Uma empresa do GRUPO PUBLIQUE

Surto de esporotricose felina preocupa autoridades e ameaça saúde pública

Compartilhe:

Doença fúngica altamente transmissível já atingiu todos os estados e tem provocado mortes de humanos e milhares de casos em animais.

 

O avanço da esporotricose felina no Brasil acendeu o alerta em órgãos de saúde e entre médicos-veterinários. Causada pelo fungo Sporothrix spp., a doença provoca lesões graves em gatos e pode ser transmitida a cães e humanos. Considerada uma zoonose de alto risco, a infecção já foi registrada em todos os estados brasileiros e resultou em uma morte humana confirmada em 2025.

De acordo com o professor Carlos Brunner, titular de Medicina Veterinária da Universidade Paulista (UNIP), o cenário é preocupante. “É um grave problema de saúde pública. O fungo já se tropicalizou e gerou uma espécie 100% nacional, a Sporothrix brasiliensis, que é muito mais transmissível e já está se espalhando para fora do Brasil.”

Brunner é referência em eletroquimioterapia, técnica que utiliza pulsos elétricos no tratamento de doenças. O pesquisador desenvolveu um equipamento inédito que está sendo testado em clínicas e universidades, como a PUC de Curitiba e a Fundação Fiocruz, para tratar casos resistentes de esporotricose.

A doença causa nódulos e feridas ulceradas que não cicatrizam facilmente e se espalham pelo corpo. Em humanos, a transmissão ocorre pelo contato com gatos infectados, geralmente por meio de arranhões. Em pacientes com baixa imunidade, a infecção pode evoluir para órgãos internos e até o sistema nervoso central, sendo potencialmente fatal.

O surto atingiu níveis alarmantes em São Paulo e no Amazonas. A capital paulista registrou mais de 3.300 animais infectados em 2024. Já o Amazonas confirmou 1.469 casos em humanos e 3.559 em animais até setembro de 2025, com 1 morte e 1.660 eutanásias de gatos.

Na clínica da veterinária Adriana Queiroz, em Manaus, a demanda por tratamento cresceu tanto que foi preciso montar uma ala exclusiva para os felinos infectados. “Tenho clientes que chegaram desesperados. Crianças apegadas nos bichinhos e com medo de precisar fazer eutanásia”, relata.

A especialista tem usado a técnica dos pulsos elétricos, que já demonstra resultados positivos. “O uso do eletropulso é promissor, visto que muitos animais não respondem ao tratamento convencional oral. Com a técnica, temos observado melhora significativa.”

O tratamento tradicional é longo e caro, chegando a R$ 500 por mês, o que inviabiliza o manejo em ONGs e tutores de baixa renda. Em São Paulo, a veterinária Susana Pastor Pazini, fundadora da ONG Esporinhos, ressalta que “é muito triste ver o que está acontecendo. O número de animais contaminados está crescendo e as pessoas estão com medo, até mesmo quem costuma cuidar dos animais de rua.”

A ONG surgiu em 2023, após o resgate de uma colônia de 60 gatos com suspeita da doença no bairro do Ipiranga. Desde então, o projeto já tratou mais de 200 animais, com 108 curas e 25 adoções. A entidade também testa a técnica de Brunner. “Com poucas aplicações eles já ficam curados. O custo é menor e o tratamento mais rápido”, afirma Susana, que reforça: “A eutanásia não é a solução. É preciso alertar a população e incentivar o controle de natalidade. Gatos não devem sair de casa neste momento.”

Brunner explica que a nova tecnologia cria poros na pele que matam o fungo sem afetar o tecido do animal. “Os poros formam-se e se fecham nas células normais, mas permanecem abertos nas dos fungos, destruindo-os. Assim, matamos o fungo e preservamos o tecido do gato.”

O método reduz o tempo de tratamento e o número de manipulações, sendo especialmente útil em gatos ferais — agressivos e de difícil manejo. “Com essa técnica, eles podem ser recolhidos, tratados com uma única manipulação ao longo de três meses e colocados para adoção”, conclui Brunner.

Encontre na AgroRevenda