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2024 vai ser um ano inteiro para profissionais. Um mundo inteiro ressabiado. A moeda que importa no planeta inteiro tem um nome. Dólar. E ele teima em esperar. Compasso de espera. Nos Estados Unidos, o motor da economia internacional há quase dois séculos, o Banco Central deles (FED) está adotando uma abordagem cautelosa e indica que precisa de mais evidências de que a inflação vai se estabilizar em torno da meta prometida pelo Governo Biden de 2%. Os indicadores de atividade econômica apontam para um crescimento mais robusto e um mercado de trabalho em queda, mas que resiste acima do previsto. O resultado pode ser o início de um ciclo de cortes nos juros ainda neste segundo trimestre. Do outro lado do Oceano Atlântico, o Banco Central Europeu (BCE) parece manter os juros altos por um período maior, forçando a barra para os países garantirem taxas de inflação mais próximas das metas prometidas. Contudo, a desaceleração da atividade econômica e da inflação além do esperado preocupa e pode levar as autoridades monetárias financeiras a reduzir as taxas de juros ainda em 2024. O gigante chinês está recalibrando sua economia, com o anúncio de estímulos específicos, incluindo cortes nas taxas de juros para revitalizar os setores imobiliário e financeiro. Contudo, o mercado aguarda por mais incentivos o mais rápido possível. Até porque os riscos inflacionários estão equilibrados. A atual queda nos custos de produção dos agricultores reduz os preços dos alimentos ao consumidor. Mas, o mercado de trabalho aquecido e a política fiscal expansionista mantém a inflação de serviços relativamente aquecida. Nada melhor do que gerir bem os negócios, não arriscar e dar uma rezada para que o clima e o ambiente global diminuam os riscos de problemas.
BRASIL
O ritmo lento, de ‘samba canção’, é parecido na economia brasileira. O mercado aguarda uma inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo- IPCA) de 3,9% neste ano. Porém, o Comitê de Política Monetária (Copom) já avisou que não vai mais se comprometer com grandes cortes nas taxas de juros. Mesmo com atividade econômica boa e inflação em desaceleração. E informou que as expectativas de inflação seguem ‘desancoradas’. O remédio? Cautela e canja de galinha. A Selic (taxa de juros oficial do Banco Central do Brasil) pode cair a 9% até o fim do ano. A atividade econômica seguirá em recuperação até dezembro, assim como o mercado de trabalho. As condições de crédito continuarão a melhorar com o ciclo de cortes de juros. Embora a safra de grãos não atinja os níveis extraordinários de 2023, a expectativa é de um bom desempenho. Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 1,8% em 2024, balança comercial robusta e conta corrente ainda com um déficit. Para uns, bem comportado (-1.6% do PIB). Para outros, déficit não é superávit. Apesar da balança contribuir para apreciar o câmbio, incertezas advindas do cenário fiscal e do calendário de eleições municipais não permitem que o câmbio aprecie mais, sobretudo até o fim deste primeiro semestre. Contudo, um cenário global positivo, com cortes de taxa de juros pelo FED e pelo BCE, tende a apreciar o câmbio no segundo semestre. Ao fim de 2024, o dólar pode chegar a 5 reais.
FERTILIZANTES
A compra neste ano atrasou, sim, mas não deve ficar menor do que em 2023. Os produtores enxergavam os preços dos insumos em queda, desta forma, optaram em postergar a aquisição dos insumos, o que de certa forma foi uma decisão acertada para eles. Já em 2024, muito se comentou a respeito do atraso nas compras dos insumos para a próxima safra. Mas isso ainda não deve ser traduzido como redução na intenção de investimento, apesar das margens mais apertadas em 2023 | 2024 e, provavelmente, 2024 | 2025. Diferentemente do observado nas últimas três safras, o ciclo atual tem colocado os produtores de volta a uma realidade de margens operacionais mais apertadas. Isto está ocorrendo num cenário em que a cotação dos grãos apresentou queda e tem afetado muito as margens, apesar da queda nos custos operacionais. De acordo com números do Rabobank, os custos operacionais para a safra 2023 | 2024 apresentaram uma queda de 15% em relação à safra 2022 | 2023. Grande parte desta queda foi causada pela retração nos custos com fertilizantes, que levaram a uma redução de quase 40% nos custos com adubação. Assim, observamos uma recuperação bastante impressionante nas entregas dos fertilizantes ao longo de 2023. Os números das entregas da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA) mostram que foram entregues 45,83 milhões de toneladas de fertilizantes ao consumidor final, aumento de 11,6% em relação a 2022, quando foram entregues 41,08 milhões de toneladas. Para 2024, pode-se imaginar que o recorde de 2021 deva ser batido. Os modelos do Rabobank apontam que as entregas de fertilizantes devem ficar ao redor de 46,5 milhões de toneladas. E os produtores devem postergar a aquisição dos insumos para a próxima safra, na intenção de repetir a estratégia do ano passado, mas não se pode excluir que parte desse atraso se dá pelo foco dado para a safra atual, uma vez que a colheita da soja e o plantio do milho vêm mantendo os produtores bastante ocupados nas propriedades. Porém, passado isso, o foco deve ser na aquisição dos insumos a fim de que não ocorram atrasos no plantio da safra.
CANA, AÇÚCAR E ETANOL
O mercado de etanol vai ficar mais equilibrado em 2024 | 2025? Desde o último trimestre do ano passado, chuvas irregulares e altas temperaturas em várias regiões relevantes para a produção de cana-de-açúcar levaram a um consenso de que a moagem no Centro-Sul em 2024 | 2025 deveria ficar entre 590 e 600 milhões de toneladas. O que representa uma redução significativa em comparação com a expectativa anterior de 650 milhões ou mais para 2023 | 2024. Já o açúcar, depois da queda brutal nos preços em dezembro, no contexto histórico, vem com valores equivalentes em reais bons. Além disso, boa parte das exportações previstas para 2024 | 2025 já tem previsão de preços pelo menos iguais. Ou até melhores. Para onde apontam os fundamentos do mercado de açúcar? O primeiro trimestre acabou com ótimas vendas externas brasileiras. Olhando à frente, o quadro global mostra relativo equilíbrio, com um leve excedente de 1,9 milhões de toneladas. Os preços do etanol, por outro lado, vem sofrendo, mesmo durante a entressafra. O açúcar pode cravar 51,5% do mix no Centro-Sul em 2024 | 2025, graças aos investimentos realizados no processamento do produto.
Assim, será que o mercado de etanol pode se reequilibrar até o ano que vem? No Brasil, a produção pode alcançar 26 bilhões de litros em 2024 | 2025, após atingir 29,3 bilhões de litros em 2023 |2024. No entanto, a produção de etanol de milho permanece crescendo, de 6,1 bilhões de litros estimados para 2023 |2024 para uma faixa de até 8 bilhões de litros em 2024 | 2025. Números preliminares sugerem oferta total de etanol caindo 5%, de 35,4 bilhões de litros em 2023 | 2024 para 33,8 bilhões de litros em 2024 | 2025. Pelos cálculos do Rabobank, considerando que a mistura obrigatória de etanol anidro permaneça em 27%, o desconto médio do preço do etanol hidratado em relação à gasolina na bomba ficaria em torno de 67% em 2024 | 2025, ligeiramente maior do que as 65% estimadas para 2023 | 2024.
CAFÉ
A safra brasileira 2024 | 2025 vai crescer, mas abaixo do potencial inicial. A produção deve ficar em 69,8 milhões de sacas de 60 kg, sendo 46,5 milhões de café arábica e 23,3 milhões de café conilon. Elevação de 5,7% na produção total sobre a safra anterior. Com estabilidade no conilon e incremento de 8,8% no arábica sobre o ciclo passado. As principais regiões produtoras de conilon apresentaram cenários variados. Na Bahia, a previsão é de aumento na colheita. Em Rondônia, redução de 9,2%. No Espírito Santo, a produção deve permanecer estável. O clima seco até dezembro passado impactou negativamente a produção tanto em Rondônia quanto no Espírito Santo. Quanto às regiões de café arábica, espera-se uma safra excepcional na Zona da Mata Mineira e no Espírito Santo. Contudo, no Cerrado Mineiro, a previsão é de uma significativa queda, de 23,5% na produção, afetada pelo clima seco e pela bienalidade produtiva. Já no Sul de Minas Gerais e em São Paulo, a produção deve se manter estável. Vale a pena ressaltar os elevados índices de poda no Sul de Minas. O Rabobank reduziu as projeções de superávit global de café para as safras 2023 | 2024 e 2024 | 2025, agora estimadas em 0,5 milhão e 4,5 milhões de sacas, respectivamente. Apesar da demanda enfraquecida e com menores importações nas regiões não produtoras, a oferta apresenta problemas ainda maiores, potencializada por desafios nas exportações de países como Brasil, devido a atrasos nos embarques, e Vietnã, impactado por conflitos no Mar Vermelho. Além disso, a produção no Brasil, Indonésia e Honduras não devem atingir o potencial esperado. Embora seja projetado um superávit global para 2024 | 2025, os conflitos no Mar Vermelho e o regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUR) devem sustentar os preços do café durante a maior parte deste ano. Com aproximadamente 45% das importações de café da UE passando pelo Mar Vermelho, os conflitos têm um impacto significativo na disponibilidade do produto. Ainda com muitas incertezas, a recente regra, que dispensa dados de localização de origem para produtos importados até dezembro de 2024, pode incentivar os torrefadores europeus a anteciparem as importações já neste ano, apesar de um mercado desfavorável ao armazenamento. Contudo, até dezembro, é possível que os preços do café sejam pressionados pelo aumento da oferta.
SOJA
O grão de ouro vai seguir em 2024 sofrendo com os preços já que a procura está pequena. As exportações norte-americanas despencaram 7,5 milhões de toneladas sobre o mesmo período do ano passado. O que causou um aumento dos estoques de passagem do país, forçando os valores para baixo na Bolsa de Chicago. Outro movimento que pressiona a mesma bolsa é o aumento da produção de soja na América do Sul. No Brasil, a produtividade caiu por causa do clima, mas a Argentina vem com tudo e a América do Sul pode tirar do solo mais de duzentos milhões de toneladas, incremento de 18 milhões de toneladas na comparação com a safra passada. E como os ‘hermanos’ são historicamente os maiores exportadores de farelo e óleo, é normal uma piora das margens de esmagamento no Brasil na comparação com os últimos três anos. Apesar de que devemos esmagar pouca coisa a mais por conta do aumento da mistura obrigatória do biodiesel ao diesel, de 14% desde 1º de março. Entretanto, não será possível evitar uma contração dos preços do farelo ao longo deste ano e queda nas vendas externas da soja brasileira, de aproximadamente cinco milhões de toneladas em relação a 2023, quando nosso país exportou 101 milhões de toneladas do grão. de soja. Os prêmios também seguirão em patamares negativos, por causa do início da colheita portenha, um provável aumento na área destinada ao plantio nos EUA e o enfraquecimento da demanda chinesa.
MILHO
O início da safra 2023 | 2024 foi marcado por uma produção recorde de milho nos Estados Unidos. A produção do cereal chegou a ultrapassar 389 milhões de toneladas e, mesmo considerando um aumento tanto no consumo doméstico como nas exportações, ainda assim é esperada uma forte recomposição dos estoques de milho nos Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), no fim do ciclo 2023 | 2024, os estoques americanos serão o terceiro maior dos últimos 20 anos. Assim como nos EUA, a América do Sul também deverá produzir sua maior safra de milho no ciclo. Enquanto o Brasil deve mostrar uma redução tanto da área plantada como também da produtividade, na Argentina é esperado aumento nos dois quesitos. A produção brasileira é de 123 milhões de toneladas. Os Hermanos projetam 57 milhões de toneladas. E podem voltar a ocupar o segundo lugar no ranking dos maiores exportadores do grão. A soja brasileira deve vender 14 milhões de toneladas a menos. Com tanta oferta, o preço só cai. E pressiona a safrinha em Mato Grosso. Má notícia para o produtor.
ALGODÃO
As exportações brasileiras de pluma em fevereiro atingiram um patamar recorde, com 258 mil toneladas. Já os americanos apanharam feio com problemas de clima nas últimas duas safras. Assim, o preço tem boas cotações, ainda mais com os fundos aplicando bem no mercado futuro. O que motivou os mato-grossenses e indica uma safra de 3,5 milhões de toneladas. Sem falar no avanço da comercialização.
BOI
Depois de registrar o maior volume produzido de carne bovina dos últimos cinco anos, com aumento de 11% no comparativo anual, e atingindo 8,9 milhões de toneladas, os abates seguiram elevados no início de 2024. Chuvas tardias em importantes regiões produtoras aumentaram os custos da ração no final de 2023. As exportações iniciaram o ano muito bem. Mais de 200 mil toneladas mensais. China e Estados Unidos estão comprando muito, mas o consumo interno, que abocanha 70% da produção total, patina. Resultado: os maiores abates desde 2014. A previsão para o restante do ano é diminuição do abate de fêmeas, mas quantidades ainda importantes de gado macho pronto devem manter os níveis de oferta elevados, limitando a valorização do boi gordo. Já os custos de produção iniciaram o ano em queda, puxados pela ração. E a expectativa de boa disponibilidade interna nos próximos meses deve favorecer os confinamentos. Por outro lado, também há no horizonte competição com as carnes suína e de frango.
SUCO DE LARANJA
Ano de preços em alta e baixa oferta. O foco agora está na safra 2024 |2025 e nas projeções de produção no Brasil. Que deve cair abaixo de 300 milhões de caixas por causa de muito calor e pouca chuva. Dos 10 municípios que mais produzem laranja no cinturão citrícola, apenas Limeira registrou chuvas acima da média histórica. E o greening permanece castigando os laranjais. No mundo, quedas no consumo para as marcas premium, preços em alta até para as marcas próprias dos supermercados europeus e valores em aceleração para os citricultores.
LEITE
A produção perde ritmo com preços baixos aos criadores, o calor e a saída dos médios e pequenos produtores da atividade. Tombo de 1% neste primeiro semestre. Já o consumo vem crescendo graças à queda na taxa de desemprego, aos salários reais em alta e à deflação de alimentos. A tendência positiva de consumo deve continuar no primeiro semestre do ano, com desemprego estável e com ganhos adicionais nos salários reais. Apesar do nível elevado das importações observado no último ano, a combinação de queda na produção local e leve aumento no consumo têm ajudado na retomada dos preços pagos ao produtor, justamente na entressafra. Após atingir o nível mínimo em novembro de 2023 (R$1,97/litro), os preços já registram leve alta no primeiro trimestre de 2024 e devem continuar subindo na tendência sazonal, especialmente devido à menor produção nos meses de outono. No mercado internacional, pode ocorrer uma lenta recuperação dos preços em 2024. A oferta global tem perdido dinamismo, com margens menores no campo, restrições à produção na Europa e baixos investimentos em capacidade produtiva adicional em outras regiões. Além disso, espera-se uma desaceleração considerável na produção chinesa nos próximos dois anos, com saída de médios produtores e menor importação de novilhas nos últimos doze meses, o que sinaliza menor aumento na produção chinesa. O consumo vai sofrer nos EUA e na Europa. Para os exportadores vizinhos do Brasil, vai continuar sendo interessante vender para nós, mas nada tanto assim comparado a 2023.
CELULOSE
Acabou a forte recuperação dos preços no mercado mundial e o ano começou com altas moderadas na Europa e nos Estados Unidos no início deste ano. E estabilidade na China. Com relação à oferta global, as novas plantas na América do Sul, no Chile e no Uruguai continuam acelerando a sua produção. Porém, os estoques globais permaneceram praticamente estáveis. Olhando à frente, o mercado já se prepara para a entrada em operação da nova planta da Suzano no Brasil, que deve começar o processo de produção no início do segundo semestre, com aumento de oferta de 1,8 milhão de toneladas em nova capacidade. Quanto à demanda, espera-se aumento de aproximadamente 1,3 milhão de toneladas, principalmente na Ásia. As exportações do Brasil têm mantido um ritmo forte e devem atingir um patamar recorde neste ano.