Saber o volume de produção, produtividade, custos e rentabilidade da atividade é a lição de casa de qualquer produtor rural, mas um novo conceito também vem se tornando obrigatório na agricultura moderna, a produtividade da água.
O Brasil, mesmo sendo uma potência no que se refere à disponibilidade de água em seu território, vem encontrando problemas com a escassez hídrica nos últimos anos, seja pelo incorreto manejo dos recursos, por adversidades climáticas ou pela utilização de forma não racional. O fato é que, neste contexto a agricultura irrigada é hoje uma arma poderosa para o aumento da produtividade aliado a sustentabilidade – condição indispensável para o país se consolidar como maior produtor mundial de alimentos -, conforme preconiza a FAO, orgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
O Brasil, com os seus cerca de 6 milhões de hectares irrigados e uma expansão anual estimada em 200 mil hectares segundo dados da ANA (Agência Nacional das Águas), oferece uma grande oportunidade para que a irrigação ganhe cada vez mais relevância. No entanto, os problemas de escassez de água e as dificuldades cada vez mais eminentes para concessão de uso continuam exigindo da agricultura irrigada maior eficiência, ou seja, obter melhores rendimentos com menores volumes de água, o que implica em aumentar a “produtividade da água”. Mas, o que é produtividade da água, afinal?
Até aqui, muito se falou sobre a utilização do recurso na produção de alimentos, qual a eficiência de cada sistema, quanto de água é necessário para se alcançar uma safra cheia, informações amplamente conhecidas, como os dados da Embrapa que apontam que o pivô central – se manejado corretamente – pode atingir uma eficiência de 85%, já a aspersão convencional apresenta uma eficiência média de 75%, enquanto que nos sistemas de gotejamento a eficiência pode chegar a 95%.
Agora o que se quer saber é quanto de água é gasto para produzir uma tonelada de qualquer alimento e como reduzir esses números? Isso é a produtividade da água. Um estudo realizado por técnicos da Netafim, empresa israelense de irrigação, em áreas de diversas culturas, apontou redução de até 50% no consumo da água, aliado a um aumento de produtividade de 100% em alguns casos, quando aplicado o sistema de gotejamento.
A pesquisa, realizada na safra 2017/18, acompanhou o desenvolvimento dos cultivos comparando os resultados de produtividade e consumo no sistema de irrigação gota a gota e sistema de irrigação por aspersão. As amostragens evidenciaram uma necessidade menor de aplicação de água quando levada diretamente na raiz das plantas e, apontou ainda, um incremento na produtividade, mesmo com a menos utilização hídrica.
Na Fazenda Unaí (MG), os 84 hectares de soja com irrigação por gotejamento produziram 91 sc/ha, consumindo em média 10,8 mm de água para cada saca entregue. Na área de testemunha a produtividade alcançada foi de 55 sc/ha, com consumo de 18,8 mm por saca, ou seja, mais água e menos produtividade. Assim, é possível concluir que a produtividade da água do sistema gota a gota neste cenário foi de 74% mais eficiente, frente a testemunha, uma vez que consumiu 8 mm a menos por saca e produziu 65% a mais.
Outra fazenda observada foi a Tabapuã Pirineus, em Cocalzinho de Goiás (GO), que produz milho em 25 hectares e obteve os seguintes resultados: produtividade de 300 sc/ha e uso de 1,66 mm de água para cada saca produzida no gotejamento. Já na testemunha a produção foi de 160 sc/ha com consumo de 3,25 mm para cada 60/kg do cereal. Como conclusão temos que a produtividade da água no gotejo foi 96% superior ao método tradicional, já que o sistema utilizou 1,59 mm menos para produzir a mesma saca, ao mesmo tempo que o incremento da produtividade foi de 88%.
O estudo foi realizado em diversas culturas e diferentes regiões do país com resultados que comprovam a eficiência da irrigação inteligente, tanto no quesito de melhora da produtividade, quanto de melhor aproveitamento da água. De maneira geral, os métodos modernos de irrigação, sobretudo os que envolvem controle, monitoramento e precisão, são o futuro da agricultura.
Cada vez mais se investe em tecnologias do campo, mas de nada vai adiantar ter os produtos mais eficientes, os maquinários mais modernos, se o manejo da água não acompanhar essa evolução. É preciso pensar no uso racional da água e é preciso fazer isso agora.
Sobre a Netafim – Fundada há mais de 50 anos e com cerca de 30 subsidiárias em todo o mundo, a Netafim oferece as melhores soluções aos agricultores de mais de 110 países por meio 15 unidades produtivas, milhares de distribuidores e mais de 4.000 funcionários. No Brasil são duas unidades: Ribeirão Preto/SP e Cabo de Santo Agostinho/PE. O portfólio de produtos inclui sistemas completos de irrigação por gotejamento, microaspersão, controle e monitoramento automatizados, dentre outras.
* Por Cristiano Jannuzzi – Gerente Agronômico da Netafim