No dia 6 de agosto, entrou em vigor a tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos, determinada pelo presidente do país norte-americano, Donald Trump. A medida, classificada como ‘tarifaço’, tende a provocar efeitos imediatos sobre a balança comercial do agronegócio nacional, responsável por exportar U$ 12 bilhões em 2024, de acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. Segundo um estudo realizado pelo Centro de Estudos do Agronegócio da FGV (Fundação Getúlio Vargas), as exportações brasileiras de alimentos para o mercado norte-americano podem cair até 75%, afetando várias culturas, como café e carne.
Esses reflexos vão além das exportações. A medida pode afetar toda a economia brasileira. A FGV Agro projeta uma retração de até 0,41% no PIB, resultado dos impactos em toda a cadeia produtiva, do campo à indústria, passando por insumos, transporte e logística. O cenário exige uma reação imediata do agronegócio brasileiro para redirecionar seus esforços comerciais e operacionais, buscando novos mercados, preservando competitividade e mitigando perdas. É justamente nesse contexto que a tecnologia se consolida como uma aliada estratégica, não apenas para garantir a continuidade das exportações, mas para transformar uma crise em vetor de inovação e crescimento.
Plataformas avançadas de comércio exterior permitem mapear, com agilidade, novos destinos de exportação, considerando variáveis logísticas, sanitárias, cambiais e tributárias. Essas soluções oferecem suporte à tomada de decisão, facilitando a adaptação documental, simulações de viabilidade e o planejamento de estratégias de inserção mais assertivas em mercados alternativos. Em um ambiente global cada vez mais volátil, com alta concorrência e câmbio instável, torna-se essencial um controle mais rigoroso de margens e custos. Soluções tecnológicas específicas para o agro, que integram dados de produção, estoque, demanda global e logística, permitem uma gestão preditiva e inteligente.
A aplicação de Inteligência Artificial tem gerado avanços relevantes na análise climática, no planejamento agrícola, na rastreabilidade das cadeias produtivas e na previsibilidade de safras. Tudo isso contribui para agregar valor aos produtos e aumentar a confiança de mercados mais exigentes, como a União Europeia e países asiáticos. No setor de carnes, por exemplo, modelos preditivos baseados em IA e sistemas de gestão do ciclo produtivo oferecem uma visão detalhada sobre o momento ideal de abate, a viabilidade de manutenção dos animais no pasto por mais tempo e os melhores destinos para redirecionamento da produção. Ao cruzar dados como preços internacionais, custos logísticos, exigências sanitárias e demandas sazonais por país ou região, essas ferramentas geram insights valiosos, ampliando a previsibilidade e a eficiência das exportações, mesmo em cenários adversos.
O uso de dados em tempo real, aliado a dashboards integrados, proporciona aos tomadores de decisão uma visão abrangente e atualizada das operações. Essa inteligência operacional permite reagir com agilidade às mudanças no ambiente internacional, como o atual tarifaço, e ajustar rotas, volumes e estratégias de forma responsiva. É preciso reconhecer que o Brasil segue como um dos principais players do agro global, com uma produção robusta, sustentável e altamente competitiva. O desafio agora é transformar essa força produtiva em uma vantagem estratégica diante de um novo arranjo geopolítico.
E a chave para isso está na tecnologia. Embora a inovação não resolva sozinha questões políticas ou diplomáticas, ela oferece uma base técnica sólida para decisões econômicas mais eficazes e estratégias de mercado mais sofisticadas. A digitalização do agro, portanto, vai além da produtividade. Em cenários críticos como o atual, ela se transforma em instrumento de soberania comercial, inteligência de mercado e resiliência econômica.
Marcelo Maekawa é consultor de desenvolvimento de negócios da Sonda do Brasil.
Thales de Lima é gerente de desenvolvimento e sustentação de soluções de Comex da SONDA do Brasil.