Marcelo Prado
MPrado Consultoria Empresarial
Esse ano começou com La Niña, seca no sul do Brasil e muita chuva no Centro-Norte, o que promoveu perdas significativas na safra de grãos de verão. Tanto que muitos agricultores tiveram que lançar mão do seguro rural. Além disso, uma crise no fornecimento de insumos também impactou a atividade agrícola. Como exemplo, temos as sanções econômicas adotadas contra a Bielorússia, que é um dos maiores fornecedores de potássio para o Brasil, reduzindo a disponibilidade deste fertilizante no mercado e causando uma elevação nos preços de 231%, com a tonelada chegando a US$ 810,00, preço nos portos do país. Outro aspecto relevante foi a elevação das taxas de juros, que deverá chegar a 11,75% no fim de 2022 Medida tomada pelo Banco Central do Brasil para segurar o avanço da inflação, que em 2021 alcançou 10,06%, e poderá chegar no final de 2022 a 6%. O fenômeno inflacionário debilita a capacidade de compra do consumidor, afetando praticamente todas as cadeias produtivas.
A retomada do crescimento dos casos de Covid 19 pela variante Omicron também impactou a atividade econômica no país nos dois primeiros meses do ano. Além disso, a polarização entre Esquerda e Direita para as eleições presidenciais de outubro de 2022 potencializam muitas instabilidades no câmbio e crescimento da economia. Assim, as perspectivas para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no ano oscilam ente -0,5% e 0,3%. Todo esse contexto gera incertezas para todos os empresários que lideram e administram os diversos tipos de negócios. Na Distribuição de Insumos Agrícolas não é diferente. Temos vivenciado, nos últimos meses, elevações dos preços dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas, que chegaram a impactar entre 40% e 50% os custos de produção na safra colhida no verão, inclusive, também com a falta de produtos e cancelamento de pedidos pelas indústrias. Quando se junta todos esses fatores, pode-se constatar que a margem dos agricultores em 2022 ficará menor e, com isso, o processo de gestão de risco voltará a ter protagonismo dentro das revendas, pois um negócio de margens apertadas não consegue conviver com índices de inadimplência superiores a 1%.
Aqui, vale apena ressaltar que várias AgTechs tem trazido tecnologia e eficiência para que o empresário da distribuição possa ter critérios de gestão de risco mais profissionalizados e competentes, gerando, com isso, segurança para o negócio. Quando se olha para o segmento de varejo no Brasil, pode-se observar que o setor é muito sensível a fatores externos. O Magazine Luíza, por exemplo, que, em 2020, teve um ano espetacular com valorização de suas ações de 104% devido, principalmente, à explosão de consumo digital integrado a lojas físicas. Já em 2021, não conseguiu o mesmo desempenho. Suas ações desvalorizaram em 71%, continuando esta trajetória de queda em janeiro de 2022, com perdas ao redor de 2%. O leitor deve estar se questionando: o que a Magazine Luiza tem a ver com o agronegócio? Com esses números, pretendo mostrar que existe uma linha muito tênue entre sucesso e insucesso, e esses exemplos vindos de outros setores deveriam servir de alerta e inspiração para os empresários do agronegócio, pois, muitas vezes, a abundância leva a escassez.
Também vale a pena ressaltar que os campeonatos são conquistados nos detalhes e a atenção plena com cada setor da empresa é fundamental para que não se cometa erros que possam comprometer as tão suadas margens. O Flamengo é um exemplo disso, na final da Libertadores de 2021. Por uma falha de um jogador perdeu o campeonato mesmo sendo o time favorito. Esse cenário deveria inspirar toda a classe empresarial da distribuição para que esteja sempre atenta e alerta a cada detalhe, que, no final, pode significar o sucesso ou o fracasso. Apesar de todo o contexto turbulento para 2022, se os líderes manejarem bem suas estratégias, planejamentos e ações operacionais, tem tudo para ser um ano de grandes safras de resultados e colheitas abundantes, desde que se saiba fazer o dever de casa na busca da excelência em gestão.
