6 de maio de 2021

2021 é tecnologia que não tem fim!

É um caminho sem volta. Exigente e inebriante. Agronegócio Brasil não vive mais sem Ciência e Conhecimento

Eles são gigantes. Com os pés fincados em todas as partes desse planeta. E comungam um destino comum. Estão ‘condenados’ ao sucesso. A Cargill é a gigante americana fundada em 1865. Atua em processamentos e grãos, produção de alimentos, portos privados, gestão de riscos e nutrição animal. São 155 mil funcionários e marca presente em 70 países. O Lavoro Fundo Pátria é uma das maiores plataformas de distribuição de insumos agrícolas do mundo. Já o Rabobank nasceu em 1910, tem sede na Holanda e é um banco que se mostra diferente. Atua em 40 países, tem mais de 40 mil funcionários e conta com 8,7 milhões de clientes, sendo líder do agro mundial, focado integralmente no setor, com conceitos de sustentabilidade e cooperação.

Por trás das corporações, sempre existiram esses elementos conhecidos como ‘seres humanos’. São agrônomos, administradores de empresas, gente, executivos, pensadores, gestores. Que amam trabalhar, criar, liderar. Mas também gostam de exercícios físicos, leitura, velocidade, gastronomia, de conviver com a família, passear com os filhos, namorar, tocar fazendas, criar cavalos, comer churrasco, reunir amigos, andar de bicicleta, viajar, tomar vinho, visitar a roça, nadar na cachoeira, fazer trilha ou yoga.

A Revista AgroRevenda acompanhou novas conversas do nosso parceiro e amigo Marcelo Prado, CEO da MPrado Consultoria Empresarial, com líderes de corporações mundiais do Agribusiness. E o resultado foi uma nova lição sobre o que se passa com o Agro Brasil e as perspectivas para 2021. Acompanhe.


PAULO SOUZA – PRESIDENTE DA CARGILL NO BRASIL

Vamos continuar crescendo, mesmo com a nova onda de Covid-19. O Agro vai continuar sendo o motor da economia brasileira. Assim como o fortalecimento do dólar, que está como uma ‘rocha’. O real mais desvalorizado ajuda o segmento. E o panorama não deve mudar, pois o Brasil não faz as reformas necessárias para trazer mais tranquilidade ao ambiente de negócios.

Existem explicações para a valorização das commodities. Os estoques de passagem de grãos vêm caindo ano após ano. A China, que é o maior produtor e consumidor de carnes do mundo, sofreu e ainda sofre os efeitos da Peste Suína Africana (PSA). E só agora começa a se recuperar. São vários fatores que levam a cenário de alta para as commodities. E a pandemia trouxe, sim, muitas incertezas, antecipação de compras, de formação de novos estoques. Comprar mais cedo. Garantir produtos na mão. E isso foi bom para o Agro Brasil. Para as safras 2020 |2021 e safrinha do milho.

O Agro do Brasil segue chamando a atenção dos investidores. Foi assim no grande boom de 2008 – 2013. Caiu um pouco nos anos seguintes, mas vem se mantendo bem até agora e aproveitou a maré de juros internacionais baixos dos anos mais recentes. Não olho os próximos cinco anos com uma explosão de crescimento. Penso que vai continuar positivo, tendo bons parceiros internacionais, mas nada de espetacular.

A Logística brasileira melhorou demais nos últimos dez anos. A safra de 2020 fluiu muito bem, foi a melhor da história em execução. Mesmo com pandemia. Sem problemas de filas em Santos e Paranaguá, o clima ajudou. A saída norte contribuiu demais no fluxo. As saídas de Itacoatiara, Santarém, Itaituba, aliviando a pressão nas rotas do Centro-Sul. Foi relevante, também, o ganho de eficiência das ferrovias. E há projetos muito bons sendo tocados pela Rumo Logística e a Ferrogrão, novas concessões, extensões de malhas, envolvendo Rondonópolis, Lucas do Rio Verde, Sinop e o Pará. Vão trazer muita segurança ao Agro. Na área de portos, os investimentos devem ser menores até porque há uma grande capacidade ainda a ser operada.

A sustentabilidade é o grande desafio do nosso setor. A questão do desmatamento é o grande entrave com os atores globais. Porque também envolve queimadas, emissão de carbono. As novas fronteiras agrícolas precisam estar atentas. Neste caso, intensificação na Pecuária é chave. Temos que entender que as grandes nações desmataram, sim, há séculos. Mas, hoje, gastam muito dinheiro para mudar suas matrizes energéticas e não vão aceitar países poluindo a atmosfera, destruindo áreas verdes, sem boas práticas. E não podemos permitir a criação de duas categorias de agronegócio. O consciente e o violador. Isso seria péssimo para a atividade, a eficiência, os preços. Temos que nos acostumar com as pressões porque elas virão, certamente.

Não devemos ter fontes do Governo brasileiro falando mal de clientes. A China é o maior parceiro nosso e, também, dos minérios do Brasil. Temos negócios conjuntos absolutamente conjugados, como no caso da soja. Parceiros naturais. Criar problemas com parceiro natural não é inteligente. Não ganhamos nada com isso.

O negócio de grãos é difícil, exige altos investimentos e é muito competitivo. Cada vez mais, as corporações se voltam para novos produtos, seja em nutrição animal ou humana, bens de consumo, artigos de maior valor agregado. O acionista persegue um bom investimento com             retorno melhor, sempre. É uma tendência vigente há 15, 20 anos, e não vai mudar.

O protecionismo ocorre de todos os lados. No mundo todo. No caso brasileiro, os principais obstáculos são a carga tributária e a falta de uma rotina de buscar bons clientes lá fora. Ir atrás de consumidores internacionais dá trabalho e é uma visão de longo prazo das empresas mais vitoriosas neste campo.

O básico da boa venda futura é travar o ganho, cumprir o planejado dos gastos na propriedade, garantir a margem que é vislumbrada pelo agropecuarista e cumprir os contratos. É fazer e zelar pela escolha feita.

Especular é uma palavra com sentidos diferentes nos países. O que a Cargill faz, e é boa nisso, é gerenciar riscos, permitindo exposições aos mercados de uma maneira controlada, que nos trazem ganhos. Todas as nossas compras feitas no campo são ‘hedgiadas’. Nós gostamos de tomar o risco do prêmio, da base. Ninguém tem bola de cristal. Agora, avaliação de preços com análise local e operação na bolsa, nós fazemos. O agro, em geral, é gerenciamento de risco, venda antecipada travando margens. Já a especulação, na minha opinião, é receita para o desastre.

O produtor vai ter um cardápio cada vez maior de possiblidades de financiamento daqui para frente. Os bancos particulares estão aumentando sua exposição ao agro, fintechs estão baixando os custos de intermediação e continuo vendo o papel forte das empresas de químicos e fertilizantes, e das trades, de azeitar essa máquina toda e garantir ao sistema financeiro que o grão vai ser entregue e a própria empresa repassa o dinheiro ao banco ou à distribuidora de insumo. O novo ecossistema financeiro está barateando o crédito ao produtor, vai ser uma fauna mais variada, mas não vejo a extinção do outro modelo.

A questão de armazenagem tem realidades bem distintas no Brasil. Posso dizer que o nosso volume Cargill mais do que dobrou nos últimos dez anos e o crescimento do nosso parque de armazenagem foi menor, não mais do que cinco unidades, em algumas regiões específicas. Acho que o giro é o que importa, tirar produto da propriedade. Para quem deseja armazenar mais para comercializar ao longo do tempo, OK. Para a trade, faz sentido o grão estar na propriedade e nós termos capacidade de advogar com o mercado e menos custo de capital. Funciona bem para nós a armazenagem da propriedade. Termos vários pontos de embarque é bem melhor.

A estratégia da empresa, o estágio da corporação e a posição do Conselho e dos acionistas é que são decisivos para escolher de onde vem o líder, o gestor contratado. Se o executivo é treinado na própria casa ou vem do mercado. O agro tem ciclos longos, o custo é altíssimo, as carreiras tendem a ser mais longas do que outros segmentos. O setor normalmente opta pela ‘prata da casa’ ou de outra companhia também do Agro. Nos outros setores, funciona diferente. Com uma contratação, dá para revolucionar a empresa internamente, fazer transformações. O importante é que a decisão nasça dos objetivos pretendidos pelo Conselho e pelos acionistas.

O Brasil e os Estados Unidos têm um alinhamento histórico. Somos a maior empresa americana no Brasil. Vários CEOs veem este relacionamento com muita maturidade. Os vínculos são muito paralelos entre os dois países. Vai continuar sendo uma aliança muito sólida.

A safra é boa, mesmo com o clima não tendo sido o esperado. Precisamos de foco nos contratos, na estabilidade, o mundo está de olho na gente. As grandes nações enxergam o que o Brasil faz e não o que diz. Uma maçã podre pode espalhar podridão para a caixa toda. Espero que 2021 seja um período de respeito ao Código Florestal, venda de produtos feitos com mais responsabilidade, ao lado dos parceiros, mostrando o nosso valor e a qualidade do agro brasileiro.


ROGÉRIO CASTRO – PRESIDENTE DO CONSELHO DA LAVORO FUNDO PÁTRIA

Em geral, existem empresas que são gestoras de fundos de investimentos. É o caso do Pátria, que atua em quatro áreas. Crédito, propriedades, infraestrutura (concessões) e investimentos em fundos que investem em outras empresas. O caso do Pátria é o último, além de ser o que envolve mais recursos. Hoje, temos seis fundos. Inativos, em operação e outros encerrando atividades. Dois deles investem em Agro. É uma empresa à parte, que investe em Saúde, Alimentos e Bebidas, e o Agro, atuando há cerca de quatro anos, hoje com cerca de vinte empresas administradas.

Nossos primeiros investimentos foram em empresas de café, fertilizantes foliares, logística, transformação do açaí, hidrovias. Somos uma empresa brasileira com atuação geográfica em toda a América Latina. Países como Brasil, Paraguai, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Chile têm a agricultura como setor de destaque. Se a região tem vocação em Agricultura, faz sentido o Pátria investir no setor.

A consolidação faz sentido justamente por existirem setores muito pulverizados, fragmentados. É o caso da Distribuição de Insumos. E a agricultura tem o risco como motivação do negócio. Estamos com algodão, soja, citros, cana, batata, açúcar, café, flores, participação em diversas culturas, nove estados brasileiros, e fazendo negócios nos outros países. Quase toda a Colômbia, no Peru e escritórios em mais três países.

O que o produtor mais valoriza em um distribuidor ou revenda é a presença do parceiro no negócio dele. E, na pandemia, essa característica foi muito importante. Outro fator que atrai o produtor é a confiança. Estar ligado ao cliente, criar envolvimento. Isso é o que vai trazer sucesso à distribuição. E não deve ser diferente na Europa, Ásia, América. Mesmo envolvendo nações de culturas diferentes. Pois essa realidade durante a pandemia fez o mundo digital aflorar. Em nosso caso, também. E a confiança e a presença foram fundamentais nesta transição da digitalização.

Tenho quase certeza de que o futuro é da integração entre a venda digital e a venda física. Temos hoje 125 lojas, lançamos a plataforma #comprelavoro. E decolou rápido. O pessoal faz o pedido na loja virtual e vai pegar na loja física. Veja, não adianta abrir um escritório em São Paulo e querer vender insumos agropecuários em Rondônia, Tocantins, Maranhã etc. Precisa da logística próximo aos agricultores.

O Agro ainda tem muito a explorar no mundo digital. A disruptura não me preocupa tanto. O que acho importante é a agregação de valor. Por exemplo, estive em Israel duas vezes e vi muita coisa legal, ideias sensacionais, inovadoras. No crédito, nos serviços, no monitoramento, agregação de valor nos agroquímicos, biológicos, no monitoramento. Conheci uma empresa, por exemplo, que fazia um trabalho muito interessante. Escolhia em um pomar de laranjas um grupo de mil pés. Ali, identificava a planta perfeita e, depois, analisava o que as outras 999 plantas tinham de deficiência em relação a tratamento fitossanitário, fertilização, exposição ao sol etc. Vejo iniciativas assim não como uma ameaça, mas como excelentes oportunidades de união, parcerias, valorização, eficiência, guerra ao desperdício. Sou otimista. Em Israel, vendo tanta novidade, eu me sentia uma criança na Disney. E existem empresas interessantes e inovadoras nos Estados Unidos, no Brasil. São empreendedores que desejam criar coisas com pouco investimento e um grupo pequeno de trabalhadores que podem ajudar bastante o Agro.

A oferta de serviços é um mercado adjacente da Distribuição, mas sempre foi um conjunto de opções muito simples. Armazenar o produto do agricultor, fazer controle de estoques, gerenciar serviços financeiros, obter agora o seguro agrícola, detectar doenças, pragas, ervas-daninhas resistentes, prever a colheita, calcular frutos por planta. Quando tudo estiver em um software, dentro de um trator, ligado à meteorologia, definindo se o lavrador sai para plantar ou aplicar no dia seguinte, vai ser ainda mais efetivo. Se o distribuidor consegue ajudar nesse sentido é maravilhoso. Porém, o módulo rural influencia muito o aumento da oferta de serviços. Um exemplo: quem tem trator é mais rápido para aproveitar a janela de plantio e colheita, que é curta. Logo, não vai querer comprar um plantio mecanizado terceirizado. Por outro lado, tem gente que gosta de opinar, perguntar, checar que ingredientes e materiais você está usando, está ofertando. E esse segmento é bem grande na agricultura. Gente que não gosta tanto de delegar o serviço à distribuidora. Com pequenas propriedades, os serviços crescem bem mais. Como a armazenagem oferecida pelas cooperativas no Sul do Brasil. Classificação, limpeza e comercialização já são serviços que fazem parte da cultura do agro daqui. Mas o prestador de serviços tem que ficar de olho em gastos, maquinários, fazer contas na ponta do lápis.

Não consigo cravar como vai ficar o mundo do trabalho depois da pandemia. Qual será o tamanho do serviço realizado em casa e aquele externamente. Ouvi, um dia desses, uma observação interessante de um amigo sobre o tema. Ele falou: ‘Tudo fluiu muito bem na pandemia com o home office, mas não sei se poderia criar a empresa trabalhando dentro de casa’. Penso que muitas atividades vão voltar a ser externas, outras vão seguir dentro de casa. E, certamente, vai haver uma racionalização das viagens longas e estressantes, principalmente quando forem para tratar de questões que as plataformas de reuniões no computador resolvem da mesma forma.

É inquestionável a vocação do Brasil para o agronegócio e a importância do setor para a economia do País. Nós exploramos nosso território de uma forma bem mais inteligente e sustentável do que muitos países. Mas somos péssimos em marketing, vendemos muito mal nossa imagem. Exploramos pouco a agregação de valor de nossos produtos. Precisamos de diretores de marketing que vendam nossa capacidade. O resultado atual é que sobram para a gente as notícias ruins. Fogo e desmatamento, por exemplo. O nosso papel é vender melhor o nosso País, porém é um trabalho para várias gerações.

Penso que os líderes empresariais modernos precisam ter empatia, inspirar as equipes pelo exemplo, ser conciliadores, agregadores, ter um propósito de atuação, um projeto claro e definido de gestão, ser mais tolerantes com o diverso e mais intolerantes e aguerridos com os maus exemplos de ética, segregação, humilhação, opressão e perseguição.

As pessoas é que dão o movimento das empresas. Para frente, para trás ou na estagnação. Temos, hoje, 20 empresas em diversos países. Muitos sócios, que agregam bastante, têm conhecimento, bagagem, histórias, passaram por crises. Conversar com uma pessoa que tem uma empresa que você comprou e ele tocou o negócio durante trinta anos é uma honra. A mistura é muito legal, nunca havia experimentado em minha carreira. Estou entusiasmado. É uma colcha de retalhos interessantíssima, que vai nos ajudar muito na consolidação da distribuição.

Vamos encontrar saídas alternativas para essas vacinas, sairemos de novo às ruas. Sofri bastante com a Covid-19 porque tive parentes que pegaram a doença, alguns colaboradores na empresa também. Foi um período muito difícil. Entretanto, estou bastante otimista. Fizemos um belo trabalho em 2020 e em 2021 vai ser igual. O agro vai continuar segurando esse Brasil.


FABIANA ALVES – DIRETORA EXECUTIVA DE CORPORATE CLIENTS DO RABOBANK BRASIL

Somos uma cooperativa da Holanda, que nasceu da união de uma centena de outras cooperativas. Por isso, temos o Agro em nosso DNA. Não temos donos. Operamos no varejo, mas com atendimento especializado no agronegócio. A Holanda tem uma população menor do que São Paulo, mas exporta em valor mais do que o Brasil inteiro. Ganhamos espaço em outros países, estamos aqui há mais de trinta anos, atendemos empresas globais, estendemos nossas operações às usinas há mais de vinte anos e abrimos uma nova unidade de negócios, chamada Rural, de agronegócio primário de larga escala. A Rural mantém 17 agências hoje, no Brasil inteiro, com escritório na capital paulista, atendendo as empresas antes e depois da porteira, além de 1.500 produtores rurais.

O Brasil tem uma característica distinta quando falamos de cooperativas em relação à Holanda. Aqui, vimos duas ou três cooperativas disputando a mesma área de plantio. Não penso ser uma atitude em que várias partes ganham. Nosso conceito é crescer em um mundo melhor atuando juntos. Temos uma cultura muito forte nesse sentido. Não ficamos pensando se a ação vai subir na Bolsa de Valores na semana que vem. No Brasil, não somos uma cooperativa, mas atuamos assim, temos compromissos com a sustentabilidade, a sociedade e o meio ambiente. Poderíamos ter mais parcerias para investimentos em digitalização, que exigem grandes investimentos, sem falar no aspecto da profissionalização. No longo prazo, acreditamos que algum tipo de parceria vai ocorrer neste segmento cooperativo.

Nossa visão é de que o primeiro semestre da economia brasileira ainda vai ser muito difícil, mas com uma recuperação no segundo semestre. Fechando o ano com um crescimento geral entre 2% e 3%. Logo, sem não vivermos nenhuma catástrofe. Devemos ter uma elevação na taxa de juros assim como um crescimento na inflação, mas no fim das contas, o saldo pode ser ainda positivo. Já para o Agro, a perspectiva é bem melhor, pelo menos 5% de avanço. Em toda a cadeia. Reafirmando-se como o único segmento nacional com ganhos efetivos de eficiência. O mesmo não ocorre com a indústria. Nem com os serviços, que até viveram um boom no fim da década de 2010, mas muito mais pela demanda do que por produtividade mesmo. Se o Brasil tivesse apenas mais um setor com o ganho apresentado pelo Agro, estaríamos em outro patamar, mais elevado.

Nossa expectativa para o câmbio em 2021 é chegar ao fim do ano com algo em torno de R$ 5 e R$ 5,1. E o dólar a R$ 5 ainda é um ótimo valor para o Agro. Mas não vamos esquecer que nosso País é uma caixinha de surpresas. Pode haver turbulências internas.

Falando de crédito rural e seguro rural, entendemos sempre que a concorrência é um caminho extremamente favorável para o financiamento de qualquer atividade produtiva, em qualquer país. Quando a taxa de juros era de dois dígitos, os players do mercado tinham que calcular o custo de captação, adicionar as suas margens e ir atrás dos clientes. Hoje, as empresas têm uma visão mais crítica sobre carregar essa dívida no próprio balanço, ocupar o espaço de concessão de crédito mesmo não sendo tão rentável como antes. É um movimento da cadeia de reorganizar o financiamento, deixá-lo onde ele é específico, bancos, e agora, também, o crescimento do mercado de capitais. Vivemos uma mudança de cenário. Sem falar que, em termos de eficiência do financiamento na cadeia, esta deve ser mesmo a solução. Hoje, todo mundo faz a mesma análise, todo mundo correndo o mesmo risco de crédito. Porém, com a digitalização, o blockchain, a tendência do financiamento do agro é ter um processo mais simplificado.

O agricultor brasileiro tem um incentivo complicado, que é operar sob o regime de caixa, dado o incentivo tributário. Eu não sou contra o incentivo, mas acho que o setor é extremamente profissional e competitivo, até internacionalmente falando. Mas tem o déficit na gestão financeira, que afeta a capacidade de tomar decisões de políticas de investimentos. Nos Estados Unidos, os controles tributários e financeiros são muito mais simples. No Brasil, com duas, três ou até quatro safras, quando tem integração, a nossa vida financeira fica mais complicada. O dinheiro que está no banco não representa o resultado da atividade. Dentro do caixa, tem até três safras ocorrendo. Com inúmeras operações em andamento e ao mesmo tempo. Comercialização, antecipação de compras, planejamento de nova safra, custo de armazenagem, contratação de seguros, atuação em diversas regiões. Quanto mais os produtores brasileiros estiverem na tecnologia de ponta, e estamos, é melhor. E sempre atentos ao fato de que o setor é de investimento intensivo e de alto risco. A gestão financeira simplificada de entradas e saídas, comprei e vendi, não atende aos desafios de uma agricultura dinâmica, que envolve compra e manutenção de equipamentos, investimentos em sustentabilidade, novas tecnologias, operações digitais etc.

Usamos a expressão ‘bancabilidade’ para analisar como o agricultor ou a empresa é vista pelo mercado financeiro, sob o ponto de vista do risco. O risco sempre foi definido como a capacidade de honrar uma dívida, mas atualmente ganhou uma amplitude muito maior. Para dar um exemplo, vimos como a pandemia trouxe riscos operacionais inimagináveis. Como parar uma fazenda, um negócio que tem produção viva, plantio, colheita, procedimentos de conservação de produtos? Impossível parar. Logo, precisamos adotar uma gestão de riscos e operações tremenda diante do novo coronavírus. Agora, os riscos passam por diversos itens. Maquinário, planejamento de produção, diversificação regional, fatores climáticos etc. E há outro detalhe vital. Desde que o Rabobank chegou ao Brasil, fomos os primeiros a falar de sustentabilidade. Lançamos guias de sustentabilidade socioambiental quinze anos atrás. Hoje, esses padrões são universais e fundamentais. Um produtor é autuado ou tem problemas com o licenciamento ambiental. É um problema grave para a ‘bancabilidade’.  O agricultor é monitorado a todo instante. E existe a determinação do Banco Central sobre riscos controlados para a suspensão de crédito. E é um risco vigiado pelos bancos. Hoje, temos acompanhamento por satélite. Outro risco que cresceu absurdamente são os do Compliance. É uma pressão mundial. Prevenção de lavagem de dinheiro, questões de envolvimento com verbas públicas. Tudo isso hoje é fiscalizado. A porta de entrada de um cliente em um banco não é mais apenas a operação comercial. O risco agora é visto de uma forma muito mais ampla.

O Brasil vislumbra aumentar sua contribuição para a cadeia produtiva mundial de alimentos. Por isso mesmo, precisamos estar atentos à nossa licença de sermos o ‘celeiro do mundo’. Não é uma licença eterna. Precisamos ouvir o mundo. Nossa reputação ambiental está abalada. E acho até injusto porque muitos fatos alardeados no mundo não são verdades e são misturados com ilegalidades concretas. Mas falamos pouco sobre o quanto aplicamos em agricultura sustentável, como nossa legislação é moderna, o quanto o produtor brasileiro contribui com a preservação de florestas e áreas sensíveis. Precisamos de um trabalho do Governo e da cadeia inteira para limpar nossa reputação. Se estamos focados no mercado global, precisamos ouvi-lo, dar transparência, rastreabilidade, conforto ao que o cliente global deseja. E alcançar uma reputação incontestável.

A concentração de nossas exportações para a China é grande, mas nada tão preocupante. Por outro lado, há necessidade de irmos atrás de mercados que pagam bem, pagam melhor, por produtos de valor agregado. E eles vão pedir padrões, fazer exigências. O Rabobank entende que precisamos de muito mais cooperação. Entre os diversos clientes, as diferentes nações. Independentemente de comprarem commodities ou produtos sofisticados. Temos que criar com todos, relações comerciais e de confiança duradouras, justas, não oportunistas. Buscar relacionamento, ações diplomáticas, acordos comerciais. Só assim conseguiremos abrir novos mercados.

O País tem programas sólidos de apoio aos pequenos proprietários. E eles precisam continuar. O seguro agrícola é um instrumento de proteção e suporte à agricultura brasileira. A diferença entre nosso sistema e o americano é que lá o governo oferece o seguro e aqui fazemos o inverso, damos crédito barato. Logo, muitos se endividaram, não conseguiram pagar e abandonaram as propriedades. E o seguro é importante demais neste quesito. Com o seguro, as pequenas propriedades se sustentam e podem ir atrás de crédito. Assim, deveriam perseguir novos modelos de produção, diferentes, adequados, com maior valor agregado. Um olhar diferente, de aplicabilidade de vocações. Sem falar nas propriedades improdutivas do País. Em nossas estimativas, poderíamos dobrar a produção só viabilizando as áreas agrícolas já existentes. O agro brasileiro não é um só. A parte com renda subestimada é muito diferente do agro de larga escala e cada um precisa de uma política específica. O seguro é universal. E o foco em milhares de áreas precisa ser em Educação, Informação e Vocação. Nossa antiga Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), por exemplo, precisa voltar, mesmo que em um formato diferente, que permita que o pequeno otimize sua produção.

A digitalização realmente significa uma tempestade de ofertas ao agricultor. São serviços, modelos, ofertas superespecializadas que resolvem problemas de aplicação, controle de pragas, gestão, assistência, finanças. O dilema do agricultor hoje é por onde começar. São tantas as possibilidades. Muitas ofertas param na etapa e coleta informação. Sem deixar claro o que o produtor faz daquela informação, que decisão toma. Caso contrário, você vai ter um enorme banco de dados sem saber o que fazer. No médio e longo prazo, precisa de análise e gestão. Mas é um caminho sem volta.

O Agro não para. Nem na pandemia parou. A resiliência do segmento foi fenomenal. E deve continuar assim. É um legado para tudo, para todos. Precisamos dos produtores, cuidando de si, da sua operação agrícola, da sua família. E o mais importante: cuidando de sua ‘bancabilidade’. Você precisa que seu negócio e seus parceiros permaneçam fortes, vigorosos. E que todos tenham uma boa safra.


BRASIL RURAL

# 5 milhões de propriedades agropecuárias
# 25 mil (0,5%) são responsáveis por 52% da produção total
# 2,5 milhões de propriedades lucram menos de dois 2 salários-mínimos por
mês

AGRO BRASIL

# PIB cresceu 9% em 2020 | Atingiu R$ 1,75 trilhão
# Valor Bruto de Produção (VBP) cresceu 17,4% em 2020
# PIB deve avançar 3% em 2021 (previsão da Confederação de Agricultura e
Pecuária do Brasil – CNA)
# VBP deve avançar 4,2% em 2021 (CNA)
# Participação de empresas do agro na B3 não chega a 5%
# Exporta R$ 1 milhão por minuto
# Abriu 61.637 mil vagas de trabalho em 2020 | Melhor resultado desde 2011
# Vagas de trabalho: soja (13.396 vagas), café (6.284 vagas), criação de
bovinos (11.598 vagas), criação de aves (5.993 vagas)


FRASES

“As nações falam mais do que os indivíduos. Brasil e Argentina têm que trabalhar juntos no Mercosul. Brasil e Estados Unidos têm que trabalhar juntos no mundo. Brasil e China são parceiros e precisamos respeitá-los.”
Marcelo Prado – CEO da MPrado Consultoria Empresarial

“Nossa expectativa para o câmbio é chegar ao fim do ano com algo em torno de R$ 5, o que ainda é um ótimo valor para o Agro. Mas não vamos esquecer que nosso País é uma caixinha de surpresas. Pode haver turbulências internas.”
Fabiana Alves – Diretora Rabobank Brasil

“O Brasil e os Estados Unidos têm um alinhamento histórico. Somos a maior empresa americana no Brasil. Vários CEOs veem este relacionamento com muita maturidade. Os vínculos são muito paralelos entre os dois países. Vai continuar sendo uma aliança muito sólida.”
Paulo Souza – Presidente Cargill Brasil

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