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Pesquisadores identificam substância inédita com potencial para novo herbicida biológico

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Equipe da UFMG, Embrapa e USDA encontra metabólito de fungo endofítico com ação fitotóxica e antifúngica superior a pesticidas sintéticos.

 

Uma pesquisa conduzida por cientistas da UFMG, Embrapa Meio Ambiente e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) identificou um conjunto de metabólitos produzidos por um fungo endofítico que podem abrir caminho para uma nova geração de bioinsumos agrícolas. Entre os compostos analisados, um deles — batizado como “composto 2” — revelou desempenho inédito na literatura científica e mostrou ação herbicida e antifúngica comparável, ou até superior, à de pesticidas sintéticos já presentes no mercado.

O fungo responsável pelos metabólitos, identificado como Fusarium sp. UFMGCB 15449, foi isolado de uma planta medicinal do gênero Piper coletada no Parque Estadual da Floresta do Rio Doce (MG). A caracterização envolveu análises morfológicas e sequenciamento de DNA, confirmando o gênero, mas não a espécie — uma dificuldade comum devido à complexidade taxonômica do grupo. Apesar disso, o material genético obtido foi suficiente para avançar nos testes.

A equipe isolou três substâncias: anidrofusarubina, javanicina e o composto 2. Em ensaios realizados com sementes de alface e grama-de-bent, todas apresentaram forte atividade fitotóxica, inibindo totalmente a germinação em concentração de 1 mg/mL. O resultado foi equivalente ao herbicida sintético acifluorfeno, usado como padrão de comparação. Em testes com lentilha-d’água, referência na indústria de pesticidas para avaliação toxicológica, os compostos exibiram valores de IC50 inferiores aos de produtos consagrados, como glifosato e clomazona.

A atividade antifúngica também chamou atenção. Contra o patógeno Colletotrichum fragariae, causador de doenças em diversas culturas, o composto 2 formou zonas de inibição maiores que fungicidas naturais como carvacrol e timol, indicando um potencial ainda mais amplo de aplicação. Segundo a pesquisadora Sonia Queiroz, da Embrapa, “os testes também foram animadores”, reforçando o interesse na continuidade das análises.

Os resultados ganham relevância em um contexto global de busca por alternativas sustentáveis aos defensivos sintéticos, utilizados em larga escala desde os anos 1940. Além dos impactos ambientais e toxicológicos, o uso prolongado desses produtos acelerou a resistência de plantas daninhas, insetos e patógenos — um dos maiores desafios atuais da produção agrícola. Nesse cenário, os bioinsumos surgem como instrumentos estratégicos. “Esses microrganismos endofíticos são um reservatório promissor e ainda pouco explorado de metabólitos bioativos”, avalia o professor Luiz Henrique Rosa, da UFMG.

A pesquisa também destaca a biodiversidade brasileira como fonte de inovação. Ambientes tropicais guardam microrganismos ainda desconhecidos, capazes de produzir moléculas únicas — como o composto 2. No caso do Fusarium isolado em Minas Gerais, os cientistas veem potencial para o desenvolvimento de novos herbicidas e fungicidas comerciais, embora etapas adicionais ainda sejam necessárias, como estudos toxicológicos, validação em campo e ajustes estruturais das moléculas para maior eficácia.

O trabalho abre novas frentes de investigação, incluindo a avaliação do fenômeno de hormese, observado em baixas doses, quando o composto estimulou o crescimento vegetal. A linha de pesquisa pode ampliar o uso potencial da substância, tanto no controle de plantas daninhas quanto em aplicações diferenciadas. “Estamos diante de uma fronteira científica em que microrganismos invisíveis podem se transformar em aliados estratégicos da agricultura”, concluem os autores.

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