26 de dezembro de 2022

Retrospectiva 2022, uma análise do mercado do boi

É turma, 2022 praticamente terminou. Olhando para trás, a sensação que fica, pelo menos para mim, é de que esse foi um dos anos mais agitados. Passamos por períodos muito conturbados, como eleições, manifestações e para finalizar, mais uma vez, a taça do mundial escapando das nossas mãos. Dessa forma, é praticamente impossível pensar que o mercado do boi seria diferente, não é mesmo? Antes de falarmos sobre preço do boi, reposição e abate, é sempre bom lembrar rapidamente o que é o ciclo pecuário e em qual momento deles nós estamos.

A ilustração acima demonstra de forma simples como é o comportamento do mercado do boi ao longo dos anos e porque ele se repete de forma característica. Assim como em casa, quem manda no mercado do boi são as mulheres, elas que ditam o ritmo e comportamento do preço da @ e do bezerro. Começando pelo lado direito do círculo: Os pecuaristas observam uma maior oportunidade nos negócios retendo as fêmeas nas fazendas, buscando aumentar a produção de bezerros. Diminuindo a oferta de animais para o abate, os frigoríficos apresentam maior dificuldade em compor suas escalas e acabam pagando mais pela matéria-prima, esse é o mercado de alta. Continuando esse cenário, agora o mercado ofertado na reposição torna mais atrativo aos pecuaristas a venda das vacas do que mantê-las na fazenda para um novo ciclo. Dessa forma, os frigoríficos compõem suas escalas em um mercado mais ofertado de vacas o que tende a reduzir o preço da @, esse é o mercado de baixa.

Com o ciclo pecuário em mente, vamos entender o comportamento do mercado do boi gordo e do bezerro no ano de 2022. Começando pelo boi gordo, o gráfico abaixo demonstra o comportamento do preço ao longo dos meses, separados por ano. Vale lembrar que os dados de dez se referem à média dos 10 primeiros dias do mês.

Começamos 2022 com negócios ocorrendo acima de 350 reais/@, mantendo uma média entre 340 – 345 reais até março. A partir daí foi ladeira abaixo, reagindo um pouco em dezembro. No comparativo dez-jan, o boi gordo desvalorizou aproximadamente 49 reais (-14,5%). Se observarmos o gráfico acima, apesar dos preços não estarem deflacionados, é possível observar um movimento de alta entre 2020 e 2021, o que marcou esses anos como período de alta no ciclo pecuário. De um lado o mercado estava passando por um período de baixa oferta de animais prontos ao abate, do outro, o mercado de exportação batendo recorde com a China.

Em 2022, a curva de queda nos preços a partir de março demonstra que o mercado mudava de lado no ciclo e se iniciava o período de baixa. Para avaliar essa hipótese vamos analisar o gráfico de participação de fêmeas no abate, através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE.

Analisando o comportamento da linha do gráfico, o ano de 2022 tendia a ser marcado pelo aumento na participação de vacas, isso se os dados das parciais do IBGE se concretizassem em uma tendência para o ano.

Por último, vamos analisar o comportamento da outra ponta do mercado do boi, a reposição. Como demonstrado no gráfico de preços do boi gordo, os preços por cabeça estão ilustrados por ano e o mês de dezembro refere-se à média dos 10 primeiros dias do ano.

 

Em 2022 o mercado de reposição apresentou uma queda de preços ainda mais acentuada do que o Boi Gordo. No comparativo jan-dez, o recuo foi de 554,93 reais/cbs, 29,09%, mais um elo indicando a inversão no ciclo da pecuária.

Analisando essas três variáveis, tudo indica que o ano foi marcado pela inversão no ciclo da pecuária, o preço do boi gordo caiu por conta da maior oferta de vacas aos frigoríficos e o mercado de reposição se encontra mais ofertado. E agora, o que esperar para 2023? Boi gordo vai baixar de 200 reais? As margens da produção tendem a cair no próximo ano?

Seria muito, muito mais fácil a vida do pecuarista se tivéssemos uma resposta simples para essas perguntas, mas a resposta mais precisa que podemos dar é um simples NÃO SEI. É possível prever se teremos uma nova crise global na oferta de proteínas, o que vai demandar mais carne brasileira? É possível prever se a China (atualmente grande parceira da pecuária brasileira) vai simplesmente sair das compras em 2023? Não.

Pode parecer desanimador. Pode parecer que a pecuária é uma atividade que nunca vai trazer rentabilidade e que o risco da operação é gigante. Mas no final das contas, é isso mesmo. Ser pecuarista é uma atividade que vem exigindo cada vez profissionalização e cuidado com a operação. Um simples erro de conta na hora de vender seus animais, pode significar um prejuízo de milhares de reais para a fazenda ou até a sua falência, por exemplo. Dessa forma, a única coisa que podemos fazer é utilizar estratégias que auxiliem a produção animal, com objetivo de aumentar a eficiência produtiva dos animais e do sistema pecuário. Precisamos investir cada vez mais na qualidade das informações levantadas na fazenda, buscando tecnologias inovadoras para melhorar os índices zootécnicos, sempre respeitando o bem-estar.

Além disso, devemos buscar alternativas financeiras que vão garantir maior segurança de rentabilidade, pois a pecuária precisa estar próxima da B3. Não podemos deixar o fator mercado, algo que não controlamos, ser o divisor de águas entre o lucro e o prejuízo. Essa é a única forma de garantir a saúde da operação, investir em tecnologia e quebrar o paradigma de “isso sempre foi assim”. É necessário estar preparado, ao mesmo tempo, para 2023 como um ano de mares conturbados e para 2023 como o ano das melhores oportunidades.

Gabriel Porcel Zylberlicht é Inteligência de Mercado da Nutricorp.

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