A importância de avaliação de investimentos dentro e fora da porteira.
A produtividade média brasileira aumentou significativamente nos 20 últimos anos, com um crescimento de 27% para a soja, principal cultura em termos de área produzida no Brasil. Tal resultado foi atingido devido a diversos fatores e intervenções que permearam toda a cadeia produtiva. Houve um incremento na adoção de tecnologias por parte dos produtores rurais, indústrias investindo fortemente em P & D para criação de novos produtos e soluções, além do aprimoramento do sistema de financiamento, permitindo maiores investimentos em práticas que aumentam a eficiência da produção agropecuária dentro da porteira.
Apesar do desenvolvimento agrícola brasileiro, a safra atual trouxe desafios para produtores, com volatilidade de preços das commodities, destaque para soja, com variação de R$ 77,50/sc entre janeiro de 2020 e R$ 116,93/sc em janeiro de 2024, tendo atingido a máxima histórica em março de 2022 (R$ 192,00/sc), além da taxa de câmbio desfavorável no comparativo real x dólar, impactando diretamente no custo de insumos, e consequentemente da produção.
Com o crescimento populacional global projetado para alcançar nove bilhões de pessoas até 2050, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a necessidade de incremento na produção de alimentos é um desafio amplamente conhecido pelo setor. Nesse cenário, o aumento da produtividade agrícola emerge como um pilar fundamental, fazendo com que uma maior produção seja realizada em menor área, tendo como consequência uma maior sustentabilidade ambiental, otimizando o uso de recursos naturais.
Além do ganho ambiental, é válido destacar que tais ações ajudam o produtor a usar seus recursos de forma mais inteligente, trazendo ganhos para toda a cadeia. O aumento de produtividade vai além do investimento em insumos agrícolas, podendo ser alcançado através de melhores práticas de plantio e colheita, investimentos em modelos de irrigação e capacidade de armazenagem, utilização de sistemas e ferramentas de gestão, contratação de seguros agrícolas (somente 10% da área agrícola é assegurada, enquanto nos EUA o índice é de 60%) e diversas outras iniciativas que, além de garantir uma maior produtividade, protegem os produtores rurais à exposição a riscos climáticos ou demais
Intempéries que possam enfrentar na safra
Nos últimos anos, observou-se um aumento significativo nos preços das terras no Brasil, como é o caso da Regional Centro de Mato Grosso, com uma variação de 118% em cinco 5 anos, saindo de uma média de R$25 mil/hectare em 2018 para R$54 mil/hectare em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA/INCRA). Nesse cenário, alguns produtores rurais buscaram expandir suas operações através de empréstimos concedidos por agentes do setor agropecuário, com o objetivo de arrendar ou adquirir terras.
No entanto, em certos casos, essa estratégia tem levado à negligência na avaliação de oportunidades para aumentar a produtividade e aprimorar as práticas operacionais dentro da porteira. Vale salientar que, além do incremento de produtividade em si, os produtores rurais devem possuir controle sobre os custos envolvidos (diretos e indiretos), para mensuração dos ganhos gerais obtidos na safra e mapeamento de oportunidades de melhorias na operação.
Apesar da importância de se buscar aumento de produtividade para maior rentabilidade, outros fatores são de suma importância para um bom desempenho da operação: avaliação de condições comerciais na compra de insumos e na venda da produção, utilização de serviços e assistência técnica de empresas fornecedoras, realização de operações estruturadas, como barter ou hedge financeiro, avaliação de culturas de melhores custo/benefício na sua região de atuação, além de demais práticas envolvendo as operações dentro e fora da porteira, que irão garantir um bom resultado ao final do exercício.
Além dos temas citados acima, em que o produtor tem possibilidade de definir melhores estratégias hoje, novas formas de aumentar a rentabilidade da fazenda estão sendo discutidas em âmbito global e, em um futuro, deverão ser incorporadas em larga escala. Alguns exemplos que podemos citar são o mercado de carbono, que se desenvolve e aumenta a cada dia, e a precificação de soja por teor de proteína, semelhante ao que é de praxe no setor sucroalcooleiro no Brasil, a partir do ATR da cana-de-açúcar.
- Pedro Galvão Caserta é Administrador de Empresas e Consultor Associado na ‘Markestrat Group.
- Eduardo Garcia Filho é Administrador de Empresas e Consultor Associado na Markestrat Group.