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Indústria de alimentos prevê crescimento no food service e alerta para desafios

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Setor mantém expansão acima do varejo, porém sofre impacto da inflação fora do lar, retração no tráfego, custos elevados e redirecionamento da renda das famílias para gastos com apostas e dívidas.

 

O mercado de alimentação fora do lar segue ganhando relevância para a indústria de alimentos, mas enfrenta um ambiente econômico mais complexo e consumidores mais cautelosos. Dados apresentados pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) durante o 18º Congresso de Food Service mostram que, embora o crescimento nominal permaneça superior ao do varejo, o setor opera sob fortes pressões que limitam sua expansão real.

A projeção da ABIA para 2025 aponta vendas de R$ 287,1 bilhões, alta nominal de 10% frente a 2024. A participação do food service na produção da indústria deve chegar a 28,3%, pequena evolução em relação aos anos anteriores. Em termos reais, descontada a inflação, o avanço estimado é de apenas 2,5% — sinal de que o setor cresce, mas sem o vigor observado no período pós-pandemia.

Ao apresentar o panorama no Congresso, Joicelena Fernandes, coordenadora do Comitê de Food Service da ABIA e diretora da Seara Alimentos, ressaltou a necessidade de foco em estratégias de relacionamento e conhecimento de público. “Ainda que em ritmo moderado, é importante que as vendas do food service continuem a crescer, mas é preciso que as indústrias e operadores criem estratégias para que o mercado evolua”, afirmou. Para ela, entender melhor quem frequenta os estabelecimentos é essencial para desenvolver “ferramentas, alavancas e processos que façam o mercado prosperar”.

Entre os fatores que travam a expansão estão a inflação dos alimentos fora do lar, que acumula 8,24%, bem acima do IPCA, e encarece o custo dos pratos, reduzindo a frequência do consumidor. “A inflação de alimentos é extremamente desafiadora porque impacta diretamente no custo do prato […] e, por consequência, afeta o número de visitas”, explicou Joicelena.

O quadro se agrava com câmbio elevado, juros altos e dificuldades na contratação de mão de obra. Soma-se a isso um fenômeno que ganhou espaço no debate: o impacto das apostas (“bets”) sobre o orçamento das famílias. Segundo o consultor Marcos Gouvêa, “mensalmente são gastos R$ 22 bilhões em apostas nas bets oficiais. Esse valor se aproxima de R$ 300 bilhões por ano, que estão sendo gastos em bets e saem do consumo, do food service e dos alimentos”. Ele reforça a assimetria tributária: “Isso cria uma situação esdrúxula, porque as bets são menos taxadas que o comércio e o food service”.

Apesar das pressões, alguns indicadores seguem positivos. A participação da alimentação fora do lar nos gastos do consumidor cresce lentamente: foi de 29,4% em 2024 e deve chegar a 30,5% em 2026. No terceiro trimestre deste ano, porém, o tráfego nos estabelecimentos caiu 5%, ao passo que o tíquete médio subiu 7% e o gasto total, 2%.

Na abertura do Congresso, o presidente executivo da ABIA, João Dornellas, destacou a evolução do setor ao longo de 18 anos. “As indústrias associadas à ABIA se estruturaram e criaram equipes especializadas para desenvolver estratégias, produtos e serviços dedicados ao food service”, afirmou. Ele observou que a indústria hoje ocupa todos os momentos de consumo — do café da manhã às celebrações — e que o setor traduz tradição, criatividade, sabor e inovação.

Para 2026, a ABIA projeta um crescimento nominal entre 8% e 9% no food service. Não será um ciclo de expansão ampla, mas de disputa por competitividade. Segundo os especialistas, vencerá quem conseguir unir rentabilidade, eficiência e capacidade de adaptação em um mercado cada vez mais digitalizado e pressionado por custos.

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