O conceito de imunidade cruzada aplicado às vacinas aviárias

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Eduardo Muniz_gerente técnico_Aves

O veterinário que trabalha com avicultura deve usar os conceitos da imunologia para construir programas de vacinação e de monitoramento cada vez mais adequados ao desafio de campo. Nesse aspecto, é importante compreender do que depende a imunidade cruzada das vacinas. Imunidade cruzada das vacinas é a proteção conferida a um hospedeiro por meio da injeção de um microrganismo atenuado (enfraquecido) ou de seus componentes. O objetivo é prevenir o hospedeiro de uma infecção futura causada por uma estirpe de microrganismo semelhante àquela que foi injetada no hospedeiro. Mais comumente, o microrganismo é um vírus, porém isso se aplica perfeitamente a bactérias e mesmo a protozoários.

Mas a proteção cruzada dependerá de vários fatores. O primeiro deles é a complexidade genética e a diversidade do microrganismo que causa a doença. Existem microrganismos que possuem a característica de realizar mutações frequentes nas estruturas antigênicas, o que dificulta o reconhecimento do antígeno (corpo estranho). Quanto maior for a capacidade do agente etiológico de realizar mutações, maior será a dificuldade da vacina em conferir proteção cruzada.

É interessante notar que a capacidade de realizar mutações é uma característica intrínseca de cada doença. Ou seja, existem agentes etiológicos que tem alta capacidade de mutação. Talvez o melhor exemplo da avicultura seja o caso da Bronquite Infecciosa das Galinhas (BIG). Hoje, a avicultura brasileira está introduzindo novas vacinas contra a BIG, pois têm sido encontradas estirpes diferentes da estirpe Massachusetts, que por muitos anos foi o desafio predominante no território brasileiro. A decisão de introduzir vacinas novas é dependente de muitos estudos epidemiológicos e principalmente motivado pela intensidade dos prejuízos econômicos que esses mutantes estejam causando.

Uma dica bastante prática para entender a diversidade genética que existe entre os agentes etiológicos da avicultura é observar se nos testes de soroaglutinação há a presença de vários sorotipos. Quando a diversidade genética é alta, existe a tendência de haver mais de um sorotipo e, portanto, há uma tendência de maior dificuldade de proteção cruzada. Por outro lado, existem agentes etiológicos que ocorrem em apenas um único sorotipo patogênico. Um exemplo disso, é a Doença de Gumboro, na qual todos os vírus patogênicos são do sorotipo 1. Neste caso, podemos esperar uma maior proteção cruzada entre as vacinas e as diversas estirpes de campo, pois ambos são antigenicamente semelhantes.

A tabela ao lado classifica importantes agentes etiológicos da avicultura entre aqueles com proteção cruzada entre diferentes cepas/sorovares/genótipos:

Dessa forma, entender a característica do agente etiológico quanto à sua diversidade é um ponto chave dentro dos programas de prevenção. Não é realista apresentar programas de vacinação rígidos para serem adotados em todos os casos. As realidades de campo são muito diversas.

É preciso analisar as condições específicas do desafio de doenças em cada local antes de definir o programa de vacinação. Por esse motivo, os programas são apresentados como sugestões, com algumas variações possíveis.

Eduardo Muniz é Gerente de Serviços Técnicos e de pesquisa aplicada da divisão de Aves da Zoetis.

 

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