30 de outubro de 2020

Os roubos apavoram o Agro do Brasil! Por Riba Ulisses

Imagine a cena.
João Carlos Carrion estava terminando mais um dia de trabalho na fazenda em que é funcionário, em Astorga, no Norte do Paraná.
Já eram mais de nove horas da noite.
Ele desce do trator e quando ia fechar as barras do pulverizador, foi rendido por dois bandidos armados com carabina e revólver.
Ele foi encapuzado, amarrado e colocado no banco de trás do automóvel dos assaltantes.
Um ladrão rodava de carro com o agricultor enquanto o outro roubava as máquinas.

João Carlos Carrion foi libertado em um canavial, a 30 quilômetros da fazenda onde trabalha, quase no dia seguinte.
O crime foi em abril deste ano.
As duas máquinas roubadas custaram 150 mil reais.
O dono da fazenda, Ademir Primon, prestou queixa assim que o funcionário foi localizado.
Ele mesmo rodou as fazendas vizinhas atrás das máquinas.
E nada.
A polícia nunca ligou para falar sobre o assunto.

Dá medo pensar nisso, não?
Quer ter uma ideia de quantas vezes ocorre isso na zona rural brasileira?
Só no Paraná, nos últimos dois anos, foram 2.354 roubos em propriedades rurais.
Bandidos armados apavorando as vítimas.
E mais vinte mil furtos, quando os bandidos levam os bens das pessoas e elas não estão no local ou não prestam a atenção no que está acontecendo.
Sem falar em quase dois mil veículos roubados dos seus donos.
Um índice absurdo em um só estado.
25 furtos ou roubos por dia.
E já sabemos que há vítimas que não registram a ocorrência na delegacia de polícia.

O grito do presidente da Federação de Agricultura do Paraná, Ágide Meneguette, é um só: “O produtor rural trabalha de sol e a sol, paga os impostos e manteve a produção até na pandemia da Covid-19. Fazemos nossa parte da porteira para dentro. Cadê a nossa segurança?”
A resposta é complicada.
São de ações bem tímidas.
Uma cartilha com orientações que os produtores podem seguir para minimizar a ação dos bandidos.
E um apelo para os agropecuaristas participarem dos Conselhos Comunitários de Segurança em seus municípios.
O problema é que os bandidos sabem bem o que querem.
Máquinas, insumos e, se der, bens móveis dos produtores rurais.

Volter Lucas Schwerz estava ordenhando as vacas quando três pilantras apareceram com capuz nas cabeças e o levaram para a casa dele, onde estava o filho de nove anos.
Não se interessaram pelas máquinas antigas da propriedade e acabaram roubando carro, computador, dinheiro, jóias e até a carne que estava na geladeira.
Pai e filho foram abandonados em um canavial a doze quilômetros da fazenda, durante a madrugada.
A polícia prendeu uma quadrilha na região, mas Volter não pode reconhecer os bandidos por causa dos capuzes usados.
Mas reforçou que ele viu o corpo dos ladrões.
Eram magrinhos, moleques, deviam ter menos de 25 anos.

Em Engenheiro Beltrão, os assaltantes pararam um carro na frente da casa da fazenda, os cachorros latiram, mas eles invadiram o barracão que ficava nos fundos, levando 180 quilos de inseticida, 18 galões de glifosato, dez galões de outro defensivo, motosserra e motobomba do produtor Wolfgang.
E mais uma carga de sementes de milho do vizinho.

São milhares de casos.
Gente amarrada, ameaçada de morte, animais judiados, roubo de equipamentos caseiros, tortura psicológica, funcionários traumatizados, parentes em pânico.
Os selvagens mostram uma seringa às vítimas e dizem que vão injetar veneno na veia delas.
Alarmes não adiantam.

A polícia afirma que os crimes só existem porque têm quadrilhas que compram os produtos roubados.
Dãããrrr…
Grande novidade.
É assim com qualquer tipo de crime.

Porém, infelizmente, é muito difícil combater o crime na zona rural.
Por causa das distâncias, a falta de equipes de segurança específicas, o pouco dinheiro da maioria dos produtores e a hipocrezia da sociedade, que tenta de qualquer modo impedir a posse de armas e seguranças armados nas fazendas.
Para o brasileiro, fazendeiro com arma é assassino de sem-terra.
Para piorar, existe a Justiça do Brasil.
Isto é, a falta de Justiça no Brasil.

A pena para quem compra produto roubado não passa de cinco anos de cadeia.
Na maioria dos casos, os criminosos respondem pelo crime em liberdade.
E se forem condenados, cumprem a pena passando o dia fora das grades.
Isto é, um paraíso para a bandidagem.

Enquanto o Brasil não tratar de marginais com a severidade que eles merecem, os produtores devem ficar espertos.
Se puderem, ponham alarmes na fazenda, cães ferozes e contratem segurança.
Comprem arma, aprendam a atirar, obtenham a licença.
Se puderem, deixem a família nas cidades.
Se puderem, é claro.
E, na dúvida, principalmente à noite, atirem primeiro e perguntem depois.
Até porque todo produtor rural sabe que a noite não é hora de visitar amigos e vizinhos.

Sem falar do mais importante: jamais compre bens de procedência duvidosa e sem nota fiscal.
Mesmo que sejam mais baratos.
É incrível, mas a Polícia Federal já encontrou tratores roubados sendo ofertados em uma revendedora bonitinha, aparentemente tudo legal.
E os agricultores compravam de boa-fé.
Até secretário municipal de agricultura chegou a ser preso como cúmplice de quadrilhas.

Para piorar tudo, falta estrutura do Estado.
União, Estados e Municípios.
Simplesmente porque o Brasil está quebrado.
Atualmente, não é uma desculpa.
É uma realidade.
Normalmente, quem faz esse trabalho é a Polícia Militar de cada Estado.
Já viu, né, são servidores públicos.
Uma boa parte deles cumpre apenas funções administrativas.
O número de policiais nas ruas é cada vez menor.
A lei garante uma jornada máxima por dia e ainda hora extra.
Coisas do Brasil.

E isso tudo falando em segurança nas cidades.
No campo, simplesmente inexiste policiamento ostensivo.
As patrulhas rurais só trabalham de noite se tiver adicional noturno.
Sem falar que milhares de municípios brasileiros não têm delegacia da Polícia Civil, que na verdade é a responsável pela investigação dos crimes.
Tem produtor que paga o combustível para os carros da polícia irem atrás dos bandidos.

A dinâmica dos roubos no campo é diferente das cidades.
Fazenda não fica perto de avenidas, ruas, postos de combustível e câmeras de segurança.
Não existem testemunhas.
Só escuridão, silêncio, vacas mugindo.
Os bandidos barbarizam produtores, famílias e funcionários.
Horas, horas e horas.
Estupros das jovens filhas de fazendeiros são corriqueiros.
E ninguém escuta.
Coitados.
Do pai, da mãe, da garota.
Eles não relatam na ocorrência policial por vergonha e para proteger a honra da filha.
Se o cão late, os bandidos matam o cachorro.

Os Conselhos Comunitários de Segurança ajudam como podem.
E tentam fortalecer uma rede entre a sociedade e as polícias Civil e Militar.
Exigem mais participação dos agricultores e pecuaristas.
Gente da cidade cobrando gente da roça.

O peão acorda cinco da manhã, trabalha até seis da tarde, tem família, casa, cárie no dente, funcionários para administrar e ainda tem que participar de reunião noturna para falar da própria segurança.
Não é bolinho ser produtor rural, não!
Produzir comida para milhões de bocas no Brasil e no mundo, ser insultado por jornalistas do país e do exterior, e ainda conviver com mortes, roubos e terror dentro de casa.
A nossa sociedade poderia reconhecer só um pouco mais a bravura desse pessoal, não?

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