Grupo Sarabia comanda um negócio vencedor de fabricação e distribuição de insumos no Paraguai, trouxe a marca Tecnomyl ao Brasil há cinco anos e trabalha para atingir 5% de Market Share nos próximos anos.
Difícil imaginar que aquela travessia iria marcar o início de uma história de um dos maiores exemplos de força produtiva e tecnológica que marcaram o agronegócio da américa latina nas últimas quatro décadas. Jornada que começou na pequena Ibiporã, norte do Paraná, ao lado dos pais Sebastião e Ana, e de sete irmãos, na lida com o cafezal. Tempo de trabalhar todo dia desde cedo, ajudando em todas as tarefas da casa ao lado dos irmãos e vivendo dos alimentos obtidos da criação familiar de suínos, galinhas, legumes e verduras. Esforço herdado dos avós paternos e maternos que vieram da Espanha e da Itália para a lida agrícola nas terras vermelhas de Ribeirão Preto e do norte paranaense.
Estudar era uma regra absoluta na família e Marcos foi cursar Agronomia na Universidade Estadual de Londrina, morando com uma tia e usando o tempo vago para ganhar um dinheiro à noite, como professor de supletivo. Terminou a faculdade e resolveu ‘cair na vida’. Em 1987, procurou emprego em São Paulo sem sucesso. Logo depois, participou em Londrina de uma seleção para atuar como vendedor na Defensa, empresa de agroquímicos sediada no Rio Grande do Sul, onde permaneceu durante seis anos. Ao mesmo tempo, cultivava uma ideia fixa: Empreender.
Ter um negócio próprio, ganhar mais, criar algo novo. E tentou bastante. Plantou tomate ao lado do irmão, encantou-se com os conceitos de vendas de uma multinacional de produtos de limpeza e higiene, comercializou carvão para churrasco, cosméticos e lingerie. Nesse meio tempo, conheceu o Paraguai. “Sempre fui muito dedicado. Para fazer negócio, e foi nesta época que pensei em abrir uma revenda no país”, lembra.
No início da década de 1990 surgiu a Agrofértil, empresa especializada em vendas de insumos e assistência técnica qualificada. Marcos no comando, juntamente com o irmão recém-formado Paulo. A vida não era nada fácil. Conseguir fornecedores e ter capital de giro para tocar o negócio era um grande desafio. Mas foram crescendo aos poucos. No caminho, em 1998, surgiu a oportunidade de comprar metade de uma indústria, até então pequena, que fornecia insumos, a Tecnomyl. Um barracão de mil m2, três mil m2 de terreno, em Villeta, a 33 km de Assunção, pertencente a sócios paraguaios e um argentino. “No início tínhamos receio de produtos nacionais, mas testamos e vimos que eram de boa qualidade”, conta Marcos.
O negócio fechado abriu vários horizontes. Assumiram integralmente a fábrica mais adiante, promoveram grandes ampliações e foram atrás de maior conhecimento sobre operação industrial. “Fomos aprendendo com o tempo. Eu comecei na área técnica, mas sou mais adepto a área comercial, relacionamento com clientes e fornecedores. Em 2001, fiz a primeira viagem para a China, visitei fornecedores e me aprimorei nas questões que envolvem solventes, matérias primas, estruturas industriais”, relata.
Mais adiante chega um novo sócio, o outro irmão, Toninho, que tinha uma bagagem trabalhando em banco e passou a tocar um segmento estratégico para o grupo e que ganhou força com o tempo: Compra de terras e produção de grãos e pecuária. “Quando a empresa começou a ter bons resultados, decidimos investir no mesmo setor. Compramos propriedades no Paraguai a partir de 2003 e iniciamos na agricultura em 2006. Depois, a partir de 2013, foi a vez do Brasil. Visitamos alguns estados e acabamos optando pelo sul do Pará, em Redenção.” fala.
Enquanto isso, o irmão Paulo seguiu liderando a área comercial da Agrofértil, estratégia, controles, preços e estoque. “Ele controla tudo muito bem e isso faz muita diferença para o negócio. Na área comercial, é vital saber o momento exato de tomar uma decisão, ter uma boa leitura de mercado, acompanhar os dados diariamente, as margens etc. É um exercício que fazemos bem e vamos seguir desenvolvendo no Brasil, que é um país com muitas regiões distintas, negócios diferentes, seguir sempre aprendendo é a chave do sucesso”, crava.
Foi justamente nesta década que surgiu a proposta de levar parte do negócio para o Brasil. A constituição legal da empresa no Brasil foi realizada em 2002 e o primeiro pedido de registro de produto dois anos depois. Mas havia muitas dificuldades por causa das questões burocráticas no registros dos produtos e o negocio iniciou de fato somente em 2018. “Mas fomos ganhando musculatura para entrar no país. Entender como trabalhar com o câmbio, a parte tributária, a melhor maneira de montar equipes”, recorda.
E haja músculo. O ano de 2023 terminou para o Grupo Sarabia com mais de dois mil colaboradores, sendo mais de um terço com nível superior e com um faturamento de US$ 1,55 bilhão, mais de duzentos produtos registrados nos três países, próximo a 30% de participação no mercado paraguaio de defensivos com a Tecnomyl, 21% de participação na distribuição de insumos com a Agrofertil, 27 silos, capacidade de armazenar 700 mil toneladas de grãos e uma fábrica de produtos biológicos novinha. Uma jornada de três décadas que conquistou o posto de maior Grupo empresarial do agronegócio do Paraguai.
O sucesso foi tão rápido como a trajetória no Brasil. Empresa enxuta, com 170 colaboradores, setenta pessoas no campo, dois escritórios, em Foz e em Curitiba, além de sete regionais de vendas. O ano de 2024 deve se encerrar com faturamento próximo a US$ 500 milhões. “Atualmente, as opções de crescimento são enormes. Mesmo com vários grupos disputando o mercado. Planejamos chegar a 5% de market share no Brasil no médio prazo. Pelo nosso know-how, as companhias do Grupo, o conhecimento em crédito, barter, tudo o que construímos no Paraguai, planejamos fazer aqui na Tecnomyl Brasil. Lá, somos o dobro do segundo. Logicamente no Brasil, há mais dificuldades pelo próprio tamanho do negócio e suas complexidades”.
A animação deste santista que adora futebol e já viu de perto cinco copas do mundo parece a mesma fixação por empreender. E traz o futuro na ponta da língua. Os novos negócios já ganharam forma com o centro de inovação H2O Innovation, a plataforma de serviços digitais YVY Agricultura Digital, e a fintech GS3. A forte atuação social e ambiental é amparada pela Fundação Sarabia e o SIGEV. “Estamos construindo uma nova planta para formular produtos com base em Mancozeb, que ficará pronta na metade do ano que vem. E estudamos erguer outra, de nutrição vegetal.
Nossa convicção sempre será ter um portfólio amplo e diferenciado. Temos hoje artilharia similar às grandes companhias. Nosso estudo de moléculas é profundo. No Paraguai, somos o número um de longe, porém temos que defender nossa participação no mercado. Mantemos um olhar muito especial para o Brasil, temos uma equipe preparada, agora é trabalhar firme, investir em tecnologias inovadoras, manter-se conectado ao crescimento dos biológicos, amparado pela nossa fábrica que já está rodando. Penso que todo negócio depende de quem faz melhor”, receita.
Falando sobre tanta energia, agora na direção inversa de volta ao país natal, Marcos Sarabia diz que um empreendedor não pode ter limites e cita o industrial José Odvar Lopes, que também ‘venceu’ no Paraguai e decidiu, em 2019, erguer plantas industriais no Brasil para produzir etanol de milho, tornando-se o maior da América Latina e viabilizando grande parte do milho safrinha no Mato Grosso. “O mundo desenvolve com o empreendedorismo, se pararmos, um concorrente passa na nossa frente. Veja o nosso caso, se tivéssemos pisado no freio há dez anos, não teríamos crescido dessa forma.” raciocina.
E o empreendedor arregala os olhos quando afirma como enxerga a continuidade desta caminhada. “Estamos trabalhando e criando novos negócios pensando na sucessão. Seguir crescendo e, ao mesmo tempo, introduzir os filhos no negócio. Só eu, tenho quatro filhos e, se não pensar no tema, diante de tudo isso que foi construído, não tem sentido. Há empresas que viram sociedade anônima e contratam executivos para tocar o negócio. Tudo certo, mas o objetivo deles nem sempre é o interesse integral dos donos.
Desejo que os herdeiros liderem os negócios no futuro, assumindo cargos de direção, e já estão assumindo, aos poucos. Enquanto isso, divido todas as decisões com os demais acionistas e diretores das empresas, cuido de várias atividades, em especial na Tecnomyl.” conclui.
Certamente, o pensamento empreendedor e o anseio de ver os negócios sendo passado de geração em geração motivou o empresário a escrever o livro, recém lançado “Sementes de Sucesso”, onde conta toda a sua vida pessoal, acadêmica e profissional, com a família no centro.