As mudanças na política ambiental e agrícola da União Europeia (UE), anunciadas em fevereiro de 2025, tiveram repercussões significativas no agronegócio global, especialmente para o Brasil, um dos principais fornecedores de produtos agropecuários para o bloco europeu.
Em resposta aos intensos protestos dos agricultores, a UE recuou na implementação da estratégia ‘Farm to Fork’ (Do Campo à Mesa) e flexibilizou diversos aspectos do Green Deal (Acordo Verde Europeu).
Essas decisões não apenas frustraram ambientalistas e políticos populistas verdes, mas também abriram novas oportunidades para o setor agroexportador brasileiro, que vinha enfrentando barreiras cada vez mais rígidas.
A mudança de postura também foi influenciada pelo novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.
Com uma agenda abertamente protecionista e cética em relação às políticas climáticas globais, Trump retirou novamente os EUA do Acordo de Paris e reimpôs tarifas sobre produtos agrícolas e industriais europeus e chineses, reacendendo uma guerra tarifária que impactou diretamente a UE e o Brasil.
O Green Deal foi lançado em 2019, estabelecia metas ambiciosas para tornar a Europa neutra em carbono até 2050.
Já a estratégia Farm to Fork, apresentada em maio de 2020, buscava tornar os sistemas alimentares mais justos, saudáveis e sustentáveis.
No setor agrícola, significava reduzir o uso de pesticidas e fertilizantes, expandir a agricultura orgânica e impor critérios rigorosos para a importação de produtos agropecuários.
Os protestos massivos de agricultores europeus entre 2023 e 2024, aliados aos impactos da Covid-19, à guerra na Ucrânia, à alta inflação e, mais recentemente, à guerra tarifária iniciada pelos EUA sob Trump, forçaram a Comissão Europeia a revisar essas políticas.
Entre as mudanças anunciadas, destacam-se:
Cancelamento da meta de reduzir o uso de pesticidas em 50% até 2030.
Retirada completa do Regulamento de Uso Sustentável de Pesticidas, proposto em 2022 e abandonado em 2024.
Flexibilização das exigências ambientais para concessão de subsídios agrícolas na UE.
Fim da obrigatoriedade de rótulos ambientais nos alimentos, substituindo-os por selos de origem e bem-estar animal.
Relaxamento de regras que limitavam o uso de terras agrícolas dentro da UE.
Critérios mais flexíveis para importação de produtos agropecuários, reduzindo exigências ambientais e sanitárias.
As mudanças indicam uma priorização da segurança alimentar em detrimento de metas ambientais mais rigorosas, trazendo impactos diretos para países exportadores como o Brasil.
Esse novo cenário pode significar menos barreiras comerciais e maior competitividade no mercado europeu.
A UE é um dos principais destinos das exportações brasileiras de soja, café, celulose, suco de laranja e carnes, mas as exigências ambientais crescentes vinham dificultando a manutenção e a ampliação desse comércio.
Agora, os produtores nossos terão mais tempo para se adaptar às novas exigências, sem precisar cumprir imediatamente as normas mais rígidas que estavam previstas no Green Deal.
E a revogação da meta de redução de pesticidas e o afrouxamento das regras de uso do solo dentro da própria Europa podem reduzir a pressão sobre os importadores europeus, que antes exigiam certificações ambientais mais severas dos fornecedores estrangeiros.
Isso pode beneficiar produtores brasileiros que ainda não implementaram certificações ambientais ou mecanismos para assegurar a origem sustentável da produção.
Outro impacto relevante é a valorização do agronegócio brasileiro em relação ao europeu.
Com menos subsídios vinculados a práticas ambientais, os agricultores europeus podem perder competitividade frente a fornecedores externos, levando ao aumento das importações de alimentos de países como o Brasil.
Bom momento para falarmos de avanços em tecnologias e práticas sustentáveis brasileiras.
Plantio Direto (PD).
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Aumento do uso de bioinsumos.
Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD).
Sem falar no Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+) e os programas de baixo carbono da Embrapa, voltados para a produção sustentável de soja, trigo, milho, sorgo, leite e carne.
Na implementação do Código Florestal Brasileiro.
E no combate ao desmatamento ilegal.
As mudanças na política agrícola e ambiental da União Europeia representam um alívio para o agronegócio brasileiro.
Como grande player do agronegócio global, podemos aproveitar essa nova conjuntura para expandir nosso comércio com a Europa e consolidar suas relações com a China e outros países.
Mãos à obra!