Temos observado o aumento do uso na agricultura brasileira de fertilizantes compostos, derivados do reaproveitamento de resíduos orgânicos. Essa mudança gradual reflete avanços na atitude dos produtores rurais, motivados pela prospecção de práticas sustentáveis que aumentem a produtividade, alinhadas à preocupação com a preservação do meio ambiente.
O lodo proveniente do tratamento de esgotos e efluentes é uma importante fonte para a produção de fertilizante orgânico, embora ainda pouco aproveitada no Brasil. Antes considerados resíduos indesejáveis e passivos ambientais, esses materiais podem ser transformados e valorizados por meio da reciclagem dos nutrientes presentes em sua composição, como nitrogênio, fósforo e potássio. O uso inteligente desses recursos contribui para a redução do impacto das atividades poluidoras e para a promoção da economia circular.
Diversos estudos científicos vêm demonstrando os benefícios desse tipo de composto orgânico. Além de fornecer nutrientes essenciais às plantas, promovem a melhoria da estrutura do solo, aumentando sua capacidade de retenção de água e reduzindo a erosão. Também estimulam a atividade microbiana benéfica, contribuindo para a saúde e fertilidade da terra a longo prazo.
Considerados os potenciais que este tipo de produto oferece, é estimulante constatar que os agricultores estão cada vez mais conscientes sobre a importância da sustentabilidade e da preservação dos recursos naturais. Essa nova visão tem levado a investimentos em tecnologias e práticas agrícolas ecologicamente mais corretas.
Por outro lado, independentemente das políticas públicas e da transformação dos materiais provenientes do tratamento de esgotos em fertilizantes, as empresas que geram resíduos orgânicos industriais e urbanos também podem contribuir significativamente para o aumento da produção desses compostos, ao enviá-los para tratamento e conversão em adubos, em vez de sobrecarregarem os aterros sanitários. Ao direcionarem seus resíduos para as empresas especializadas em compostagem, elas adequam-se legalmente, economizam na implementação de estruturas, reduzem os riscos associados, exercem sua responsabilidade ambiental e melhoram sua reputação e imagem perante a sociedade, clientes e consumidores.
Esgotos e efluentes industriais e agropecuários não tratados ou descartados de maneira inadequada causam poluição do solo e dos corpos d’água, além de exporem as empresas a riscos de sanções legais. Por outro lado, se forem reintroduzidos na economia, com o resíduo do tratamento sendo transformado em produtos que geram empregos e renda, eles contribuirão para um ciclo sustentável completo. Assim, reduz-se a poluição, preservam-se as reservas naturais de matéria-prima e se viabilizam ganhos financeiros e ambientais.
Lívia Baldo é especialista em gestão de resíduos e diretora da Tera Ambiental.