4 de julho de 2024

MS: expedição Confina Brasil e os ganhos da ILP

Comum nas fazendas do estado, a Integração Lavoura-Pecuária tem garantido pasto de qualidade, mesmo em momento de grande estiagem. Outro destaque no estado são as diferentes estratégias dos proprietários para produzirem gado de qualidade com melhor rentabilidade

O Confina Brasil finalizou sua primeira rota visitando confinamentos do Mato Grosso do Sul. Passando por Campo Grande, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de Mato Grosso e Sonora, os técnicos da Scot Consultoria encontraram propriedades com diferentes estratégias de gestão. Começando a semana, antes de pisarem nas fazendas, a equipe fez uma visita à Embrapa Pecuária de Corte, em Campo Grande, para entender melhor sobre o sistema de ILP da região e os selos de carne carbono neutro e carne baixo carbono. “Fomos recebidos pelo chefe geral e pesquisador Antônio Nascimento Ferreira Rosa, que está na Embrapa há quase 50 anos. Ele nos contou como a ciência contribuiu e continua contribuindo para transformar a pecuária nos últimos 30 anos, ajudando o Brasil a deixar de ser um importador de alimentos para ser o maior exportador do mundo, vendendo apenas 25% do que produz e conservando 65% da vegetação nativa, coisa que nenhum outro país consegue fazer”, comenta a equipe de consultores da Scot.

Nos confinamentos, são notáveis os ganhos que os produtores que apostaram na Integração Lavoura-Pecuária tiveram, especialmente durante este período de estiagem, quando os pastos ficam mais secos. Na Fazenda Giruá, em Rio Verde de Mato Grosso, por exemplo, metade de seus hectares são destinados à ILP, plantando soja e depois capim, e às vezes consorciando milho e capim. Nessa integração, o capim é semeado após a emergência da soja, nas entrelinhas, possibilitando antecipar a formação de pastagem sem reduzir a produtividade do grão. Assim, o capim se desenvolve antes da seca e é formado para receber o gado meses depois. “É nítida a diferença de produtividade do capim quando eles trabalham a soja antes”, comentam os consultores. Outro confinamento que se destaca pelo sistema de Integração Lavoura-Pecuária também em Rio Verde de Mato Grosso é a Fazenda Rincão, que mesmo em meio a pouca ou quase nenhuma chuva, em uma época do ano em que os pastos já estão debilitados, está com boa disponibilidade de forragem, rotacionando o capim com soja. Não muito distante, em São Gabriel D’Oeste, a Agropecuária Palmares também se beneficia da ILP com ganhos de produtividade da oleaginosa, semeada em uma terra um pouco mais arenosa. A pecuária foi iniciada na propriedade justamente por conta da integração, sendo o confinamento a solução encontrada para tirar animais das áreas de rotação entre gado e agricultura.

Diferentes estratégias de confinamento em busca de maior rentabilidade
Apostar no boitel ou no ciclo completo, mesclar as duas opções ou ter parte em boitel e parte gado próprio são diferentes estratégias vistas na última semana pela equipe do Confina Brasil, visitando as propriedades do MS. Sendo o estado um grande incentivador da produção de carne de qualidade, com os diferentes tipos de bonificações oferecidas tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada, os pecuaristas da região buscam soluções mais acessíveis para uma entrega de qualidade e com maior rentabilidade. Um exemplo de sucesso vem do Confinamento Milena, localizado em Sonora, que atua tanto com gado próprio quanto com boitel. Como muitos bovinos são trazidos do Pantanal e naquela região os sistemas extensivos são predominantes, o gado muitas vezes tem pouco contato com o cocho, aumentando o refugo no confinamento e atrapalhando a nutrição e o ganho de peso.

Para evitar esse problema, os produtores preparam uma dieta de adaptação diferente da convencional. Normalmente, na dieta de adaptação, utiliza-se silagem de capim ou outro volumoso de alta qualidade para garantir a adequada ingestão de fibras e facilitar a transição alimentar. No Confinamento Milena, a estratégia é utilizar feno. Como os bovinos já tiveram contato com capim seco em algum momento da vida, o refugo é reduzido consideravelmente, adaptando o gado de forma mais rápida.  Outra estratégia interessante foi observada na Fazenda Giruá, de Rio Verde do Mato Grosso, que aposta em somente um giro de gado no ano. Nesse confinamento, não fazem a cria, somente recria e engorda, mantendo o gado a pasto após a integração com a soja por cerca de seis meses e depois entrando com esses bovinos no confinamento.

Com um giro ao ano, os produtores têm pouca oscilação dos números e o ambiente extremamente controlado em relação à gestão de compra e negociação com os frigoríficos. Os gestores já sabem quantas cabeças vão  comprar, quanto de gado vão colocar no pasto, e quantos deles serão engordados e abatidos. Em São Gabriel d’Oeste, o Confinamento Guarujá aposta no uso intensivo de tecnologia e automação, incluindo o investimento em softwares de controle do gado e de acompanhamento climático, além de automatizar a fábrica de ração. A propriedade conta com uma estação meteorológica automática capaz de alertar os gestores do confinamento sobre ondas de calor, possibilitando que a dieta do gado seja alterada em determinados períodos do ano para diminuir a temperatura ruminal e melhorando o bem-estar dos bovinos, que continuam comendo e engordando. Outro ponto de destaque na estratégia do Confinamento Guarujá é o controle alimentar. Durante os seis tratos diários, os caminhões carregados têm um sistema de leitura de tags por baia, que calculam o que será oferecido em cada uma dependendo da condição do lote. No último trato do dia, o caminhão corrige a quantidade se houve excesso ou defasagem de nutrientes. O sistema é informado da quantidade de trato despejado em cada baia e o número é automaticamente lançado no estoque, gerando um cálculo de custo por cada boi na baia.

Segunda rota do Confina Brasil começa no Mato Grosso
No final da semana, a expedição atravessou a fronteira, chegando em Mato Grosso para as primeiras visitas no estado. Em Itiquira, na Agropecuária Rio de Areia, os consultores puderam ver a reformulação pela qual a propriedade está passando: estão sendo construídas estruturas para receber biodigestores, lagoas de estabilização e está havendo a ampliação das baias de engorda com plano de que sejam cobertas com placas solares.  A propriedade já é autossuficiente em energia e também na alimentação do gado, tanto produzindo grãos quanto realizando 100% da silagem na própria fazenda. Hoje os produtores já trabalham com a cria e têm como objetivo selecionar as matrizes, criando um plantel ainda maior para que a reposição siga sendo formada exclusivamente a partir do próprio gado. A última visita da semana foi na Fazenda Verde, em Rondonópolis, reconhecida como uma das fazendas mais sustentáveis do Brasil. Com uma área de reserva ambiental de 3.600 hectares que funciona como um parque, também explora sítios arqueológicos, contribuindo para a conservação e pesquisa histórica. A sustentabilidade é um ponto forte, evidenciado por prêmios e práticas inovadoras, que incluem a integração total de suas operações agrícolas e pecuárias. Na primeira semana de julho, os técnicos da Scot Consultoria seguem na estrada passando por Cáceres, Pontes e Lacerda, Vila Bela de Santíssima Trindade, Campos de Júlio e Sapezal, chegando em Rondônia no final de semana.

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