7 de julho de 2022

 Contextualizando a crise da suinocultura nacional

Ao contextualizarmos em torno da maior crise vivida pela suinocultura brasileira, algo precisa ficar muito claro para todos os interessados em entender o cenário do setor e a situação dos produtores de suínos. Que se tem, de um lado, a suinocultura como atividade do agronegócio e, de outro lado, o produtor dessa proteína animal, em especial, os que atuam no mercado livre, os chamados produtores independentes. Assim como há as empresas integradoras e as cooperativas, com suas unidades frigoríficas que transformam a matéria prima e elaboram produtos de extrema qualidade, com marcas conhecidas internacionalmente.

Mas, por que diferenciar a atividade da suinocultura dos produtores de suínos, afinal, não é o produtor o personagem principal dessa cadeia produtiva? Sim. Ele é. Porém, é preciso perceber que a suinocultura para fins comerciais, como atividade vai muito bem, obrigado! É uma atividade que atende às melhores políticas de sanidade animal, que se tecnificou, se modernizou, que avançou em termos de melhoramento genético e que hoje entrega uma proteína animal da melhor qualidade.

No caso do Paraná, a suinocultura auxiliou o Estado a conquistar seu status sanitário de Zona Livre de Febre Aftosa sem vacinação e de Área Livre de Peste Suína Clássica, graças ao empenho dos produtores, de suas entidades e do Governo do Estado, que através da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) e da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) fez a lição de casa e que por isso pode celebrar, em final de maio passado, o primeiro ano dessa nova certificação internacional, que trouxe avanços nas exportações de carnes do Paraná.

Então, a atividade da suinocultura está em alta. E não se contestam os avanços e as conquistas, seja na questão da sanidade, seja nos números das exportações, seja ainda no aumento do consumo per capta. Não existem mais paradigmas sobre a qualidade e a saudabilidade da carne suína, que se encontra nos melhores restaurantes, dando sabor aos melhores pratos e combinações. Mas, se a atividade da suinocultura vai bem, como é que o produtor de suínos vai mal e está em meio a pior crise da história da suinocultura? Quem, efetivamente, está mal nesse contexto, e quais foram os motivos que o levaram a esse quadro crítico?

Por um tempo, a suinocultura nacional ficou entre a Rússia, que suspendia as importações do Brasil quando os mares congelavam, provocando crises na atividade, e agora a China, que de inexpressivas 5 mil toneladas importadas em 2016 passou para mais de 500 mil toneladas de carne suína importadas do Brasil no ano passado. Esse incremento era esperado, assim como a redução da participação da China no mercado mundial de carnes tão logo conclua os devidos ajustes internos. Esse tipo de leitura do mercado é preciso ser mais bem apurada, para evitar que a cada dez anos a suinocultura passe por violenta crise, como nos anos de 2002, 2012 e agora, 2022.

Por outro lado, temos a drástica elevação dos custos de produção nos últimos tempos, com o preço do milho e do farelo de soja provocando um prejuízo que chegou a cerca de R$ 300 por animal terminado. A conta é matemática e a ciência é exata. Prejuízos e mais prejuízos colocariam o produtor na condição de pagador da conta. E a conta chegou! Quais medidas poderiam ser mencionadas para tentar reverter esse quadro? Dentre elas estão uma linha de Crédito Especial para o Produtor Independente; a Repactuação de dívidas de Custeio e Investimentos já contratados, com menor taxa de Juros e Prazos mais longos; a aquisição de Carne Suína para Programas Federais e estaduais; a disponibilidade de Milho a preços mais acessíveis para o produtor independente; e, no caso do Paraná, que se estenda a redução do ICMS sobre venda interestadual até o final do ano, e não somente até o dia 31/07.

E além de tudo isso, é preciso que o setor trabalhe novamente por uma bandeira tão antiga quanto a suinocultura: a adoção de uma Política de Garantia de Preço Mínimo para a carne suína, a fim de balizar o mercado.

Cesar da Luz é Diretor do Grupo Agro 10, especialista em agronegócio.

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