Setor pede apoio governamental para mitigar efeitos da queda de preços e fortalecer competitividade da cadeia têxtil nacional.
Para encerrar o calendário de 2025, a Câmara Setorial do Algodão reuniu lideranças da cadeia produtiva para discutir o desempenho da safra 2024/25, os desafios de mercado e a estratégia para 2026. O encontro, coordenado pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gustavo Piccoli, colocou em evidência duas forças que definirão o próximo ciclo: a necessidade de cautela na produção e a expectativa de expansão das exportações brasileiras.
Piccoli defendeu uma articulação mais firme entre governo e setor privado para ampliar o consumo de algodão no país e reposicionar a fibra natural frente ao avanço das sintéticas. “O crescimento do consumo de algodão depende de políticas públicas que valorizem a fibra natural. Essa pauta precisa avançar simultaneamente no mercado interno e no internacional”, afirmou.
A Abrapa reforçou ainda a urgência de instrumentos de proteção de renda. O presidente destacou o acesso ao Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) ou a uma linha específica do BNDES, que permita ao produtor evitar a venda forçada em momentos de preços deprimidos.
O diretor-executivo da entidade, Marcio Portocarrero, acrescentou que a combinação de juros altos, crédito restrito e aumento dos estoques globais exige resposta rápida. Segundo ele, “a implementação desses programas permitiria suavizar perdas econômicas, assegurar liquidez e preservar a capacidade de investimento”.
As estimativas para 2026 apontam retração da área e da produção nacional. A Abrapa projeta queda de 5,5% na área plantada, com produção de 3,829 milhões de toneladas, 9,9% abaixo da safra anterior. O Mato Grosso, maior produtor do país, prevê redução de 10%, segundo Orcival Guimarães (Ampa). Na Bahia, a presidente da Abapa, Alessandra Zanotto, estima recuo de 2,5%, especialmente nas áreas sem irrigação.
Apesar do ajuste produtivo, o Brasil deve reforçar sua presença no mercado externo. O diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, informou que o país deve alcançar 33% de participação nas exportações globais em 2026, com 3,1 milhões de toneladas — mesmo diante da queda de preços causada pelo excesso de oferta mundial.
A China segue como principal destino, com 20% do volume embarcado, enquanto a Índia ganhou relevância ao atingir 17% das compras entre julho e novembro. Duarte também destacou que a parceria com a ApexBrasil ampliou a receita das exportações: “Saltamos de US$ 2,6 bilhões em 2019 para US$ 5,2 bilhões em 2024”.
No campo industrial, o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, alertou para a perda de competitividade frente ao fio importado da China e para o avanço das fibras sintéticas, que passaram de 37% para 56% do consumo da indústria desde 2005. Ele defendeu medidas para reduzir assimetrias e uma estratégia integrada de comunicação, sustentabilidade e articulação institucional.
A próxima reunião da Câmara Setorial está agendada para 23 de março de 2026, dando continuidade ao debate sobre competitividade, consumo doméstico e consolidação internacional da pluma brasileira.


