Os telejornais das principais emissoras de televisão exibiram nesta sexta-feira à noite reportagens sobre a ótima safra brasileira de grãos.
Uma raríssima referência a um setor que é responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e por colocar comida na mesa de brasileiros confinados, desempregados, doentes, hospitalizados, policiais, bombeiros, caminhoneiros, médicos, enfermeiros, etc.
É isso mesmo?
A China refez as contas e informou que morreram 3.869 pessoas de coronavírus, de dezembro passado até o momento.
O país tem uma população de 1,5 bilhão de habitantes.
É isso mesmo?
No Brasil, são pouco mais de duas mil pessoas mortas em um mês.
Num país que tem 206 milhões de habitantes.
É isso mesmo?
No mundo inteiro, morreram até agora, de coronavírus – sem contar os mortos de outras doenças, tragédias, acidentes, tiros, etc., que a mídia não destaca, nem informa – 160 mil pessoas.
O planeta tem mais de sete bilhões de habitantes.
É isso mesmo?
Um juiz decidiu que o governo federal deve liberar o pagamento da ajuda do Covide-19 a brasileiros que não apresentarem o CPF.
Em que planeta esse senhor vive?
É isso mesmo?
Antes da pandemia, o Brasil precisava urgente de reformas porque o déficit nas contas públicas era de R$ 140 bilhões de reais por ano.
Em dois meses, o Congresso Nacional quer aprovar medidas que elevam o déficit para R$ 500 bilhões.
É isso mesmo?
O ex-ministro da saúde fez fama por pregar o confinamento, a distância de dois metros entre as pessoas, uso de máscara, não se tocar, não por a mão no rosto, não usar redes sociais, não abraçar.
Tudo o que fez nos últimos dois dias.
É isso mesmo?
A Gripe Espanhola, há um século, matou 50 milhões de pessoas numa época em que praticamente não havia vacinas, antibióticos, leitos em hospitais, sistemas públicos de saúde, informação disseminada, informática, indústria de escala, alimentos para todos, planos de saúde, água encanada, esgoto, globalização, mídias em profusão, hospitais provisórios, etc.
Hoje, temos tudo isto.
É isso mesmo?
Antes da pandemia, os ‘jornalistas’ do Brasil cansavam de fazer reportagens sobre a falência do SUS, corredores lotados, falta de uti´s, ausência de equipamentos, médicos, enfermeiros e auxiliares estressados.
A ‘saúde estava na UTI’, gostavam de repetir como papagaios, em mais um chavão tenebroso.
Hoje, o confinamento é defendido para impedir que o SUS entre em colapso e não tenha mais leitos em uti´s e respiradores para tantos doentes.
É isso mesmo?
Antes da pandemia, todos os meios de comunicação se recusavam a citar nomes de empresas em reportagens que falavam de ajuda a pobres, carentes, deficientes, etc.
Diziam que era ‘fazer comercial’.
Agora, o destaque aos nomes e às marcas das empresas é escancarado, na abertura de reportagens, com entrevistas do presidente das empresas e não de assessores de imprensa como antes.
O programa ‘jornal’ nacional tem até seção diária criada especialmente para este fim.
Bem num momento de dificuldade para conseguir anunciantes.
É isso mesmo?