Setor da carne avança, mas continua sem rastrear o gado de áreas desmatadas

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O Radar Verde 2025, índice independente que monitora o compromisso do setor da carne com cadeias livres de desmatamento, revelou que apenas 12 frigoríficos e três redes varejistas conseguem comprovar alto controle das fazendas de engorda, conhecidas como fornecedoras diretas. Nenhuma das 151 empresas analisadas apresentou comprovação de rastreabilidade das fazendas de cria e recria, o elo mais vulnerável à entrada de gado oriundo de áreas desmatadas. Entre os frigoríficos com melhor desempenho estão Marfrig, Masterboi e JBS, que juntas respondem por 41% da capacidade de abate da Amazônia Legal em 2024. No varejo, GPA, Assaí e Carrefour lideram o ranking com base em dados públicos e políticas de controle.

A avaliação considerou políticas declaradas, auditorias independentes e evidências públicas, cruzando informações sobre Cadastro Ambiental Rural (CAR), regularidade fundiária, listas de fornecedores bloqueados e critérios de desmatamento adotados por cada empresa.

Auditorias e divulgação pública triplicam no setor – Apesar da falta de controle total, o relatório indica avanços em transparência e acesso a informações. O número de frigoríficos que tornaram públicas suas auditorias independentes subiu de 13 em 2024 para 41 em 2025, cobrindo 57% da capacidade de abate da Amazônia, contra 37% no ano anterior.

Empresas como Plena Alimentos, Frigobom, Naturafrig e Frialto começaram a divulgar critérios socioambientais mais detalhados em seus sites, e a própria Plena respondeu voluntariamente ao questionário do Radar Verde pelo segundo ano consecutivo — gesto considerado um sinal de maior abertura, ainda que não garanta eficácia das políticas.

Segundo Alexandre Mansur, diretor do Radar Verde, as companhias “já entendem a importância da transparência, mas ainda precisam transformar compromissos em prática para reduzir riscos ambientais e comerciais”. Para Paulo Barreto, pesquisador do Imazon, a ausência de rastreabilidade nas fazendas indiretas mantém a pecuária brasileira exposta ao desmatamento ilegal e às pressões do mercado internacional.

O Radar Verde combina análise documental, auditorias e dados oficiais para medir o grau de compromisso ambiental de frigoríficos e redes varejistas. Suas informações são usadas por empresas, investidores e bancos para guiar decisões de compra, crédito e investimento mais responsáveis, contribuindo para uma cadeia da carne mais sustentável e transparente.