O segundo mandato de Donald Trump começou com a implementação de tarifas adicionais sobre produtos importados, uma medida esperada, mas agora aplicada de forma mais agressiva. O foco da política é proteger a indústria nacional americana, especialmente setores como o de alumínio e ferro, que perderam competitividade ao longo das últimas décadas. No entanto, essa decisão afeta o Brasil e outros países, impondo sobretaxas que podem chegar a 25% em alguns produtos.
Essas tarifas, além de encarecer os produtos estrangeiros nos Estados Unidos, visam incentivar as empresas americanas a comprarem de fornecedores internos. No caso brasileiro, os produtos de alumínio e ferro já estavam sujeitos a cotas, mas agora, com a sobretaxa, os custos para exportar se tornam ainda mais altos. Empresas que exportam para os EUA precisam considerar esse aumento no preço final, o que pode levar à revisão de contratos e até ao cancelamento de alguns deles.
Oportunidades no mercado canadense – Apesar dos desafios, o movimento americano pode abrir portas para o Brasil em outros mercados internacionais, como o Canadá. A aproximação entre Canadá e Estados Unidos em negociações comerciais pode levar empresas brasileiras a encontrarem uma alternativa viável ao mercado americano. Além disso, como a sobretaxa atinge também produtos de outros países, pode haver situações em que os produtos brasileiros continuem competitivos, mesmo com a tarifa adicional.
O setor exportador brasileiro precisa analisar constantemente as variações nos custos e no volume de exportações, observando oportunidades de fornecer para mercados alternativos ou até mesmo preencher lacunas deixadas por outros fornecedores.
Impacto nas políticas comerciais internas – Internamente, a decisão de Trump reforça um movimento que já vinha sendo defendido por indústrias brasileiras, especialmente no setor siderúrgico. Nos últimos anos, essas empresas pressionaram o governo por medidas protecionistas que limitassem a entrada de produtos importados, principalmente da China. Com as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos, é possível que o Brasil adote políticas semelhantes para proteger sua própria produção nacional.
Essas medidas podem incluir desde a imposição de cotas até a aplicação de taxas sobre produtos estrangeiros, incentivando a compra de insumos nacionais e fortalecendo a indústria local.
Riscos e perspectivas – Embora o Brasil possa se beneficiar de retaliações comerciais contra os Estados Unidos por parte de outros países, é preciso cautela. O aumento das tarifas pode diminuir significativamente o volume de exportações brasileiras para o mercado americano, afetando setores que dependem desse destino. O desafio será equilibrar as perdas potenciais com a busca por novos mercados e parcerias comerciais.
Stefânia Ladeira é especialista em comércio exterior e partner na Saygo Comex.