BC diminui juros no Brasil e FED mantém taxa nos EUA

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Business partners drawing and building statistical graph of wooden blocks in a conceptual image of economy and financial market.
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Analistas do mercado financeiro repercutem decisões das autoridades monetárias dos dois países.

 

Nesta quarta (31/01), o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu diminuir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, como era previsto pelo mercado. Enquanto isso, nos EUA, o FED (Federal Reserve) anunciou a manutenção de juros por lá em um tom mais hawkish do que o esperado, o que fez as bolsas americanas e o dólar caírem. Confira avaliação de especialistas brasileiros sobre os efeitos do que foi decidido pelas autoridades monetárias brasileira e norte-americana nesta “Super Quarta”.

 

 

COPOM – DECISÃO SOBRE JUROS NO BRASIL

 

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed

A minha leitura foi bem em linha com o que era esperado pelo mercado. Eu acho que o comunicado do Banco Central vem para dizer que eles seguem resilientes no combate à inflação. Inclusive, enfatizam que o processo de desinflação é um processo que tende a ter uma dinâmica mais lenta agora. O comitê sabe que existem riscos de ambos os lados. Mas, ponderam também a questão da ancoragem das expectativas, que está relacionada à parte fiscal. 

O comitê pondera com relação ao cenário internacional, que ainda é adverso. Então, eu acho que ele foi bem conservador no comunicado. E, inclusive, conservador em linha com o próprio discurso que ele já vem defendendo há algum tempo, que é a manutenção do pace de 0,50%. 

Então, o mercado já vem há algum tempo forçando uma barra acreditando que o Banco Central pudesse acelerar o corte de juros. E, no comunicado, mais uma vez fica claro que essa não é a intenção da autoridade monetária. A intenção é manter o compromisso com a convergência da inflação para a meta e eles entendem que o pace de 0,50 é apropriado e, inclusive, mais uma vez, destacam que esse pace de 0,50 deixa aberta a janela para mais cortes na mesma magnitude. 

Então, eu acho que esse comunicado vem de uma maneira bem serena, de uma maneira bem contundente com o que o Banco Central vem fazendo já há bastante tempo. Então, eu acredito que amanhã, provavelmente, a gente deva ver uma certa repreficação da curva de juros, justamente porque havia um otimismo muito grande com relação a esse assunto. 

E aqui, mais uma vez, o Banco Central deixa o recado de que talvez este não seja o momento para acelerar o processo de flexibilização monetária. E para contribuir ainda mais, a gente teve a decisão do FED hoje também, na mesma linha, uma linha mais hawkish, mais preocupada com o processo de desinflação. E obviamente isso vai fazer preço na curva de juros amanhã aqui no Brasil. Mas falando especificamente sobre o comunicado do Copom, eu gostei do comunicado, acho que o discurso é contundente com o que o Banco Central vem fazendo já há algum tempo.

 

Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital

Comunicado não trouxe surpresas. Me parece muito parecido com a publicação do anterior. A votação foi unânime, e foi comunicado que seguirão com quedas da mesma magnitude. Comunicado veio muito otimista por ser muito parecido com o comunicado anterior. Na minha visão, está muito alinhado com o movimento de desinflacão existente hoje. O destaque é que aumentou a expectativa dos preços administrados para o próximo ano.

Acredito que o mercado pode reagir amanhã de forma otimista com a previsibilidade do que foi divulgado. E podemos manter o otimismo para os próximas comunicados diante das informações que foram apresentadas.

A manutenção de juros pelo FED nos EUA e discurso mais hawkish de Powell não devem fazer impacto na próxima decisão do Copom, que já tem novas quedas contratadas.

 

 

FED – DECISÃO SOBRE JUROS NOS EUA

 

Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed

Na minha visão, o comunicado do FED veio ainda bem conservador. Seguiu comentando que a inflação cedeu, mas ainda não pode se desligar disso. Mantém a inflação com meta de 2%. Mas tivemos duas alterações importantes no comunicado, uma mais positiva e outra negativa. A positiva foi que retirou o trecho sobre possível aperto monetário adicional. E a negativa foi que mudou a parte que falava sobre a economia desacelerar para a “economia expandiu em ritmo sólido”. No final, complementa que pode fazer “qualquer” ajuste se necessário deixando totalmente em aberto e afirma meta de inflação em 2%. 

Na minha opinião, a falta de uma fala mais concreta sobre baixa de juros torna o comunicado um pouco mais negativo, dado que mercado esperava já um discurso mais nesse sentido.

Num discurso mais hawkish que o esperado, Powell deixou claro que precisa que os números continuem a mostrar inflação cedendo, números bons continuem vindo para que estejam certos de que poderiam começar a baixar juros. Disse que não precisa que os números melhorem, mas que continuem por mais tempo no mesmo sentido para que possam atingir a meta de 2% de inflação e que isso pode levar tempo. O tom mais hawkish desanimou o mercado, que caiu para as mínimas.

 

 

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital

Decisão veio dentro do esperado, era consenso nosso uma manutenção da taxa de juros. Achei o comunicado uma tentativa de esvaziar as apostas de corte de juros em março. Um ponto que o FED retirou do comunicado anterior, que citava desaceleração da economia, foi substituído por “economia tem se expandido em ritmo sólido”. Retirou também o trecho que citava o aperto das condições financeiras que podiam pesar sobre a atividade, demonstrando assim que a economia americana mesmo com o aperto do juros está forte. Então achamos o comunicado um pouco hawkish nesse quesito. Em compensação, o discurso veio com algum tom dovish, citando que o mercado de trabalho vem caminhando para o seu equilibrio, que a inflação vem desacelerando (mas reforçando que o FED espera uma desaceleração mais contínua para tomar uma decisão sobre o juros).

Um trecho que chamou a atenção no discurso foi a fala de que “há uma saudável disparidade de visões entre os dirigentes, o que é essencial”, dá a entender que alguns dirigentes, apesar de Powell falar que a decisão de corte de juros ainda não está na mesa, dá a entender que na próxima reunião isso já pode ser pauta. A reação do mercado foi imediata, o dólar passou a acelerar queda, tanto aqui quanto lá fora via DXY (índice dólar), além disso as treasuries de 10 anos intensificaram queda e passaram a ser negociadas a uma taxa abaixo de 4% (3,97%) com uma queda de -2,08%. Próximo do fim da coletiva Powell reforçou que NÂO crê em corte de juros em março, para tentar ao máximo retirar essa contratação de corte de juros já no primeiro trimestre.

Com o comunicado mais hawkish e Powell afirmando que não vê cortes para março nos juros americanos, a bolsa americana acelerou a queda, com todos os índices caindo, principalmente o S&P 500 e Nasdaq. Já nossa bolsa, o Ibovespa, que chegou a subir +1,6% antes do comunicado e discurso do FED, devolveu parte dos ganhos mas ainda operava em alta.

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