A compreensão do comportamento dos bovinos leiteiros tem se mostrado cada vez mais importante para aprimorar a saúde, o bem-estar e a eficiência produtiva desses animais. Essas características comportamentais oferecem uma base valiosa para ajustes no manejo e na seleção genética, especialmente em sistemas de produção intensiva, onde os desafios relacionados à interação humano/animal e a adaptação dos bovinos são maiores.
Por que o comportamento importa?
O comportamento de um animal reflete sua resposta a fatores internos e externos, como ambiente, manejo e interação social. A observância desses sinais pode oferecer pistas sobre a saúde e o desempenho produtivo:
Ruminação: Vacas que mantêm bons padrões de ruminação frequentemente apresentam melhor digestão e maior produção leiteira. Alterar esses padrões pode indicar doenças como cetose ou mastite.
Comportamento alimentar: A frequência e a duração das refeições indicam eficiência alimentar. Animais que mastigam melhor os alimentos aproveitam mais os nutrientes, o que contribui para um desempenho mais sustentável.
Expressão de cio: Identificar sinais de cio é essencial para a eficiência reprodutiva. Contudo, vacas de alta produção tendem a apresentar sinais mais discretos, exigindo o uso de tecnologias como sensores para monitoramento.
Integração com a seleção genética
Embora o comportamento animal seja influenciado pelo ambiente, ele também possui base genética. Estudos mostram que traços comportamentais apresentam heritabilidade moderada, permitindo avanços via seleção genética. Isso significa que podemos identificar e selecionar animais que:
São mais adaptáveis ao manejo intensivo: Vacas mais calmas têm menor risco de lesões e estresse, facilitando o trabalho dos colaboradores.
Apresentam maior eficiência alimentar: Animais que aproveitam melhor os alimentos reduzem os custos e os impactos ambientais.
Demonstram melhores padrões reprodutivos: Detectar sinais de cio de forma precisa possibilitam maior controle sobre os índices de prenhez e diminui o intervalo entre partos.
A tecnologia como aliada
A implementação de tecnologias de precisão, como sensores, câmeras e pedômetros, tem revolucionado a capacidade de monitorar comportamentos de forma objetiva e em tempo real. Essas ferramentas possibilitam:
Coleta contínua de dados: Monitorar indicadores como tempo de ruminação, atividade física e padrões alimentares com alta precisão.
Identificação precoce de problemas: Detectar alterações sutis no comportamento que possam indicar doenças ou problemas nutricionais antes de comprometerem a produção.
Eficiência no manejo: Dados comportamentais auxiliam na criação de estratégias personalizadas de manejo, melhorando o desempenho geral do rebanho.
Impactos esperados nos próximos anos
Com a ampliação do uso de tecnologias e a integração de dados comportamentais em índices genéticos, espera-se que nos próximos anos possa haver:
Maior precisão na seleção de animais: Dados comportamentais enriquecerão os programas de seleção, permitindo identificar animais que reúnam características desejáveis de forma mais eficiente.
Redução de perdas: Identificar padrões anormais de comportamento antecipadamente ajudará a evitar perdas produtivas e a melhorar o bem-estar animal.
Sustentabilidade: Animais mais adaptados e produtivos reduzirão o uso de recursos naturais e contribuirão para uma pecuária mais responsável.
A integração entre genética, comportamento e tecnologia está transformando a maneira como gerenciamos e selecionamos bovinos leiteiros. Estudos reforçam que entender e aplicar o conhecimento sobre o comportamento animal é essencial para o futuro da produção leiteira. Ao combinarmos esses avanços, estaremos não apenas maximizando a eficiência e a lucratividade, mas também promovendo o bem-estar animal e a sustentabilidade do setor.
Timotheo Souza Silveira é zootecnista, doutor em Nutrição Animal e Consultor Técnico de Leite da ALTA.