Levantamento mostra retração de 2,1% em agosto e alerta para efeito combinado de juros altos, câmbio valorizado e restrições comerciais dos EUA.
A produção da agroindústria brasileira caiu 2,1% em agosto de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), calculado pelo FGVAgro. Essa é a terceira queda consecutiva do indicador, que acumula recuo de 0,5% no ano, confirmando a perda de fôlego do setor diante de um cenário interno e externo adversos.
Os dados mostram que a retração foi puxada principalmente pelos segmentos de Bebidas (-4,9%) e Produtos Não-Alimentícios (-4,2%). Dentro do setor de bebidas, as alcoólicas registraram queda de 11,8%, atingindo o menor nível para o mês de agosto desde 2014. A FGV ressalta que a redução ocorreu antes da crise sanitária provocada por contaminações com metanol, verificadas apenas em setembro, o que indica uma tendência estrutural de desaceleração já em curso.
Entre os produtos não alimentícios, a produção de biocombustíveis teve um tombo histórico de 24,1%, o pior resultado para o mês em duas décadas de série histórica. O recuo está ligado à menor moagem e qualidade da cana-de-açúcar, à redução da demanda doméstica e à opção das usinas por destinar mais cana à produção de açúcar, em um contexto de preços internacionais mais vantajosos.
De acordo com o relatório “Agro encolhe com tarifaço”, o desempenho do setor reflete também o impacto das novas tarifas de importação dos Estados Unidos, anunciadas em julho pelo governo Trump. O estudo alerta que o efeito do chamado tarifaço não se limita à queda das exportações brasileiras para o mercado norte-americano, mas provoca deterioração das expectativas e aumento da incerteza entre empresários de diferentes segmentos.
O FGVAgro avalia que 2025 tem sido um ano de transição difícil para a agroindústria nacional, com política monetária ainda restritiva, valorização do real e instabilidade geopolítica que afetam diretamente o apetite do mercado externo. “O conjunto desses fatores reduziu a competitividade das exportações brasileiras e ampliou a cautela dos investidores, especialmente em ramos dependentes de energia e insumos importados”, aponta o relatório.
Mesmo com o cenário desafiador, alguns segmentos mostraram desempenho positivo em agosto. A produção de insumos agropecuários cresceu 7,3%, impulsionada pela recuperação da demanda por fertilizantes e defensivos, enquanto o setor de fumo avançou 30,9%, revertendo parte das perdas do primeiro semestre. Esses resultados, no entanto, não foram suficientes para compensar as quedas nos setores de maior peso.
O estudo reforça que o desempenho da agroindústria é um termômetro da economia rural e urbana, já que conecta a produção no campo com o processamento, a logística e a exportação. “A continuidade da desaceleração do PIMAgro acende um sinal de alerta sobre o encadeamento produtivo do agronegócio”, conclui o relatório.




