Conexão Abisolo 2025 finaliza com bioinsumos, economia circular e sucessão

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O evento reuniu especialistas, pesquisadores e parlamentares para discutir inovações em fertilizantes, sustentabilidade e os desafios da liderança da geração Z no agronegócio, além da premiação de trabalhos acadêmicos

O segundo e último dia do Conexão Abisolo 2025 foi marcado por atualizações sobre o mercado de insumos agrícolas, além do reconhecimento de trabalhos acadêmicos que impulsionam o desenvolvimento do setor. Realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o evento unificou o II Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes com o objetivo de promover a colaboração entre indústria e academia e foi realizado nessa quarta e quinta-feira, 22 e 23 de outubro, no Expo Dom Pedro, em Campinas/SP.

Abrindo as atividades do dia, o engenheiro agrônomo e sócio-diretor da Action Relações Governamentais, João Henrique Hummel, fez um panorama do modelo político brasileiro e enfatizou a importância da atuação das entidades representativas na formulação de políticas públicas. “Cabe à sociedade civil organizada, por meio de suas instituições, propor e participar da construção de incentivos e diretrizes que orientem o setor”, disse Hummel. De acordo com ele, o atual cenário político exige uma relação mais próxima e estratégica com os parlamentares. “É essencial que o setor seja proativo e invista na qualidade da representação política, fortalecendo o diálogo e a cooperação na criação de políticas públicas consistentes”.

Em seguida, o deputado federal, Sérgio Souza (MDB), colocou em pauta a relevância do associativismo como força motriz das principais conquistas do setor e lembrou que muitas delas ainda estão em andamento. O deputado chamou a atenção para a necessidade de diálogo constante entre as associações e o parlamento, reforçando que essa parceria é essencial para a formulação de políticas mais assertivas. “O parlamentar não tem como saber de tudo. Cabe às entidades fornecerem as informações necessárias, e é por isso que esse contato precisa ser estreito”, afirmou Sérgio Souza.

Bioinsumos
Dando continuidade à programação de palestras, o pesquisador da Embrapa, Itamar Soares de Melo, abriu o terceiro painel “Bioinsumos e seus efeitos fisiológicos” com a palestra “Microrganismos promotores do crescimento de plantas e mitigação de estresses abióticos”. O palestrante abordou o papel multifuncional das bactérias nas plantas, com destaque para sua contribuição na proteção contra a seca, problema que afeta cerca de 45% dos solos agricultáveis brasileiros. Especialista em microbiologia agrícola, controle biológico e bioinsumos, Itamar explicou que as pesquisas atuais têm permitido identificar isolados bacterianos capazes de promover o crescimento vegetal e aumentar a resiliência das culturas. “A produção de biofilme é um dos principais critérios na escolha dos microrganismos utilizados, já que essa camada protetora atua tanto nas folhas quanto nas raízes, favorecendo o acúmulo de solo aderido, a agregação de partículas, a biomassa microbiana e a retenção de água nas plantas inoculadas”, detalhou o pesquisador.

A segunda palestra do painel coube ao engenheiro agrônomo e pesquisador da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – campus Jaboticabal, Everlon Rigobelo, que demonstrou os benefícios dos microrganismos na agricultura e as novas tendências no desenvolvimento de bioinsumos. Segundo ele, esses organismos desempenham papel essencial na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem de nutrientes, contribuindo para a redução de custos e do impacto ambiental. “Microrganismos prestam um serviço natural que reduz o uso de insumos e aumenta a sustentabilidade da produção”, afirmou.

Rigobelo destacou que o uso de microrganismos também diminui a necessidade no uso de defensivos, favorecendo práticas mais sustentáveis. Entre as inovações do setor, apontou o manejo do solo e das plantas, o uso de diferentes fontes de carbono por meio da rotação de culturas e o estímulo à diversidade microbiana. “A manipulação do microbioma e o incentivo à diversidade microbiana representam uma nova fronteira na agricultura”, explicou o palestrante.

Ao tratar da qualidade e aplicabilidade dos produtos, ele reforçou a importância de informações técnicas claras – como os efeitos sobre o microbioma, a seleção de cultivares mais responsivas, além de dados sobre sinalização de estresses e reprogramação gênica – para orientar o uso eficiente e seguro dos bioinsumos. “Escolher um bom produto depende de entender como ele interage com o microbioma e com as plantas. Esses dados são fundamentais para garantir eficiência e segurança no campo”, concluiu.

O professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Átila Mógor, esteve presente novamente no segundo dia do Conexão Abisolo 2025 com a palestra “Microalgas na agricultura: obtenção de aminoácidos e metabólitos de nitrogênio”. Em sua fala, o pesquisador expôs uma visão atualizada sobre o uso de microalgas como fontes biotecnológicas de compostos bioativos.

Cultivadas em biorreatores, as microalgas têm uso consolidado na alimentação, cosmética e saúde humana, e agora despontam como insumos na agricultura. “A biomassa das microalgas pode fornecer aminoácidos e poliaminas, entre outros compostos, com efeitos positivos no desenvolvimento vegetal. Essas substâncias atuam em processos de crescimento e adaptação ao estresse, com aplicações promissoras em diversas culturas. No Brasil, o uso agrícola de microalgas ainda é incipiente, mas a tendência é de crescimento acelerado nos próximos anos”, ponderou Mógor.

A quarta palestra foi ministrada pela professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – campus Palotina, Roberta Paulert, que tratou do tema “Bioatividades de Extratos de Plantas”, pontuando o potencial dos biofertilizantes à base de extratos vegetais para o aumento da produtividade e a redução de estresses nas plantas cultivadas. Doutora em Bioquímica e Biotecnologia pela Universidade de Münster (Alemanha), Roberta atua nas áreas de microbiologia aplicada, fitopatologia e biotecnologia agrícola, com foco em produtos naturais e indução de resistência em plantas.

Segundo a pesquisadora, os biofertilizantes contêm princípios ativos orgânicos capazes de atuar direta ou indiretamente sobre as plantas, promovendo melhorias no crescimento, na resistência e na produtividade. “Esses produtos naturais podem auxiliar no manejo sustentável das culturas, reduzindo o uso de insumos químicos e fortalecendo o metabolismo vegetal”, explicou. Durante a apresentação, Roberta compartilhou resultados de pesquisas que comprovam a bioatividade desses extratos, com destaque para espécies como moringa, cavalinha, alcaçuz, cravo e yucca, testadas como fontes de compostos bioativos. Os estudos demonstram que os extratos vegetais apresentam efeitos positivos sobre todo o desenvolvimento da planta, favorecendo tanto o crescimento quanto a tolerância a estresses abióticos, como seca e variações de temperatura.

Economia circular
O período da tarde marcou o início do quarto e último painel do Conexão Abisolo 2025, dedicado ao tema “Economia Circular”. O engenheiro químico e mestre em Ciência e Tecnologia de Polímeros pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Estevão Freire, iniciou o painel com a palestra “Inventário de resíduos sólidos orgânicos com potencial para produção de fertilizantes”, sobre o destino dos resíduos gerados ao longo da cadeia produtiva.

Ele ressaltou o potencial de aproveitamento dos resíduos agroindustriais e pecuários na produção de fertilizantes orgânicos e organominerais, especialmente nas regiões Sul e Centro-Oeste do país, onde a concentração de atividades agropecuárias é mais intensa. O pesquisador enfatizou ainda a necessidade de práticas alinhadas à bioeconomia circular, nas quais materiais são continuamente reaproveitados e os processos produtivos contribuem para a regeneração ambiental. De acordo com os estudos apresentados, apenas os resíduos provenientes de sistemas intensivos, como confinamentos, são passíveis de coleta e tratamento em larga escala – enquanto a pecuária extensiva ainda representa um desafio logístico.

Na sequência, o professor e pesquisador da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/UNESP), Thiago Assis Rodrigues Nogueira, abordou os avanços dos fertilizantes orgânicos compostos à base de lodo de esgoto, ilustrando o potencial do insumo para fechar o ciclo entre saneamento e agricultura. Com base em estudos de longa duração realizados em Jaboticabal (SP), Nogueira demonstrou que o composto é seguro e eficiente, além de melhorar a fertilidade e a estrutura do solo. Para o pesquisador, o desafio está em superar barreiras culturais e ampliar políticas de incentivo, de modo que o uso do lodo contribua não apenas para a produtividade, mas também para a regeneração ambiental e o uso inteligente dos resíduos urbanos.

O pesquisador da Embrapa Instrumentação, Ladislau Martin Neto, encerrou o quarto painel com a palestra “Relação entre a matéria orgânica e créditos de carbono”, na qual destacou que cerca de 50% da composição da matéria orgânica do solo é carbono, tornando-o o terceiro maior reservatório desse elemento no planeta, superando inclusive a biomassa das florestas. “A matéria orgânica do solo é uma aliada poderosa na mitigação das mudanças climáticas e na geração de renda para o produtor”, assegurou. O pesquisador da Embrapa acrescentou que práticas agrícolas conservacionistas, como o plantio direto e o manejo adequado de pastagens podem aumentar o sequestro de carbono, gerando benefícios ambientais e econômicos diretos.

Ele frisou que um dos desafios para a expansão desse mercado é a medição precisa do carbono no solo, ainda limitada por questões logísticas e de custo. Para superar essa barreira, o pesquisador apresentou uma nova tecnologia a laser de baixo custo, já certificada pela Verra, principal certificadora mundial de créditos de carbono. A ferramenta permite mensurar com precisão os níveis de carbono em áreas de grãos, pastagens e sistemas integrados, facilitando o acesso de mais produtores ao mercado de créditos.

Martin Neto também alertou para o impacto das mudanças climáticas na agricultura brasileira, dependente do regime de chuvas, e citou eventos extremos recentes – como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia – como evidências da urgência de ação. “Estamos diante de uma emergência climática. Aumentar o teor de matéria orgânica do solo significa mais produtividade, mais resiliência e novas oportunidades em um mercado cada vez mais exigente em sustentabilidade”, concluiu.

Cultivo vertical indoor
O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Luis Felipe Vilane Purquerio, ministrou a palestra “Cultivo vertical indoor como modelo para PD&I”, destacando o potencial dessa tecnologia como complemento à agricultura convencional e vetor de inovação e sustentabilidade. Engenheiro agrônomo e doutor pela Unesp, Purquerio é responsável pelo Laboratório de Cultivo Vertical Indoor do IAC e referência em olericultura, nutrição de plantas e cultivo sem solo.

Segundo o pesquisador, o cultivo indoor permite controle total de luz, temperatura e umidade, com apoio dos avanços em tecnologia de LEDs para agricultura. “O cultivo vertical indoor não pretende substituir a agricultura convencional, mas sim complementá-la, ampliando a capacidade de produzir em qualquer época e local, com maior eficiência no uso de recursos e menor dependência das condições climáticas externas”, explicou.

Purquerio expôs os resultados de pesquisas que demonstram redução no uso de água, aceleração do ciclo produtivo das plantas e viabilidade de aplicação para empresas de fertilizantes e bioinsumos, reforçando o papel do sistema como plataforma de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Ele também destacou a importância de parâmetros como intensidade, qualidade e fotoperíodo da luz no crescimento vegetal, além dos desafios para difundir a tecnologia no Brasil.

Geração Z no agro
O encerramento do Conexão Abisolo 2025 ficou por conta do especialista em cultura organizacional e desenvolvimento de lideranças, Ricardo Dalbosco, que abordou o tema “Geração Z: Suas expectativas e a perenidade dos negócios”. Consultor reconhecido por seu trabalho com gestão de pessoas e sucessão empresarial, o palestrante trouxe uma reflexão sobre como as diferenças geracionais impactam o ambiente corporativo, inclusive no campo.

Em sua fala, ele foi enfático ao tratar do choque de valores entre as gerações mais experientes e a geração Z, marcada pelo que ele chama de “ambição silenciosa”: jovens que cresceram vendo os pais trabalharem intensamente e hoje repensam o desejo de assumir o comando dos negócios familiares. “Muitos olham para o esforço das gerações anteriores e se perguntam se vale a pena repetir esse modelo de vida. Esse é o novo desafio das empresas – e do agro – em relação à sucessão”, provocou.

Dalbosco também comparou diferenças regionais na sucessão familiar, observando que, enquanto o Sul ainda mantém estruturas mais patriarcais, influenciadas por tradições culturais, o Centro-Oeste tem vivenciado uma mudança de protagonismo, com mulheres assumindo a gestão das propriedades rurais. Essa transformação, segundo ele, altera dinâmicas de liderança, comunicação e relacionamento entre gerações. “Inspirar os jovens para que tenham atitudes diferentes exige escuta, empatia e abertura das lideranças atuais”, afirmou. Dalbosco concluiu destacando que compreender essas novas dinâmicas é essencial para construir equipes mais engajadas e preparar o agronegócio para o futuro.

Premiação de trabalhos
O reconhecimento da produção acadêmica no setor foi um dos grandes destaques do Conexão Abisolo 2025. A terceira edição do Simpósio de Biofertilizantes recebeu a inscrição de 57 trabalhos acadêmicos, dos quais quatro foram premiados em duas premiações, Mérito Acadêmico e Mérito Inovação, reforçando a importância das contribuições acadêmicas e da indústria que impulsionam o desenvolvimento de novas tecnológicas para a agricultura.

Os temas dos trabalhos inscritos abordavam algas, aminoácidos, substâncias húmicas e extratos vegetais. Os trabalhos, expostos no Conexão Abisolo 2025 em seus dois dias de programação, foram avaliados por um Comitê Científico, que selecionou os melhores títulos com base na qualidade técnica, clareza, relevância e pertinência. Os vencedores de cada categoria receberam um prêmio de R$ 5.000,00, entregue ao autor principal do trabalho.

Conheça os trabalhos vencedores do III Simpósio de Biofertilizantes:

Prêmio Mérito Acadêmico

Categoria Biofertilizantes
Isolamento de frações ativas da parede celular da microalga Chlamydomonas reinhardtii.
Autores: Elisa Teófilo Ferreira e Paulo Mazzafera. 

Categoria Fertilizantes de Matriz Orgânica
Fontes e épocas de aplicação de fertilizantes especiais na cultura do cafeeiro.
Autores: Adailton Agostinho Barbosa Freitas, Raquel Pinheiro da Mota, Reginaldo de Camargo, Igor Cruvinel Pena¹, Isabela Oliveira Queiroz, João Joaquim Assis Rezende

Prêmio Mérito Inovação

Categoria Biofertilizantes
Extrato de Ascophyllum nodosum como estratégia para reduzir o custo metabólico induzido pelo Protioconazol na soja.
Autores: Bruno Moço Tessarolli, Samir Geraigire Filho, Mayara Cristina Malvas Nicolau, João William Bossolani, José Roberto Portugal, Carlos Alexandre Costa Crusciol

Categoria Fertilizantes de Matriz Orgânica
Potássio no sistema solo-planta após adubação com composto orgânico à base de macrófitas aquáticas.
Autores: Paulo Sergio Costa Trindade, André Luiz de Freitas Espinoza, André Luís Pirotello, João Lucas Barbosa, Thiago Assis Rodrigues Nogueira, Tiago Tezotto

Sobre o Conexão Abisolo
O Conexão Abisolo reuniu dois eventos já consolidados no setor: o II Fórum Abisolo de Fertilizantes de Matriz Orgânica e o III Simpósio de Biofertilizantes. A programação contou com painéis temáticos realizados na plenária, workshops e uma área de exposição, criando um ambiente favorável à troca de conhecimento, conexões profissionais e atualização técnica. Entre os principais temas abordados estiveram as tendências mais relevantes no uso de insumos de matriz orgânica e biofertilizantes, além de discussões sobre políticas públicas, assuntos regulatórios e palestras técnicas voltadas às inovações que impulsionam o desenvolvimento do setor.

Sobre a Abisolo
A Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) foi fundada em outubro de 2003 com o objetivo de representar e defender os interesses das empresas produtoras e importadoras de importantes insumos que colaboram para o aumento da qualidade, da produtividade e da sustentabilidade da agricultura brasileira. A entidade congrega fabricantes e importadores de fertilizantes minerais, organominerais, orgânicos, biofertilizantes, condicionadores de solo de base orgânica, substratos para plantas, insumos de base biológica e adjuvantes. Reunindo mais de 140 empresas associadas, participa ativamente das discussões de temas de interesse do setor junto aos diversos Ministérios e Secretarias, Órgãos de Controle e Fiscalização Ambiental, Instituições de Pesquisa, Receitas Estadual e Federal, além de outras entidades representativas de diferentes setores da sociedade civil organizada, buscando sempre a competitividade, a liberdade econômica e a valorização dos segmentos que representa.