A transparência não é mais um diferencial, é uma premissa no mundo corporativo. De acordo com estudo realizado pela KPMG LLP com 240 Chief Ethics and Compliance Officers (CCOs) em 2023, 73% das organizações estão preparadas para reforçar os níveis de conformidade, pelo aumento das expectativas e do controle regulatório. Considerando todas as transições pelas quais as empresas tiveram que se adaptar ao longo dos anos, essa visão sobre as novas exigências dos stakeholders é crucial para garantir o bom relacionamento, além de fortalecer a confiabilidade da companhia com o mercado.
Nesse contexto, o agronegócio encara um cenário globalizado, em que as práticas sustentáveis passam a guiar o modelo de gestão. Por isso, adotar ações focadas na transparência é indispensável e representa um dos pilares centrais da boa governança. Além disso, na medida em que as demandas da sociedade avançam nessa agenda, observamos uma mudança significativa na expectativa dos stakeholders em relação à responsabilidade ambiental e social, o que exige dos negócios cada vez mais clareza sobre as operações e seus impactos.
Como aplicar na gestão empresarial
A construção de uma relação sólida com clientes, acionistas, investidores, colaboradores e comunidade é crucial para o futuro do negócio. Dessa forma, é essencial que a troca permeie os departamentos e áreas, o que colabora com a motivação e o alinhamento das pessoas aos propósitos da companhia. Esse movimento permite que todos caminhem na mesma direção, além de aumentar o sentimento de pertencimento. Isso, no entanto, só é possível a partir do acesso democrático às informações e de relações de trabalho mais horizontais.
Aproximação com investidores
Grandes cadeias do agronegócio brasileiro como soja, milho, algodão, café e pecuária evoluíram em todas as frentes ESG e têm priorizado a comunicação cada vez mais descomplicada com os diferentes players do mercado, o que demonstra responsabilidade financeira e ética nos negócios. Isso ajuda a aumentar a confiança, o interesse de investidores, além de atrair e reter talentos. Compartilhar resultados, sucessos, desafios e aspirações reforça o compromisso com a responsabilidade corporativa e cria um terreno fértil para novas parcerias. Afinal, ainda que as empresas do setor já estejam desenvolvendo práticas socioambientais bem estruturadas, é fundamental manter e priorizar a governança sustentada em pilares como transparência, ética e integridade para continuar a atrair ainda mais investimentos.
Melhores práticas
Diferentes instrumentos de comunicação, como os Relatórios de Sustentabilidade têm sido adotados pelo agronegócio, além de indicadores de desempenho econômico, social e ambiental, e a apresentação das estratégias para o negócio. Internacionalmente, existem diferentes modelos como o Relatório Integrado e do GRI, que podem ser utilizados para reunir e organizar tais informações e serem disponibilizados de forma consultiva para o público interno e externo. O uso de ferramentas como essas facilita a avaliação do desempenho e a mensuração de resultados de diferentes práticas sustentáveis, possibilitam a visão integrada do negócio e são importantes instrumentos de decisão. Os dados e as métricas dão visibilidade à jornada e também medem impactos sociais e ambientais, facilitam a análise de aspectos econômicos e identificam pontos de melhoria. Outra alternativa é utilizar meios digitais para dialogar e estreitar vínculos, tais como a presença regular nas redes sociais, plataformas online dedicadas à divulgação de práticas sustentáveis da organização, ou até mesmo a promoção de webinars ou eventos virtuais. Isso ajuda a ampliar a abrangência da comunicação e facilita o acesso às informações disponibilizadas pela organização. Além disso, outras iniciativas também são estratégicas para que a organização transmita credibilidade e confiança, construindo assim a sua reputação de forma positiva.
Inovação Tecnológica e Transparência na Cadeia de Suprimentos: GPS, sensores, telemetria e inteligência artificial são grandes aliados do produtor para assegurar a rastreabilidade dos produtos. E essa tem sido uma exigência cada vez maior de mercados globais, que cobram transparência e segurança produtiva de toda a cadeia de suprimentos, especialmente em áreas como alimentos, energia e insumos.
Parcerias Estratégicas e Certificações: estabelecer parcerias estratégicas com organizações reconhecidas na área de sustentabilidade permite troca de informações, aperfeiçoamento dos modelos de produção e governança, além de aumentar a visibilidade da marca. Algumas concedem certificações em áreas como meio ambiente, responsabilidade social e qualidade, com padrões reconhecidos internacionalmente.
Se a sociedade pede práticas cada vez mais sustentáveis das empresas, é importante frisar que sem transparência não há sustentabilidade. E no agronegócio, a cobrança é ainda maior, especialmente nas frentes de meio ambiente e social, considerando o papel estratégico do setor para o futuro, tanto por prover alimentos para uma população (que já ultrapassa 8 bilhões de habitantes), como por mitigar impactos. Essa jornada, contudo, é contínua, e seguimos em busca das melhores e mais recentes práticas de gestão para que esse modelo seja aplicado em mais empresas na cadeia produtiva do campo à mesa. Estamos todos conectados por um futuro mais sustentável.
Mário Ferreira é Head de WholeSale do Rabobank Brasil.