A COP30, que será realizada este mês de novembro na cidade de Belém do Pará, representa um marco histórico não apenas por acontecer em plena Amazônia, mas também por ampliar o debate sobre caminhos concretos para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa e mitigar os impactos da crise climática.
Entre os temas centrais que ganham cada vez mais espaço, destaca-se a economia circular, reconhecida como um dos principais caminhos para transformar o atual modelo de produção e consumo em direção a uma lógica cada vez mais regenerativa, na qual não é mais possível pensar em reduzir ou zerar impactos, é necessário criar alternativas que garantam desenvolvimento socioeconômico associado à recuperar o que já foi perdido.
É sempre importante lembrar que a economia circular deve ser sempre lembrada para além da gestão de resíduos e da reciclagem. Ela propõe a transição de um modelo linear, carbonizado e altamente emissor de gases de efeito estufa para sistemas nos quais os recursos são utilizados de forma mais eficiente, prolongando seu ciclo de vida, regenerando ecossistemas e reduzindo drasticamente a dependência de matérias-primas virgens. Na prática, isso significa redesenhar produtos, processos e cadeias de valor de modo a eliminar desperdícios, priorizar a reutilização, compartilhar bens, investir em reparo e manutenção, ou seja, repensar a forma como produzimos e consumimos.
A presença da temática da economia circular na COP30 é mais que estratégia. É vital para estimular transformações em todas as cadeias produtivas, envolvendo empresas, governos e sociedade civil como corresponsáveis pela transição. Esses são apenas alguns pontos nos quais circularidade e enfrentamento da emergência climática andam de mãos dadas:
- Reduzir emissões: ao prolongar a vida útil de materiais, diminuir a extração de recursos naturais, mudar a matriz energética e incentivar modelos de negócios de compartilhamento, por exemplo, reduz-se a pressão sobre cadeias dependentes intensivamente de carbono, como cimento, aço, alumínio e plásticos.
- Conservar ecossistemas: a extração acelerada de recursos é um dos motores do desmatamento e da degradação socioambiental. A circularidade contribui para a redução da demanda por novos recursos, aliviando a pressão sobre biomas como a Amazônia e os Cerrados e, com isso, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa por queimadas ou decomposição.
- Gerar inovação e oportunidades: novos modelos de negócio, baseados em serviços, logística reversa e inovação em design de produtos, criam oportunidades econômicas e empregos, alinhados com a transição justa e uma economia de baixo carbono
Espera-se que governos, empresas e sociedade civil tragam para Belém propostas concretas de políticas públicas, metas corporativas realistas e programas internacionais que incentivem, em especial, logística reversa e responsabilidade estendida do produtor, novos e ampliados investimentos em pesquisa e inovação, políticas fiscais e de incentivos, além de novas parcerias internacionais para apoiar países em desenvolvimento na implementação de infraestrutura circular, especialmente no tratamento de resíduos e no design de produtos sustentáveis e descarbonização.
Edson Grandisoli é Coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela USP e Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP).




