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Brasil precisa negociar como cadeia para atender às novas exigências da pecuária global

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Especialistas apontam que produção sustentável, união setorial e diálogo sobre normas como a EUDR serão determinantes para manter e expandir mercados.

 

As pressões do mercado internacional têm colocado a pecuária brasileira diante de um desafio estratégico: alinhar-se às novas regras globais sem fragmentar a cadeia produtiva. Esse foi o foco do evento online “Diálogo Inclusivo – Sustentabilidade na Pecuária”, realizado pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, em parceria com a FAESP e a Fundação Solidaridad, no dia 6 de novembro.

O encontro debateu como o Brasil, segundo maior produtor de carne bovina do mundo, deve estruturar suas negociações com parceiros internacionais. A avaliação comum entre os especialistas é que as demandas crescentes — especialmente em torno de sustentabilidade, rastreabilidade e desmatamento — exigem posicionamento coordenado.

Como destacou Michelle Borges, gerente executiva da Mesa, “a Mesa está aqui para dialogar como cadeia. Levar o Brasil ao papel de protagonista e fazer com que essa pecuária sustentável seja aliada do clima e da segurança alimentar”. Borges relembrou que, às vésperas da COP 30, a entidade promoveu conversas com diversos atores do setor e consolidou um documento com propostas para posicionar a pecuária como atividade de impacto positivo global.

Para João Paulo Franco, líder de produção animal da CNA, a união dos segmentos da cadeia é essencial para enfrentar exigências de compradores externos. Ele defendeu que a pecuária apresente suas pautas de forma integrada. “Precisamos sentar à mesa para fazer a negociação e a gente precisa ir como cadeia, como corrente, e não como elo, pois o elo perde força de barganha quando vai sozinho”, afirmou.

Entre os principais pontos discutidos está a lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR), apresentada por Thiago Rocha, assessor técnico do Sistema FAESP/SENAR-SP. A legislação, que proibirá a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020, deverá impactar todos os países fornecedores, inclusive o Brasil.

Franco ponderou que a regra pode gerar ajustes ao longo do tempo, lembrando que situações semelhantes já ocorreram em outros mercados. “A China tinha uma demanda por carne vinda de animais precoces e colocou um prêmio para isso. Com o passar do tempo, o mercado se adequou a esse tipo de produção”, disse.

Ele destacou ainda que a adaptação não será uniforme, já que a legislação brasileira permite desmatamento em áreas legais. Mesmo assim, os produtos continuariam encontrando espaço fora da Europa. “Cerca de 70% dos animais abatidos ficam no mercado interno, 30% são exportados e uma parte disso vai para a Europa. Cada país tem sua regra, a China olha de um jeito, a Europa de outro, os Emirados Árabes de outro”, comentou o representante da CNA.

O debate reforçou que, diante das novas exigências de sustentabilidade e da ampliação das barreiras técnicas, a pecuária brasileira precisa intensificar o diálogo interno e externo, consolidando visão de cadeia para ampliar competitividade e garantir previsibilidade aos produtores.

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