7 de julho de 2022

Entrevista: “AGRO FORTE É INTEGRADO”!

Luiz Carlos Corrêa Carvalho – Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio

Ele tem uma fala calma, sorriso fácil nos lábios e carrega quase sete anos de experiência no comando da poderosa e representativa Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG). Luiz Carlos Corrêa Carvalho é o ‘Caio’, que já presidiu a Associação de 2012 a 2018. Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq – USP), possui especialização em Agronomia e Administração pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA – USP), e Vanderbilt University (EUA). Atua, desde 1983, como diretor da CANAPLAN, empresa de consultoria e projetos para o setor de cana, açúcar e energia. Também é sócio da Bioagencia, empresa que comercializa etanol no Brasil e no exterior. Na virada do semestre, Caio pilotou novamente um dos eventos mais contundentes do Agro Brasil. A 21ª edição do Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovida pela ABAG e a B3 – A bolsa do Brasil. Mais de quinhentas das maiores personalidades do segmento, entre empresários, ministros, ex-ministros, embaixadores, comandantes de associações e entidades. Debatendo o tema ‘Integrar para Fortalecer’. Luiz Carlos foi claro. O Brasil produz demais. Tem tecnologia, é competente, tem inúmeras iniciativas de preservação permanente do meio ambiente, diminuição na emissão de poluentes e balanço positivo de carbono. Porém é necessário aumentar a integração entre todos os agentes da cadeia aqui dentro. E com as outras nações também. E mais. O Brasil pode vir a ser alvo na questão das mudanças climáticas, envolvendo a Amazônia e o desmatamento, com barreiras efetivas, mesmo sendo uma forma de protecionismo revestido de defesa ambiental. A Plataforma AgroRevenda acompanhou o congresso da ABAG na capital paulista do início ao fim. É parceira do evento. E, mais uma vez, ouviu as palavras sábias, ponderadas e indicativas de Luiz Carlos Corrêa Carvalho. Acompanhe.

Por que o Agro Brasil precisa se integrar?

Porque temos que criar mecanismos para alinhar práticas sustentáveis à rentabilidade na Agricultura e Pecuária, ainda mais para um país exportador de commodities. Em determinados segmentos, o país já ganha mercado e reconhecimento no que se refere ao chamado sequestro de carbono. Práticas que se destacam pela pouca, ou nenhuma, emissão de CO2. O Brasil começou a fazer a sua ‘lição de casa’ e nós já temos um mercado reconhecido na área de biocombustíveis. Mas é necessário mais. A integração é ponto central para o agronegócio brasileiro ampliar sua competitividade em âmbito global. E também para produzir mais com um nível ainda maior de conservação ambiental. E essa integração precisa ser global, ou seja, entre os segmentos público e privado, as cadeias produtivas, a academia e as empresas. Dentro do nosso país. E, logicamente, entre os outros países.

O que mudou nos últimos anos?

Até agora, todo o debate esteve ligado ao Meio Ambiente e à conjuntura geopolítica. Ainda antes da pandemia da Covid-19, houve um momento em que os Estados Unidos, em uma decisão unilateral do presidente à época, Donald Trump, abandonaram a liderança das instituições globais, o que ocasionou no enfraquecimento da OMC (Organização Mundial do Comércio), que é um organismo importante para o Brasil na manutenção de sua competitividade. E, ao mesmo tempo, pelos subsídios claros que os outros países fornecem aos seus produtores e às empresas do agro locais. Desse modo, atualmente, passamos por um processo de reglobalização do mundo.

Como enfrentar as grandes potências econômicas, que também dominam a comunicação mundial?

Nosso país vai permanecer sofrendo pela disputa por novos mercados e um mundo com exigências e demandas distintas. Porém, precisamos estar presentes nas discussões das métricas de sustentabilidade e informar o que é importante para uma agricultura tropical e não apenas aceitar o que é bom para o ‘mundo temperado’. Por isso, estamos discutindo em nível nacional, com diversos agentes, como podemos atuar. Existem medidas desestabilizadoras e o Brasil pode vir a ser alvo na questão das mudanças climáticas, envolvendo a Amazônia e o desmatamento, com barreiras efetivas, mesmo sendo uma forma de protecionismo revestido de defesa ambiental. Temos que reagir, ter uma abordagem que busque confiança na defesa ambiental. Entretanto, ao mesmo tempo, temos que entender que mudança climática não é um assunto transitório. Precisamos de confiança. 

É um ativo essencialmente nacional e interno, não?

Sim, o agro brasileiro precisa ser proativo pela condição excepcional de grande exportador e produtor de alimentos, fibras e energia. Nesse sentido, mais do que ser, precisamos mostrar e isso requer atuação diferenciada, que necessariamente passa pela atuação público-privada integrada. É importante valorizar os programas nacionais que buscam incentivar a união entre a produção e a conservação ambiental, como o Renovabio (Iniciativa lançada em 2016, para aumentar a produção de biocombustíveis, fundamentada na previsibilidade e sustentabilidade ambiental, econômica e social). Outro ativo é a ação regenerativa do segmento, que representa uma redutora de emissões. Ação integrada é prioridade global. E estarmos ligados nos grandes temas, que realmente pesam globalmente. A transição da problemática geopolítica para a questão do Clima, produção de alimentos e energia se dá sob a pressão de macro fatores, como soberania, capacidade competitiva, confiança e os investimentos, de que tanto precisamos. Tudo isso é essencial ao Brasil. E às nossas empresas. Para enfrentar um mercado com a complexidade de cada país. E transformar ideias em ações.

Quais são as principais incertezas e os maiores temores do mundo hoje?

Alimentos e energia representam hoje a nova desordem mundial. Fraturas geopolíticas, insegurança alimentar, extremismos, conflitos multilaterais e dificuldades na transição energética da descarbonização em pleno processo de bioeconomia encontram na palavra integrar uma resposta formidável a um mar de oportunidades que se abre a cada momento. E o Brasil tem grandes fronteiras, pode mitigar emissões com larga escala de produção, caminhar agregando valor às nossas commodities. Deve ser a nossa resposta. E também é fundamental a modernização do marco legal dos defensivos, que deve ser aprovado no Senado Federal, para dar segurança na questão dos alimentos a um país da dimensão do Brasil. 

O mundo é do Carbono, mas somos respeitados?

As possibilidades ao Agro também se abrem para os hidrocarbonetos, certamente. No mundo da biomassa, podem ser carboprodutos, óleos, fibras ou outras cadeias. Olhar para a tecnologia é essencial e os exemplos são vários no Brasil. E cresce extraordinariamente aqui. Mas precisamos de protagonismo e isso exige negociar. O que é uma qualidade da diplomacia brasileira.  A nossa capacidade competitiva, somada à de nossos parceiros e vizinhos do Sul, que precisa ser valorizada, principalmente hoje em dia, faz com que mereçamos regras globais. O Brasil é a resposta ao mundo. Nosso protagonismo no setor é histórico devido também à diplomacia. Seremos proativos na sustentabilidade. E a integração agro social precisa ser entendida pelo ‘mundo temperado’. É legítimo tanto quanto a cobrança sobre nossas matas.

Dá para vencer essa ‘guerra’?

O Brasil suportado pela Ciência é a luz do desenvolvimento tecnológico no mundo agropecuário e florestal. Poupamos terra e florestas, temos produtividade maior do que a média mundial, a eficiência futura é animadora, vivemos um ciclo proveitoso, vamos saltar para o Agro 5.0 em diferentes cadeias. Recentes análises do Insper (Insper Instituto de Ensino e Pesquisa) mostram que os tesouros de hoje são os recursos genéticos. Um vasto mundo novo. Somado com a riqueza da floresta, gerando riqueza aos moradores locais, do Brasil e do mundo. O processo de descarbornização tem no Brasil o belo exemplo do Renovabio, que deve sempre ser apoiado e não atacado. A criação do mercado de carbono vai envolver o planeta inteiro, forçar o crescimento do mundo, atrair novos investimentos, ajudar na criação de novas empresas e trazer mais prosperidade a todos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) traz realidades importantes. E uma oportuna coordenação, essencial, com marcos definidos para o mercado de carbono. Teremos grandes oportunidades. O Governo Federal instituiu os procedimentos legais para planos setoriais com propostas apresentadas pelos setores produtivos para essa área. Sem falar no mercado voluntário voltado ao carbono. Temos legislação, espaço para planos setoriais, com as propostas das várias áreas ligadas ao segmento. Importante ressaltar que a integração aumenta as chances de oportunidades do agro neste cenário. 

Os produtores estão bem informados sobre esse novo cenário?

Um recente levantamento, atualíssimo, da McKinsey (McKinsey & Company), e que ainda vai ser publicado, indica que as taxas de adoção de sistemas sustentáveis, como o plantio direto, estão presentes em 80% do universo verificado. As culturas de cobertura e o uso de produtos biológicos foram indicados por 60% dos entrevistados. No entanto, apenas 6% dos agricultores brasileiros afirmaram participar de algum programa de carbono. É um enorme desafio e clama pela integração. Nesse ponto, é necessário destacar a relevância do sistema cooperativista brasileiro, ajudando a acelerar essa dinâmica. Com o trabalho valoroso do ministro do Mapa, Marcos Montes, e da ex-ministra Tereza Cristina, a quem sempre seremos agradecidos.

FRASES

“O Brasil pode vir a ser alvo na questão das mudanças climáticas, com Amazônia e desmatamento. Com barreiras efetivas, mesmo sendo uma forma de protecionismo revestido de defesa ambiental”.

“Somos a resposta ao mundo. Nosso protagonismo é histórico. Seremos proativos na sustentabilidade. A integração agrosocial precisa ser entendida pelo ‘mundo temperado’. É legítimo tanto quanto a cobrança sobre nossas matas”.

“A criação do mercado de carbono vai envolver o planeta inteiro, forçar o crescimento do mundo, atrair novos investimentos, ajudar na criação de novas empresas e trazer mais prosperidade”.

“Apenas 6% dos agricultores brasileiros afirmaram participar de algum programa de carbono. É um enorme desafio e clama pela integração”.

 

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