A cólica equina é uma das condições que mais afetam os equinos. Por definição o termo faz referência à dor na região abdominal, ocasionada por distúrbios digestivos. Estudos indicam que cerca de 10% dos animais apresentarão o problema em algum momento da vida. Constitui-se na doença mais comum e severa, sendo a causa de morte mais importante em equinos no mundo, responsável por pelo menos 28% dos óbitos.
A incidência está relacionada às peculiaridades anatômicas do animal. “A capacidade volumétrica do estômago dos equinos é pequena se comparada com outras espécies. Desta forma, uma grande quantidade de alimento ou alimentos de baixa qualidade afetam a digestibilidade deixando o animal mais predisposto ao quadro de cólica”, explica Camila Senna, médica-veterinária e coordenadora técnica de equinos da Ceva Saúde Animal. Além disso, os equinos apresentam maior sensibilidade a alterações na rotina ambiental ou alimentar. Situações em que existe escassez de água, estresse causado devido ao transporte, nutrição inadequada, mudanças no manejo diário e vermes são alguns dos fatores que também contribuem para o surgimento do problema.
Os tipos de cólica são categorizados de acordo com suas causas primárias, sendo: estomacais, de intestino delgado ou de intestino grosso, por compactação ou impactação alimentar, por desidratação, por obstrução estrangulante, por hérnias diafragmática, inguinal ou inguinoescrotal e umbilical, por obstrução funcional ou ileoparalítico, cólica espasmódica, por deslocamento de colón esquerdo ou direito, enterolitíases e sablose. “As cólicas estomacais, por exemplo, acontecem devido à capacidade volumétrica do estômago ser menor quando comparada com outras espécies. Na junção esofagogástrica a válvula cárdia, de musculatura muito desenvolvida, permite apenas a passagem de gases e fluidos do esôfago para estômago, levando à ausência de capacidade de regurgitar. Já as intestinais estão associadas a fatores que afetam a digestibilidade, como problemas de mastigação, presença de parasitas e velocidade do trânsito digestivo”, detalha a profissional.
A presença de estruturas fisiológicas como o espaço nefro-esplênico e os dobramentos naturais, as flexuras esternal, diafragmática e pélvica possibilitam situações favoráveis ao acúmulo de gases e, consequentemente, torções. Uma das formas mais graves de cólica é a que envolve a torção de cólon, que ocorre quando uma porção do intestino torce sobre si mesma, causando obstrução do fluxo sanguíneo e necrose tecidual. A obstrução de intestino delgado com estrangulamento vascular (encarceramento) ocasiona a morte em cerca de 70% dos equinos acometidos. Nestes casos, é necessária a intervenção cirúrgica para reverter o quadro.
“No caso de torção intestinal a intervenção precisa ser rápida para aumentar as chances de sobrevida do animal. Mas, é importante compreender que todo caso de cólica é considerado uma emergência e o equino deve ser avaliado pelo médico-veterinário que indicará o melhor tratamento”, ressalta Camila. Equinos com episódios anteriores possuem maior risco de serem acometidos novamente pelo problema, provavelmente por existir lesão no trato gastrointestinal ou por algum tipo de sequela, como aderências originárias de cirurgias prévias, presentes no trato gastrintestinal. Desta forma, é necessária atenção aos sinais de cólica em equinos, que podem variar de intensidade e incluem: agitação e inquietação, pawing (cavar o solo com os cascos dianteiros), olhar para o flanco, sudorese excessiva, rolar excessivo, redução ou ausência de eliminação de fezes ou urina, e frequência cardíaca e respiratória aumentadas.
O diagnóstico preciso requer uma avaliação minuciosa e envolve histórico clínico detalhado e, em alguns casos, exames complementares, como ultrassonografia abdominal, hemograma, bioquímico, concentrações plasmáticas de proteínas totais, fibrinogênio e lactato, a quantificação eletrolítica, análise de gases sanguíneos, avaliação de líquido peritoneal. O tratamento da cólica equina varia e depende da causa subjacente e da gravidade do quadro clínico. O mais usual é o uso de analgésicos e anti-inflamatórios para aliviar a dor e o desconforto do animal. Além disso, a fluidoterapia costuma ser indicada para corrigir a desidratação, melhorar a perfusão tecidual e auxiliar na resolução de obstruções intestinais.
Embora nem sempre seja possível prevenir completamente a cólica equina, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco, como fornecer uma dieta equilibrada, rica em fibras e com ingestão regular de água fresca, evitar mudanças repentinas na dieta ou no ambiente, implementar um programa regular de controle de parasitas e manter um programa de exercícios consistente e adequado. A prevenção desempenha um papel crucial na minimização do risco de cólica equina e na promoção da saúde e bem-estar dos equinos.