A discussão sobre como tornar a pecuária brasileira mais sustentável ganhou força durante a COP30, em Belém (PA), impulsionada por dados da Embrapa Territorial que reforçam a responsabilidade ambiental do setor. Segundo o levantamento, produtores rurais preservam 29% das matas nativas do Brasil dentro das propriedades — para cada hectare produtivo, há 0,9 hectare protegido e 2,1 hectares de vegetação nativa total. Esse cenário abre espaço para práticas que conciliem produtividade, conservação e mitigação de emissões.
Entre as tecnologias com maior impacto está o capim Tifton 85, apresentado pelo zootecnista Oswaldo Stival Neto como uma ferramenta capaz de transformar a pecuária. Resultado do cruzamento de gramíneas dos EUA e da África, o Tifton oferece alto valor nutritivo, produção de matéria seca superior e cobertura densa, que protege o solo da erosão e favorece infiltração de água. Em comparação com a braquiária, pode fornecer o dobro do valor nutritivo ao rebanho.

Além do ganho produtivo, a forrageira é apontada como destaque no sequestro de carbono. Estudos internacionais indicam capacidade até cinco vezes maior que a de outras pastagens. Pesquisas da Epagri mostram raízes que alcançam 2 a 3 metros de profundidade, permitindo remoção de até 3,79 t de CO₂eq/ha/ano quando bem manejada. “O Tifton 85 tem uma característica de crescimento estolonífero […] não deixando o solo exposto”, explica Stival, ressaltando o papel da planta na proteção contra assoreamento e na melhoria da qualidade da água.
Outra inovação apontada pelo especialista é a evolução das técnicas de plantio. O método inicial por ramas, pouco eficiente, foi substituído por sistemas mecanizados com mudas matrizes e plantadeiras, semelhantes aos usados em culturas como tomate e batata. O resultado tem sido maior uniformidade, produtividade e eficiência de implantação.
Os efeitos ambientais positivos se estendem a todo o ecossistema do solo. A palhada formada por folhas e esterco aumenta a matéria orgânica e estimula a microbiota, fixando carbono de forma mais duradoura. “Todo o carbono sequestrado vai para as raízes e para a microbiota do solo”, afirma Stival.
Em produtividade, o Tifton permite saltos expressivos: de 1 para 7 cabeças por hectare e até 40 arrobas/ha sem suplementação concentrada. Isso reduz pressão por abertura de novas áreas e viabiliza ganhos sem desmatamento. “Usando tecnologias corretas, o país conseguiria atender ao aumento global da demanda por proteína animal utilizando apenas 20% da área de pastagem atual”, calcula o especialista.
Para Stival, a pecuária brasileira está aberta à transição sustentável e disposta a incorporar tecnologias que assegurem perenidade e competitividade. O segredo, segundo ele, está em “apontar o caminho” e ampliar o acesso a soluções práticas e validadas no campo.


