Irrigar é preciso

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Foto: Divulgação.
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*Por Sergio Segantini Bronzi

“Molhar” é preciso. Esta afirmação se ouvia 30 anos atrás, nos primórdios da cafeicultura do cerrado. Causaria espanto e seu autor, por certo teria sua sanidade questionada, pois irrigar café era algo impensável, tão absurdo que poderia destruir o ímpeto de expansão da cafeicultura na região.

A irrigação de então se restringia à produção de hortaliças, sendo utilizado de forma rústica, “molhando” as plantas, distribuindo água através de sulcos feitos na terra, um procedimento rudimentar e pouco técnico, altamente erosivo e degradante do solo.

Foi neste ambiente de pouco conhecimento sobre irrigação que mudanças climáticas, ocorridas a partir do final da década de 80, tiraram o sono dos cafeicultores da região. Afinal, não dava mais para confiar em São Pedro para providenciar, a tempo e a contento, toda a água de que as lavouras precisavam.

Diante desta nova realidade, comprovada através de seguidas e expressivas perdas de produção, o cafeicultor da região, ao se deparar com uma falência financeira eminente, começou a “molhar” seu café, de qualquer forma e a qualquer preço, só se preocupando em “salvar” a safra. Aliviada com a solução encontrada, apesar do aumento dos custos de produção, a cafeicultura regional adquiriu novo fôlego e expandiu sua área de plantio, aumentando a safra e a oferta de café no mercado.

O mercado tem suas leis e o aumento na oferta do produto derrubou os preços e o café entrou em crise. Os preços praticados pelo mercado não mais cobriam os custos de produção, surgiram os conflitos pelo direito de uso da água, escassa em algumas regiões, este cenário associado a uma limitada disponibilidade de energia, não permitia mais apenas “molhar” o cafezal, era preciso irrigar: aplicar somente a água necessária, com o menor custo possível, sem abrir mão do aumento na produtividade. Estava lançado um desafio e as buscas por possíveis soluções sempre conduzia para o uso de novas e modernas tecnologias, que por estarem normalmente contidas nos meios acadêmicos ou em órgãos de pesquisa internacionais, não estava acessível para a grande maioria dos cafeicultores da região.

Foi dentro deste quadro de total instabilidade e apreensão da classe, que em 1995, um grupo de cafeicultores, na época diretores da ACA – Associação dos Cafeicultores de Araguari buscou, através da realização de um simpósio, trazer para o produtor as informações técnicas de que ele precisava para aperfeiçoar sua produção. Mas era preciso mais, o produtor pedia mais e o evento cresceu, surgindo a Fenicafé – Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura: hoje a maior feira de café do BRASIL, mas que ainda prima por buscar e oferecer ao cafeicultor brasileiro todas as informações tecnológicas mundialmente existentes, sejam elas sobre manejo ou sobre materiais disponíveis, subsidiando tomadas de decisão para um correto gerenciamento e escolha do projeto de irrigação, desde a escolha dos materiais, passando pela implantação e finalizando com a otimização do manejo, utilizando o sistema também como ferramenta para adubações e aplicação de defensivos agrícolas de forma econômica e eficiente, tornando-se ambientalmente correta e sustentável.

Hoje o produtor regional, ao contrário do de outras regiões, já não teme a falta de chuvas e pede a São Pedro apenas mansidão e ausência de granizo nas chuvas, pois ele já aprendeu a garantir uma boa florada e uma boa safra.

É com este objetivo e em busca de sonos mais tranquilos que cada vez mais cafeicultores de outras regiões do Brasil e até do exterior, todos os anos visitam Araguari durante a realização da Fenicafé, certos de encontrar aqui as informações de que precisa para seu aprimoramento tecnológico, condição fundamental e imprescindível para a sobrevivência do produtor rural, neste segmento da agricultura brasileira.

* O autor é Diretor da ACA e produtor de café

Fonte: Farol Comunitario, via Lílian Rodrigues – VGA

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