“O Agro mudou o peso geopolítico do Brasil no mundo!”, destaca o professor, ecólogo, pesquisador, engenheiro agrícola, escritor e apresentador, em entrevista concedida ao editor Riba Velasco para a edição 105 da Revista AgroRevenda.
Evaristo de Miranda é paulistano, tem 72 anos e não para um só segundo. Notadamente os olhos miúdos, sempre alertas e atentos. Foi professor, acadêmico, ecólogo, engenheiro agrícola, escritor, apresentador de televisão, articulista de jornais e revistas, pesquisador. Tem Mestrado e Doutorado em Ecologia pela Universidade de Montpellier, na França, país onde morou durante nove anos. Pesquisou as relações entre desequilíbrios ecológicos e agrícolas na região semiárida de Maradi, no Níger. Entrou na Embrapa Semiárido em 1980, em Petrolina (BA), onde ajudou a disseminar projetos de irrigação no Vale do São Francisco. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Depois, passou pela Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP) e, na sequência, atuou na Embrapa Territorial, em Campinas (SP). Permaneceu na instituição durante 43 anos e se aposentou no início de 2023.
Conhece em detalhes cada um de todos os estados brasileiros. Ainda foi professor do Instituto de Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco e do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Integra várias sociedades científicas e atuou como consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, a Rio 92.
Já escreveu mais de mil e quatrocentos artigos científicos e de divulgação publicados no Brasil e exterior. Evaristo é autor e co-autor de 56 livros publicados em português, inglês, francês, italiano, espanhol, árabe e mandarim. Seus temas preferidos são Humanidades, História Antiga, Religiões, Sustentabilidade, Natureza do Brasil, Gestão Territorial, Ecologia, Filosofia e Espiritualidade.
Recebeu duas Ordens Condecorativas do Governo Federal e participou de três equipes de transição presidencial. Tamanha bagagem científica e cultural garantiu reconhecimento unânime? No mundo dividido entre capitalistas e socialistas, jamais. É odiado por petistas, comunistas e ambientalistas de plantão. No contra-ataque, repete a todos: “Gosto menos de opiniões. Prefiro os dados. Eu tenho dados. Você tem? Se tiver, vamos confrontá-los”. E não para de jeito nenhum. Escreve, está na internet, dá palestras e coordena um grupo de trabalho de dados com dezenas de profissionais. Afirma categoricamente que o Agronegócio brasileiro é inovador, dominante e vai permanecer crescendo sem parar. Mas já cumpriu dois papeis significativos. Alimenta o planeta e tornou o país um ator importante em um novo eixo da geografia e política internacional ao lado de Rússia e China: o da segurança alimentar.
AgroRevenda – O agronegócio brasileiro é sustentável?
Evaristo de Miranda – Se alguém disser que está a par da agricultura brasileira é porque se atualizou até a noite anterior. Apenas uma semana e a pessoa já vai estar defasada. Não ia saber das plantas autorizadas pela China para nossas exportações, da turma que está fazendo gergelim no meio do ano no lugar do milho. E tudo motivado por inovação. A agricultura brasileira é sustentável, assim como a pecuária, a indústria de nutrição animal. E, antes de ser a tecnologia a mola propulsora, é a demanda do planeta inteiro por alimentos que alavanca esse processo. A população está crescendo, na Ásia, na Índia, no mundo árabe, muçulmano. Todo mundo querendo fazer filhos. E aumentou a renda. Por exemplo, a produção de carne bovina dobrou de 1970 para cá e foi porque a população cobrou por isso. E, desde 2007, a população urbana ultrapassou a rural e avança sem parar. A agricultura brasileira é perseverante. Não parou durante a pandemia, no início da guerra da Rússia e Ucrânia, que tirou do mercado 32 milhões de toneladas de grãos. Enfrentou o problema dos preços dos fertilizantes, custo de energia, o protecionismo com a exportação de alimentos por nações durante a Covid-19, doenças em rebanhos como a Gripe Aviária. E atravessamos toda essa turbulência crescendo sem parar, produzindo para o Brasil e o mundo, dando lição de cuidado com o meio ambiente.
AgroRevenda – Qual o tamanho do Agro Brasil hoje?
Evaristo de Miranda – Nós atingimos um patamar inimaginável mesmo para quem vivia há vinte anos. Produzimos 300 milhões de toneladas de grãos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica um consumo mínimo de 250 quilos por ano para cada habitante. É o número que garante segurança alimentar mínima. Dividir a produção de cada país pelo volume que ele produz. Nós tiramos da terra seis vezes mais do que o mínimo necessário. Sabe quem não consegue fazer? China, Japão e Coreia do Sul. Mas são países que têm dinheiro para comprar alimentos. O que não ocorre com inúmeras nações do continente africano.
AgroRevenda – Tem mais, não?
Evaristo de Miranda – E como. Não é só grãos. Milhões e milhões de toneladas de mandioca e outros tubérculos, frutas, madeira, celulose, cana-de-açúcar. A produção vegetal brasileira alimenta mais de um bilhão de pessoas há muito tempo. E ainda tem as carnes. Dez milhões de toneladas de proteína bovina por ano, 14 milhões de toneladas de carne de frango, 5,5 milhões de toneladas de carne suína e 35 bilhões de litros de leite. E mais. Etanol, 52 bilhões de ovos, 1.600 por segundo. No ano passado, abatemos 34 milhões de bovinos. O que dá 136 milhões de cascos que não vão para o lixo e sim para as indústrias de colágeno, verniz, vestuário, beleza, cosméticos. E toda essa estrutura fora da porteira, uma economia circular impressionante. Uma escala que vai permitir avanços ainda mais consistentes, circularmente mesmo, com reciclagem, confinamento, integrações. Abatemos no ano passado 6,2 bilhões de frangos, quase um animal para cada habitante do planeta. E eles têm pena, que se transforma em energia, alimento proteico para pets. Enfim, somos os maiores produtores e/ou exportadores em diversas áreas do agronegócio mundial.
AgroRevenda – Mesmo assim, muita gente aqui dentro não reconhece o trabalho, não?
Evaristo de Miranda – Exato. E a presença no comércio internacional é um bom exemplo. As nossas altas autoridades têm certa dificuldade em entender o que o segmento representa para a nossa economia. Exportamos no ano passado 167 bilhões de dólares. 40% de absolutamente tudo o que o Brasil vendeu ao exterior. 193 milhões de toneladas apenas de grãos. Só no milho fazemos mais que uma Ucrânia inteira. E ainda importamos US$ 16 bilhões.
AgroRevenda – Estamos conseguindo diversificar nosso cardápio de embarques?
Evaristo de Miranda – Bastante. Mandamos maçã e gado vivo para a Índia. Gergelim para o México. Neste caso, entramos na rota mundial de comércio há apenas três anos e já somos o segundo maior fornecedor da Arábia Saudita. Você ia para Canarana, em Mato Grosso, em 2018, e não existia um metro cultivado dessa planta. Hoje, temos 100 mil hectares. Isso sem máquina adequada para plantar e colher. Ainda tem mucosa intestinal de animais para a Indonésia, genética bovina para o Iêmen, um país arcaico, mas que é cliente do nosso país. Genética avícola para Senegal, África do Sul, pênis bovino para os argentinos, frango para a Polinésia Francesa e o Butão. Nossa agricultura tem uma dinâmica fantástica. Entretanto, o público urbano não sabe nada disso.
AgroRevenda – Não temos nenhum desafio nesta área?
Evaristo de Miranda – E como. Veja o caso dos ovos. Exportamos apenas 1% da produção, material in natura e processado. Por outro lado, passamos de 10 mil para 25 mil toneladas em apenas um ano. No ano que vem, vai ser 50 mil e assim por diante. Para compradores exigentes como o Japão. Eles confiam em nosso alimento. Feito com agricultura de precisão. Mas veja o caso da África do Sul, que compra nossa genética, mas não a carne de frango. Por decisões que são mais políticas e econômicas do que respeito às normas internacionais de comércio.
AgroRevenda – Que eixo novo é esse que o senhor acredita envolver o Brasil?
Evaristo de Miranda – É um triângulo recente, que deu peso geopolítico robusto ao Brasil, fundado na matriz mais importante que existe: a segurança alimentar. Os vértices são Brasil, Rússia e China. Os russos e os fertilizantes, que inclusive ficaram mais baratos. Eles adubam os nossos solos, que produzem alimentos que os chineses compram. Uma realidade consagrada, que transmite segurança aos três países. E ainda existe um quarto vértice, que é a sustentabilidade, importante para eles, é eficiente e sacramenta a inovação.
AgroRevenda – É a palavra mágica do nosso agro?
Evaristo de Miranda – No Brasil, produtividade é sinal de inovação. Sustentabilidade também. Falo de cuidar do meio ambiente com tecnologia. Não é criar boi no período Neolítico. Sustentabilidade, rentabilidade e inovação são sinônimas, seguem juntas. O que desenvolvemos foi um modelo de agricultura tropical como nunca se viu no mundo. Mudamos a terra de nosso país com calcário, insumos, bioinsumos e não paramos de inovar. E com a genética, tropicalizando diversas culturas. Semeando trigo na Amazônia. Mais saúde, nutrição, produtividade. Envolvendo máquinas, equipamentos, insumos e instalações. E o que mais impressiona os povos do mundo inteiro. Aposentando o arado. Performance, fixação de nitrogênio no solo, investimento em sementes ultramodernas. Ninguém tem nada comparável. Se fôssemos produzir 300 milhões de toneladas com a produtividade dos anos 1970, iríamos precisar de 200 milhões de hectares de terra. Deixamos de desmatar tudo isso.
AgroRevenda – Mas permanecemos sendo difamados no cenário ambiental internacional, certo?
Evaristo de Miranda – E sem motivos. São números. Usamos 7,8% de nosso território para o cultivo agrícola. Segundo a NASA (Agência Espacial dos Estados Unidos), usamos menos, 7,6%. Na Europa, a Dinamarca passa arado em 77% do território para plantar. E ainda tem a pastagem deles. A Ucrânia, que tem os melhores solos do mundo, cultiva 75% da área do país. O mesmo ocorre na França, Bélgica, Alemanha e Inglaterra. Em torno de 65%, na média. Sem falar na área destinada aos pastos. Ora, o Brasil pode até crescer bastante em área cultivada. Se arar o dobro, a produção vai ser triplicada. Com integração, terceira safra, gado engordando no inverno. Sem falar que o tamanho de nossa pastagem vem caindo e o rebanho bovino aumentando. Com o dobro de produção e produtividade dando salto de até 150%. Desfrutando mais do plantel. Reduzindo a idade de abate e melhorando a qualidade. Com todos os impactos positivos de produção e proteção ambiental. Também precisamos explicar isso às pessoas das cidades. Que 20% daquele diesel usado no caminhão que estaciona no supermercado com carcaças bovinas é sebo de boi. E temos cortes para todos os clientes mundiais e do mercado interno. Até doze tipos diferentes. Temos escala, abatemos o animal do jeito que o cliente desejar, perguntamos como ele quer e atendemos. Na Europa, o cliente compra o corte que tiver na frente dele ou não compra porque não vai ter atendimento.
AgroRevenda – O que motivou tanto sucesso da pecuária brasileira?
Evaristo de Miranda – Para mim, esse resultado incrível veio da nutrição. Fontes de energia, proteína, minerais, probióticos. E a pastagem, que vem melhorando bastante até porque estamos meio atrasados nessa área. Mas tem, ainda, a sanidade animal atendendo um país gigantesco. E só depois vem a genética, na minha visão. Um tema também importante, temos muitas raças, regiões produtivas bem diferentes. Com a especialização de todos os elos da cadeia. Confinamento, bois criados perto de lavouras, integração, DDGS, vários setores produzindo juntos. E precisamos melhorar a distribuição de insumos e da carne no Brasil. Chegar mais perto dos resultados alcançados pela nossa agricultura.
AgroRevenda – Quem é o dínamo de tantos resultados?
Evaristo de Miranda – Não é o trator. É o cérebro. Gente dando o sangue, pesquisando, calculando. O produtor rural, o empreendedorismo do agricultor, do pecuarista, do cientista, da Embrapa, da universidade. É isso que temos que vender. Cérebros. No exterior, eles nem imaginam a nossa capacidade. E nas cidades brasileiras, lamentavelmente, muito menos.
AgroRevenda – Qual foi a importância do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para determinar quanto exatamente o produtor rural brasileiro preserva?
Evaristo de Miranda – Foi vital para delimitarmos as áreas de proteção permanente, reserva legal, remanescente de vegetação no território todo. Isso tudo com variação de cinco metros. No Estado de São Paulo, usamos apenas um metro. E a Embrapa capturou e processou os dados para calcular a vegetação nativa. Existem outras informações na plataforma, mas o básico é vegetação nativa. Dedicação à preservação. Que resultou em 33,2% do território nacional inteiro. Ou seja, 2,8 milhões de quilômetros quadrados de propriedades privadas dedicadas à biodiversidade, aos macacos, animais todos, à fauna, à flora. Na média, é o único produtor rural do mundo que preserva metade da propriedade sem poder usar comercialmente e ainda não recebe absolutamente nada por isso. De ninguém. E recebe críticas diárias do poder público e da sociedade. E ainda são responsáveis por esses ‘pequenos parques públicos’ dentro da fazenda dele. O proprietário é que tem que fiscalizar as áreas no caso de queimadas criminosas, corte ilegal de árvores, impedir o gado de entrar, fazer aceiro, instalar cercas, gastar tempo e energia para vigiar e, muitas vezes, em áreas mais perigosas, colocar seguranças armados para vigilância.
AgroRevenda – Quanto custa essa ‘vigilância inapropriada’ dos produtores?
Evaristo de Miranda – Ainda estamos calculando junto com a Embrapa, por ano, mas podemos adiantar que o custo vai de dez a quinze bilhões de reais por ano. E o pior. Quando um investidor compra uma área em Sinop, por exemplo, região amazônica, ele paga por 100% da área, mas não pode tocar em 80% dela. Essas obrigações legais variam de norte a sul do país. Mas calculamos quanto o produtor comprou de área e é proibido de investir, usar comercialmente, de qualquer maneira. Não é lucro cessante, é patrimônio imobilizado. São inacreditáveis R$ 3 trilhões. Dedicados ao meio ambiente. Alguém sabe disso na cidade? Entre os ambientalistas? Qual categoria profissional em nosso país coloca algo do seu patrimônio privado em nome de preservação? Os jornalistas? Os ambientalistas? Os juízes dos tribunais superiores? Os médicos? Advogados? Não existe nenhum profissional que dedique mais dinheiro, tempo e recursos em nome do meio ambiente do que o produtor rural. E desafio quem discordar. São fatos, pouco conhecidos, infelizmente. Se alguém tem outros dados, diferentes, que apresente e vamos conversar. Vamos agradecer bastante.
AgroRevenda – Mas a área preservada no Brasil é bem maior, não?
Evaristo de Miranda – Quando você junta todas as áreas protegidas, que são públicas, parques nacionais, estaduais, estações ecológicas, terras dos índios, terras públicas devolutas, outras preservadas, dá 56 %. Você não pode mexer. Sobra o resto. Logo, ficamos menores do que vários outros países. Porém, tem mais imobilização produtiva. Áreas militares, onde o ambiente é totalmente preservado e é péssima ideia querer invadir. Tudo chega a 66% de terras no país com áreas protegidas. O desmatamento na região amazônica é inexistente. E mais. 29% da área que já foi desmatada naquela região voltou a ser floresta intensa. Mata, mata mesmo. Lugar fechado. Temos isso registrado nos mapas. Recuperação florestal. Números absolutamente estáveis.
AgroRevenda – Mas e a gritaria, principalmente dos europeus?
Evaristo de Miranda – Todo o nosso patrimônio vegetal preservado equivale a 48 países da Europa. E a área preservada por eles não equivale, em nossa região, nem a um Panamá. Que é um país que até preserva bastante, mas é pequeno. A questão é que tudo o que fazemos não é reconhecido se não for conhecido.
AgroRevenda – E como é esse ‘duelo’ de argumentos?
Evaristo de Miranda – Simples, sempre que participei de encontros internacionais, mostramos o nosso gráfico de áreas protegidas, preservadas, agrícolas, pecuárias, devolutas. Mas eles não levam os dados deles. Faltam aos encontros técnicos. Só ficam fazendo discursos ideológicos, políticos. E as conversas científicas exigem debate e tempo. Quando me perguntam qual a área de pastagem no Brasil eu respondo: no verão ou no inverno? Perguntam: qual a área de plantio no Brasil? Eu respondo: no verão ou no inverno? No nosso país, a dinâmica é impressionante. Tanto que acho que temos de trabalhar com o conceito de hectare/mês e não mais hectare/ano. A estatística vai ter que entrar nisso e ponderar. Fazemos transições de produção que o mundo não compreende. Por falta de conhecimento mesmo. Avaliamos os mapas da agricultura americana e vimos que eles fazem os diagramas deles corretamente. Porque são daquele jeito. E por que eles fazem daquele jeito? Porque fazem assim. E nós, porque temos esses mapas meio malucos, com intersecção? Porque fazemos agronegócio assim. E por que fazemos assim? Porque fazemos assim.
AgroRevenda – Você atua hoje de forma diferente, fora da Embrapa, e enfrenta muita hostilidade da visão corporativa da universidade pública brasileira. Como está enfrentando essa realidade?
Evaristo de Miranda – Continuo indo às universidades e esse é um público muito hostil para mim. E peço a eles que reflitam sobre a diferença entre pensar e refletir. E dou minha opinião. Refletir é incomodar os pensamentos. E bombardeio o pessoal de informações concretas. E espero que eles sejam honestos. Isto é, leiam e tenham discernimento sobre o que parece mais plausível. Também distribuo meus livros, exemplares patrocinados, e também entregues por autoridades para gente do mundo inteiro. Com edição até em mandarim. As delegações chinesas que vieram ao Brasil ficaram enlouquecidas. Além de ter ido para a COP (Conferência das Partes, órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) com tradução em árabe. E estou negociando a tradução em francês.
AgroRevenda – Por que tanta energia para comunicar para gente pouco interessada?
Evaristo de Miranda – Temos um contingente grande de pessoas trabalhando na comunicação do agro. Eu mesmo falo com populares, ao lado do pessoal da televisão, no cafezinho, em comentários de dois minutos que faço por semana. Explicando o agro com dados botânicos, históricos e culturais. E ainda em programas de 25 minutos, presença em revista, artigos. Tratando de informações que são novidades para as pessoas. Falando de coisas como o transporte marítimo ser o oitavo maior poluidor do planeta. E de países como a Mongólia, que não tem mar, mas possui a terceira maior frota de navios do planeta. E que um navio de cruzeiro moderno emite mais metano do que 10 mil vacas. E dentro dele estão turistas, na beira da piscina, bebendo seus drinks, falando da Amazônia e comentando como o mundo está com problemas ambientais. E se falarmos em CO², os vinte maiores barcos de transporte de soja, milho, gás e petróleo, emitem mais do que toda a frota mundial de carros. Alguém fala sobre isso? Eu tenho uma equipe pequena e somos de dentro do setor. E tem o time de fora, sem qualquer ligação com o agro, e que trata do tema. Nós falamos porque estamos dentro. Quem é da área se interessa. Meu time fala. Com a autoridade de quem fala. E preciso de ajuda financeira para manter o universo que construí junto com todos da cadeia. Em Deus, a gente acredita. O resto precisa trazer dados. Dado é dado. Argumento é uma coisa. Convicção é outra.
AgroRevenda – E como você escolhe os assuntos que vai comentar?
Evaristo de Miranda – Tenho quatrocentos temas para trabalhar ao longo do ano. Calendário mesmo. Cobrindo todas as cadeias produtivas, todos os insumos e biomas. Eu não sou reativo às novidades em política. A não ser algo aqui e acolá. Por exemplo, começa uma vacinação contra a gripe e eu gravo algo, falo da importância da imunização, produto feito a partir de galinhas criadas exclusivamente para isto, um galo para cada 10 galinhas, nutrição especial para fazer ovo, pintinho que recebe uma ‘cacetada’ de vírus, aguenta e dá origem à vacina. Peço para todos do setor falarem sobre isso com as enfermeiras, os idosos que estão na fila, os médicos, etc. Uma indústria de sanidade que movimenta oito milhões de ovos por mês. A gente precisa tratar com a sociedade a partir de assuntos fáceis, mas que surpreendam. Como o pneu que tem a faixa de borracha, mas só conseguiu uma mistura estável utilizando óleo de soja. 40% dos pneus utilizam a tecnologia, que aumentou a adesão, a durabilidade, a segurança, a frenagem e a estabilidade dos veículos. São fatos. Não mentiras.
AgroRevenda – Como consegue apoio para manter uma equipe?
Evaristo de Miranda – É um trabalho que realizo toda semana, sem parar. Custa, preciso de ajuda financeira para manter a equipe de agrônomos e jornalistas. Ao menos R$ 40 mil por mês. Mas ofertamos nossa audiência de dois milhões de pessoas nos centros urbanos. Em canais abertos e nas redes sociais. Para sermos conhecidos precisamos mostrar o valor do que realizamos. E o mais básico do agro as pessoas não conhecem. Logo, um número pequeno já está bom. Desde que seja surpreendente. Como o biodiesel ter 20% de sebo de boi em sua formulação. E o objetivo é colocar esse público numa atitude positiva em relação à agricultura. Até porque aumentou bastante a ofensiva contra o agronegócios nos últimos dois anos.
AgroRevenda – E os jovens, como atrair?
Evaristo de Miranda – Olhe, eu me considero apenas um ‘pequeno polegar’. Aposto na persistência, na constância. Eu não me concentro exclusivamente nos jovens. Penso neles, mas também nos idosos, nas crianças. Procuro me orientar por datas, como festas juninas, páscoa, natal, a família, o peru, matrizes importantes que eu construí ao longo dos anos. E ainda existem as informações que precisamos repetir, como pedagogia vertical mesmo. Muitas vezes, a reprise de um programa dá mais audiência do que o inédito. Procuro cobrir as cadeias produtivas mais poderosas, como soja, milho, algodão, cana, carnes, mas também o gergelim e os biomas. Trabalhar sistematicamente para obter o melhor resultado possível.
Frases de Evaristo de Miranda:
- “No Brasil, produtividade é sinal de inovação. E sustentabilidade. Falo de cuidar do meio ambiente com tecnologia. Não de criar boi no período Neolítico”.
- “Gosto mais de dados do que de opiniões. Eu tenho os dados. Se alguém tiver dados, vamos confrontá-los”.
- “No Brasil, a dinâmica é impressionante. Tanto que acho que temos de trabalhar com o conceito de hectare/mês e não mais hectare/ano. A estatística vai ter que entrar nisso e ponderar. Fazemos transições de produção que o mundo não compreende”.
- “Continuo indo às universidades e esse é um público muito hostil para mim. E peço a eles que comparem a diferença entre pensar e refletir”.
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