16 de setembro de 2020

A agricultura no Brasil já é bem digital! Por Riba Ulisses

Uma pesquisa divulgada recentemente mostrou o retrato da agricultura digital no Brasil.
Um trabalho conjunto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe).
Eles ouviram 750 pessoas.
Produtores rurais, empresas e prestadores de serviço.
Que falaram sobre tendências, desafios e oportunidades para a agricultura digital no Brasil.

A primeira descoberta foi bem interessante.
84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola.
Você, que mora na cidade e vive ao lado de aparelho de televisão conectado à internet, celular, lap top, tablet, 4g, pode achar pouco.
Mas reflita. Não é.

O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de cinco milhões de propriedades rurais.
Um universo que reúne agropecuárias moderníssimas, fazendas, grandes lavradores, produtores familiares, sitiantes com um boi e uma vaca no estábulo.
O resultado comprova que a facilidade de comunicação na internet é a porta de entrada para o agricultor nessas novas tecnologias.
E que eles já têm no radar investir em aplicações mais especializadas, capazes de ampliar o acesso a mercados, reduzir custos e agregar valor à produção.

Foram ouvidos 504 agricultores de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal.
A maioria cultiva até 50 hectares, mantém agricultura, pecuária e madeira.
69% têm mais de dez anos de experiência na atividade rural.

A maioria usa a internet para interesses gerais sobre agricultura.
E as redes sociais, como Facebook e WhatsApp, para obter ou divulgar informações sobre a propriedade rural, comprar insumos ou vender a produção.

O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Édson Bolfe, que coordenou o estudo, acrescenta que os lavradores ainda usam o digital para fins específicos, como prever o clima, promover o bem-estar animal e a certificação, além da rastreabilidade dos alimentos.
E a coisa acelerou ainda mais com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de distanciamento social.
O governo federal está pesando justamente isto.
No ano passado, foi criada a Câmara do Agro 4.0, uma parceria entre os ministérios da Agricultura, Ciência Tecnologia e Inovações, Embrapa e as empresas de tecnologia e comunicação justamente para ampliar a adoção de tecnologias digitais pelos camponeses.

Mas o pessoal do campo não dorme em serviço e já está descobrindo novas formas de comunicar o seu produto pelas mídias sociais digitais e plataformas de marketplace.
Quer só um exemplo entre milhares?
Agricultores baianos de uma cooperativa de frutas nativas juntou-se a startups de Salvador e São Paulo para vender umbu e maracujá para novos mercados.
A pandemia reduziu as vendas nas lojas físicas em quase 70%.
Até agora, já foi possível reverter 30% desse prejuízo.

Mas existem problemas.
O preço de equipamentos e aplicativos assusta o agricultor.
E 40% deles dizem não conhecer as tecnologias mais apropriadas para o tamanho do bolso deles.
O Sebrae promete ajudar nesta área, usando portais e canais de acesso aos produtores.

A pesquisa também contou com a participação de 249 empresas e prestadores de serviços, todas atuando dentro da agroconectividade.
Gestão, uso da terra, produção, insumos.
O setor reclama que não consegue crescer porque não possui escala diante do pequeno investimento dos lavradores, falta capacitação dos usuários e não consegue encontrar trabalhadores competentes para o serviço.
Algumas tecnologias já tiveram custos reduzidos e podem beneficiar pequenos e médios produtores, mas tem um longo caminho pela frente.
Falta dinheiro.
Para variar.

Por isso o calo que dói de verdade é a falta de infraestrutura para conexão com o campo.
Nada menos do que 61,4% dos profissionais ouvidos na pesquisa apontaram esse desafio.
Apenas os grandes produtores e as super empresas estão conseguindo investir em melhorar o acesso à internet nas propriedades.
O Brasil é muito grande, existem milhares de espaços rurais sem nem mesmo energia elétrica e é preciso uma grana preta.

São locais que não conhecem novas tecnologias, nem fertilizantes ou sal para o gado.
Muito menos para uma antena de internet.
São zonas que não investem um centavo em produtividade mínima.
Estão longe de até pensar em convergência de biotecnologia, nanotecnologia, tecnologia da informação, comunicação e ciência cognitiva.

Outra encrenca é que o preço dos equipamentos e aplicativos assusta o agricultor.
Nada menos do que 68% deles.
Essa massa de produtores precisa de ajuda.
Para começar, eles precisam de assistência para aprender que o Agro moderno não se faz sem um mínimo de tecnologia.
Nem que seja aplicar um pouco de sal para o boi, consertar a cerca, livrar os animais de carrapatos, limpar o pasto dos vermes, comprar um pouco que seja de sêmen para melhoramento, participar de diversos cursos oferecidos por governos estaduais e municípios sobre produção de baixo custo.
E que não custam nada.
Já seria um grande avanço.

Se o objetivo for digital, o buraco é mais embaixo.
Agricultores e prestadores de serviços dependem de inovações em sensores, inteligência artificial, internet das coisas, automação, robótica, big data, criptografia e blockchain.
Os pesquisadores acham que os pequenos e médios produtores dependem do dinheiro público para conseguirem inserir as tecnologias dentro da fazenda.
As alternativas seriam as cooperativas de crédito e os prestadores de serviço, que poderiam atender vários grupos de uma mesma região ou uma mesma cooperativa.

Bom, é uma nova agricultura que vem despontando.
Marcada por aumento da produtividade, eficiência, redução de custos, qualidade da produção, redução de impacto ambiental e acesso ao mercado.
Com ótimas perspectivas para 2030.
Uma intensa revolução no campo.

Um grande exemplo são os dados e as imagens geradas por sensores remotos, como satélites e drones.
37% das empresas e dos prestadores de serviços entrevistados atuam nessa área.
Uma tecnologia já utilizada por 17,5% dos produtores rurais.
Para detectar e controlar plantas daninhas, pragas e doenças.
Perceber falhas de plantio e estimar a produção e a produtividade.
O mercado global de drones, então, movimenta US$ 32,4, um avanço de 172% nos últimos quatro anos.

Que pode criar emprego para mais de 100 mil profissionais no Brasil.
26% só na agricultura.
Negócio de US$ 2 bilhões.

Uma explosão de ciência para a pulverização agrícola e o controle biológico.
Sem falar que a regulamentação dessas aplicações deve causar uma melhor utilização da tecnologia.
Os pulverizadores costais vão ser substituídos por drones, principalmente pela redução de contaminação de operadores e melhor eficiência das aplicações.
No controle biológico, várias culturas se beneficiarão da tecnologia.
Um benefício espetacular para o meio ambiente.

É um universo espetacular.
Tomara que ele chegue forte e com investimentos prioritários dos empreendedores privados.
Sem precisar tanto do dinheiro do Estado, que na verdade é dinheiro do cidadão, do contribuinte, isto é, nosso dinheiro.
E ele não existe praticamente mais.
Mas é real em cada centavo que o cidadão brasileiro paga para manter universidades públicas, instituições de pesquisa oficiais, isenções diversas para cooperativas, agências de fomento, etc.

Até a próxima!

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