutenção rígida dos protocolos sanitários tem trazido bons resultados e ressaltou a que é necessário mostrar estes dados aos governos estaduais para eles avaliarem melhor a diminuição da rigidez do confinamento social.

Elis Horn, que representa os shopping centers, apontou que o momento para eles é extremamente difícil e muitos lojistas simplesmente não estão pagando o aluguel das lojas.
Ele ressaltou que é necessário envolver todos os empresários do país nos debates que envolvem o assunto confinamento social.
E, a exemplo de outros colegas, defendeu o entendimento entre os representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário.

Paulo Sousa, da Cargil, a maior empresa agrícola do planeta, enfatizou o papel do Brasil no cenário econômico internacional.
Disse que a China é o nosso principal cliente e está negociando com os Estados Unidos, que são nossos maiores concorrentes no Agro.
Logo, o Brasil não deveria ficar brigando com seu principal cliente.
Assim como deveria dar sinal ao mundo sobre o que estamos fazendo com o tema que mais incomoda vários países pelo mundo inteiro: os desmatamentos na Floresta Amazônica.

Flavio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, afirmou que está com apenas 5% das lojas abertas, mas revelou que o faturamento destas unidades está quase igual ao que  alcançavam antes das restrições sociais.

Logicamente, a grande estrela da reunião era o Ministro da Economia Paulo Guedes.
Ele começou enfatizando que acredita na recuperação da economia brasileira, mas desde que as medidas de retomada sejam adotadas rapidamente, em no máximo duas semanas.
Guedes argumentou que a população vive nos municípios e não nos estados.
Logo, as restrições precisam ser definidas pelos prefeitos e não pelos governadores.

A partir daí, o ministro começou a defesa do Governo de Jair Bolsonaro.
Disse que o colapso do comércio global é um fato, porém o Brasil é o único país do mundo que está crescendo as exportações.
Os Estados Unidos já têm mais de trinta milhões de desempregados e o Brasil já salvou sete milhões de empregos com as medidas de proteção social e os planos de apoio ao setor produtivo.
Mas Guedes reconheceu que perdemos um milhão de empregos.
Argumentou que o esforço fiscal dos países emergentes foi de 2,3% do PIB enquanto no Brasil chegou a 4,6% do PIB.
Para Paulo Guedes, estamos com o dobro dos emergentes e acima da média do esforço fiscal dos países avançados.
Recebendo investimentos diretos internacionais que cresceram 6% no primeiro trimestre deste ano.

Ele jura que é dinheiro sério entrando.
E Paulo Guedes permaneceu com uma pregação mais política do que econômica.

Pediu ajuda aos empresários que financiaram campanhas políticas para colocar pressão em cima dos políticos que se elegeram e que estariam contra o governo.
Informou que está desenvolvendo outro programa para flexibilizar as regras para captação de capital de giro.
E prometeu que o Brasil tem um norte, tem um projeto, sabe o que vai fazer.
Por último, pediu que os empresários lançassem campanhas publicitárias em apoio ao crescimento econômico.

Bom. O melhor resumo desta salada toda é a seguinte:
Os empresários aprovam uma liberalização, mesmo que gradual, do confinamento social.
Desde que todos sigam normas e cuidados aconselhados pelas autoridades de saúde.
Ok, mas eles precisam ter uma comunicação direta com a sociedade.
De preferência, sem ligação direta com o presidente.
Por que não fazem?

O presidente tem o direito de achar que afrouxar o confinamento é uma boa saída.
Mas tem muito a aprender sobre educação, bons modos, parceria, razoabilidade, Democracia e saúde pública.
Por que não aprende?

O ministro Paulo Guedes entende de economia, gastos, mercado internacional.
Mas precisa se comunicar melhor, explicar mais, ser mais persuasivo, usar a máscara direito e sair da sombra do Bolsonaro.
Por que não sai?

A sociedade brasileira inteira precisa muito que todos  eles reconheçam seus erros e passem a acertar mais.

O podcast Radar Agro fica por aqui.
Até breve!

 

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