12 de julho de 2024

Confina Brasil vê terminação e recria intensiva a pasto em MT

Fazendas estão adotando sistemas e práticas para otimizar a produção pecuária e agrícola, destacando-se pela adaptação às condições locais do clima, além de utilizarem resíduos da agricultura, sobretudo a lavoura de algodão, como base da dieta dos bovinos

A equipe do Confina Brasil iniciou a segunda rota da expedição pelo Estado do Mato Grosso. Os técnicos da Scot Consultoria passaram, entre os dias 1 e 5 de julho, por Cáceres, Pontes e Lacerda, Vila Bela de Santíssima Trindade, Campos de Júlio e Sapezal. Entre os destaques das propriedades visitadas nesse trecho estão a adoção de práticas de terminação intensiva a pasto (TIP) e recria intensiva a pasto (RIP), e a utilização estratégica dos coprodutos da agricultura, principalmente do algodão, e dos dejetos gerados nos confinamentos, que são tratados e reutilizados na fertilização das lavouras e pastagens. “As estratégias adotadas pelos confinamentos no Mato Grosso refletem não apenas um esforço para potencializar a produtividade, mas também uma adaptação inteligente às condições e desafios específicos da região, gerenciar recursos de forma eficiente e promover opções em nutrição e manejo”, explicam os técnicos da expedição pecuária Confina Brasil.

As práticas de terminação intensiva a pasto (TIP) e a recria intensiva a pasto (RIP) contribuem para a construção de um modelo de produção mais eficiente. A RIP se destaca na fase inicial de crescimento dos animais, focando no desenvolvimento rápido e saudável. É especialmente vantajosa para pecuaristas que buscam acelerar o ciclo produtivo dos bovinos, garantindo que atinjam o peso ideal para a fase de terminação. Esta prática se beneficia de áreas bem manejadas, com pastagem de qualidade e suplementação nutricional adequada. A TIP é uma das diversas estratégias que busca otimizar o tempo de terminação do rebanho, através do fornecimento de concentrado no cocho, enquanto a fonte volumosa provém do próprio pastejo. É o caso da fazenda Morada do Sol, localizada em Cáceres que tem explorado intensivamente a terminação e recria de animais no pasto. Originalmente dedicada à cultura da soja até 2012, a fazenda adaptou-se devido às grandes oscilações pluviométricas da região. A terra possui bom teor de argila para plantio, mas as variações climáticas, com restrições hídricas ou fortes chuvas em épocas diferentes, tornavam a produção inviável em alguns anos. A mudança estratégica para pastagens, utilizando adubação orgânica proveniente do confinamento, permitiu uma transição eficiente.

Essa abundância de pastagem possibilitou a Morada do Sol intensificar a terminação e recria dos animais a pasto, resultando em um sistema de engorda mais econômico durante a maior parte do ano. Nos meses secos, o confinamento se torna mais viável, especialmente ao utilizar bagaço de cana da usina local como fonte volumosa na dieta dos animais. Outro caso semelhante é o da Fazenda Santo Expedito, no município de Pontes e Lacerda. Atualmente, a fazenda realiza ciclo completo, com cria, recria e engorda de bovinos, utilizando amplamente as práticas de TIP e RIP. Na área destinada à agricultura, cultivam milho safra e capim de maneira integrada. A produção agrícola é destinada à demanda da pecuária. O confinamento é empregado estrategicamente, visando otimizar a taxa de lotação da propriedade nas águas e servindo de estratégia para aliviar as pastagens na seca. Na Fazenda Ressaca, da Agropecuária Grendene, em Cáceres, parte de suas áreas são destinadas às pastagens perenes no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), consorciado ao sorgo.

O confinamento difere do uso convencional, sendo utilizado não apenas para terminação de animais, mas, principalmente, para a preparação de lotes destinados aos leilões e para o sequestro de bezerros, estratégia que

permite o manejo eficiente da lotação durante as épocas de chuva e seca. Na época da seca, quando a capacidade de suporte das pastagens diminui, para contornar essa sazonalidade e manter uma alta lotação ao longo do ano, a propriedade submete os bezerros ao sistema de resgate, mais comumente conhecido como sequestro, finalizando a etapa de recria desses bovinos no confinamento.
A Fazenda Ressaca também adota um projeto circular em que os dejetos são recolhidos, enriquecidos e utilizados nas lavouras e pastagens. Em Vila Bela da Santíssima Trindade, na Fazenda Fortaleza do Guaporé, um dos principais destaques é a fábrica de ração, considerada uma das mais completas da região. A área destinada à agricultura é predominantemente utilizada para o cultivo de milho e soja, com integração também envolvendo a produção de capim.

A fazenda adota um sistema integrado, onde produzem capim, milho e soja na mesma área de plantio, insumos destinados a alimentação do gado confinado. Nas pastagens da Fazenda Encantado IV, parte do Grupo Webler, em Sapezal, são utilizadas tanto a TIP quanto a RIP. Quase 100% do gado que entra no confinamento é de recria própria, proveniente de outras fazendas do grupo. Os bovinos são colocados em uma RIP, e, ao final desta fase, aqueles que atingem o peso desejado são mantidos no pasto para terminação. Esses animais estão próximos do peso ideal para o abate e são finalizados na TIP, aproveitando os recursos naturais do pasto. Por outro lado, os animais mais leves da mesma RIP são encaminhados para o confinamento para alcançarem o peso ideal antes do abate. Essa abordagem otimiza tanto o uso eficiente do pasto quanto a terminação dos animais no confinamento.

Otimização de resíduos do algodão com uso estratégico na dieta
A integração entre agricultura e pecuária tem se destacado como uma prática essencial para a eficiência e sustentabilidade no setor agropecuário. No Mato Grosso, maior produtor de algodão do Brasil, especialmente nas regiões oeste e sudeste, a produção local facilita o uso desses derivados. Fazendas como a Masutti, em Campos de Júlio, e a Globo, do grupo Locks, em Sapezal, têm demonstrado o aproveitamento inteligente dos resíduos do algodão na alimentação dos animais. Um dos aspectos importantes da estratégia de utilização dos subprodutos do algodão é o seu baixo custo, tornando a composição nutricional desses insumos mais econômica e resultando em uma arroba produzida a um custo menor. Além disso, a disponibilidade regional minimiza os custos de transporte (frete), favorecendo ainda mais a utilização desses insumos.Na Fazenda Masutti, a pecuária foi incorporada, justamente, como uma complementação às atividades agrícolas, aproveitando os resíduos gerados pelo processamento do algodão, como a torta e o caroço, que são utilizados na dieta dos animais. A tendência de uso de coprodutos agrícolas na dieta dos bovinos está alinhada com a crescente demanda pela intensificação dos sistemas de produção na atividade pecuária. O uso integrado do algodão na alimentação dos animais é um exemplo também na Fazenda Globo, do Grupo Locks, localizada em Sapezal. Utilizando resíduos como caroço, torta e capulho de algodão na dieta dos bovinos, a fazenda não apenas reduz custos, mas também minimiza o impacto ambiental, aproveitando coprodutos que, de outra forma, seriam provavelmente descartados.

Estratégias diferenciadas aproveitando características regionais
Diversificação e adaptação são palavras chaves na pecuária mato-grossense. Na Morada do Sol, um ponto notável foi a decisão estratégica de focar na engorda de fêmeas, uma escolha que, nessa ocasião, facilitou o manejo do gado e reduziu comportamentos de dominância nos pastos. Na Fazenda Ressaca, o compromisso com o melhoramento genético fez a propriedade reconhecida nacionalmente por seus leilões anuais de touros melhoradores, uma tradição que inclui recentemente a venda de fêmeas prenhes. Além das práticas agrícolas avançadas, a Fazenda Globo se destaca por sua responsabilidade social. Com 20% dos colaboradores sendo mulheres, a fazenda não apenas cumpre requisitos de certificação, mas também promove a inclusão e diversidade no ambiente de trabalho. O compromisso com a sustentabilidade vai além das práticas diárias da fazenda. A fazenda tem parceria com o Grupo IFB, parceiro da Expedição Confina Brasil, para a gestão de dejetos na propriedade. Todo o esterco retirado das baias de confinamento é pesado e entregue ao grupo IFB que transforma os resíduos em um produto enriquecido de alta qualidade, destinado para a fertilização das áreas de plantio, garantindo um ciclo sustentável na produção agrícola.

Conforto em foco: como os confinamentos buscam promover o bem-estar animal
Os confinamentos de corte bovino estão intensificando esforços para garantir o bem-estar animal como um componente integral de suas operações. Uma vez que as propriedades conseguem minimizar o impacto negativo do ambiente sobre o desempenho dos animais, vemos um reflexo direto na produtividade e ganho de peso desses bovinos, além da diminuição de perdas por fraturas ou incidentes. No Mato Grosso não é diferente. Essas práticas visando bem-estar animal têm sido adotadas por propriedades como a Fazenda Masutti, onde plantações estratégicas de eucalipto proporcionam sombreamento natural às baias, melhorando o conforto térmico dos bovinos nos períodos mais quentes. Além disso, investimentos em currais antiestresse não apenas facilitam o manejo seguro e eficiente dos animais, mas também promovem um ambiente que minimiza o risco de lesões.

Na Fazenda Fortaleza do Guaporé, o uso de telhas de metal nas coberturas dos cochos demonstra um cuidado adicional, tanto na proteção da dieta quanto na infraestrutura do confinamento. As coberturas, garantem uma maior proteção da dieta as intempéries climáticas, protegendo os nutrientes de deterioração por chuvas ou ventos fortes, esse cuidado mantém o alimento em melhores condições, influenciando no desempenho e saúde dos bovinos, além de evitar perdas e incrementos no custo com a alimentação. A proteção contra a exposição ao sol e às chuvas também pode impactar positivamente na vida útil do cocho, reduzindo o custo de manutenção.

Já na Fazenda Encantado IV, as coberturas das baias e a nas áreas de descanso dos currais destacam-se como exemplos de práticas que visam não apenas o conforto, mas também o desempenho dos bovinos. A utilização estratégica de cobertura e aspersores reduz a poeira e o estresse térmico, contribuindo significativamente para o bem-estar animal. Essas iniciativas refletem uma tendência crescente no setor pecuário, onde o bem-estar dos animais não é apenas uma preocupação ética, mas também uma estratégia crucial para o sucesso operacional, produtivo e sustentável das fazendas de gado de corte. Nesta semana, a Expedição Confina Brasil esteve em Rondônia, explorando as práticas dos confinamentos dessa região. As visitas foram realizadas em oito municípios: Seringueiras, São Francisco do Guaporé, São Miguel do Guaporé, Alta Floresta D´Oeste, Santa Luzia D´Oeste, Rolim de Moura, Chupinguaia, Corumbiara e Colorado D´Oeste. Para análises dos dados coletados e desenvolvimento de estudos, contamos com o apoio de instituições de renome: Embrapa Pecuária Sudeste e Embrapa Agricultura Digital.

Sobre o Confina Brasil
O Confina Brasil é uma pesquisa expedicionária promovida pela Scot Consultoria, que tem como propósito mapear e retratar o cenário da pecuária intensiva brasileira. Na sua 5ª edição, em 2024, a expedição percorrerá o país em 4 rotas que acontecerão de forma ininterrupta de junho a outubro, passando por 12 estados. Nas visitas às fazendas, zootecnistas, veterinários e consultores especialistas da Scot Consultoria coletam dados sobre a nutrição, sanidade, tecnologia, gestão, bem-estar animal e sustentabilidade, além de identificar as principais características do setor em termos de gestão a partir de entrevistas com responsáveis nas propriedades que vivenciam a lida diária. Ao final do projeto, o Confina Brasil publica um estudo descritivo completo e gratuito para compartilhar com o setor os principais dados, índices e indicadores encontrados. Ao longo dos anos, o Confina Brasil já visitou, in loco, mais de 500 confinamentos e semiconfinamentos. Foram mapeadas mais de 10 milhões de cabeças ao longo do projeto, percorridos mais de 200 mil km, em 16 estados brasileiros.

 

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