O Brasil, com aproximadamente 60% de seu território coberto por florestas, enfrenta o desafio de equilibrar a conservação ambiental com o desenvolvimento agrícola. Nesse contexto, a restauração florestal é uma necessidade ecológica e uma oportunidade para promover um agronegócio mais sustentável e resiliente. E nesse Dia Mundial das Florestas (21 de março), nossa conversa é sobre Restauração.
A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, ressaltando a urgência de prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todo o mundo. O Brasil, alinhado a essa iniciativa global, reafirmou sua meta de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, conforme estabelecido no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). Entretanto, dados recentes indicam que menos de 1% dessa meta foi atingida, com pouco mais de 79 mil hectares recuperados até o momento.
Diante desse cenário, iniciativas inovadoras e colaborativas tornam-se fundamentais para acelerar o processo de restauração. O H2A – Hub AgroAmbiental, uma iniciativa do Imaflora, exemplifica como a união entre proprietários rurais, investidores e empresas especializadas pode viabilizar projetos de restauração eficientes e economicamente viáveis. Até o momento, o H2A atua na gestão e articulação do projeto em 11 propriedades rurais no estado de São Paulo, resultando na restauração de 402,426 hectares e no plantio de aproximadamente 428.967 mudas. Destaca-se também a economia gerada para os produtores, com uma redução média de 52% nos custos dos projetos durante os 12 meses iniciais de implementação, representando uma economia de R$ 10.863,85 por hectare.
A estratégia do H2A baseia-se na construção de uma rede colaborativa que envolve: proprietários rurais, por meio da identificação de áreas com potencial ou necessidade de restauração em conjunto com os parceiros, conciliando a recuperação ambiental com a produção agrícola; investidores, na expectativa de mobilização de recursos de doadores, financiadores e parceiros interessados em cumprir agendas de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental; parcerias técnicas, ou seja, empresas responsáveis pela execução dos projetos de restauração, em um arranjo visando a qualidade e eficiência nas ações.
Essa abordagem integrada promove a responsabilidade participativa para a recuperação de ecossistemas degradados e, consequentemente, fortalece a resiliência das paisagens agrícolas, melhora a qualidade do solo e da água e contribui para a mitigação das mudanças climáticas por meio do aumento da captura de carbono.
No entanto, é importante reconhecer os desafios inerentes à restauração florestal em larga escala. A falta de mão de obra especializada, a necessidade de investimentos contínuos em manutenção e o controle de fatores de perturbação, como espécies invasoras e incêndios, são obstáculos que exigem planejamento cuidadoso e comprometimento de todos os envolvidos. Além disso, a inclusão de territórios de povos e comunidades tradicionais nos cadastros ambientais, e o aumento de volume de projetos e recursos com objetivo de beneficiar esses povos são fundamentais para assegurar que as iniciativas de restauração respeitem e valorizem o conhecimento ancestral e os direitos dessas populações, visto que culturalmente há um equilíbrio entre o modo de vida e a floresta em pé.
A restauração florestal não deve ser vista apenas como uma obrigação ambiental, mas como uma estratégia essencial para impulsionar um agronegócio mais sustentável e resiliente. Embora muitas vezes subestimados, os serviços ambientais prestados pelas florestas são fundamentais para o bem-estar humano e a estabilidade dos ecossistemas. Elas contribuem com a manutenção da qualidade do solo, na regulação do clima, no controle biológico de pragas e na garantia da vazão e qualidade da água—elementos indispensáveis para a produtividade agrícola e a segurança hídrica das cidades.
Ao integrar práticas agrícolas com a conservação e recuperação de florestas, é possível criar uma economia regenerativa que beneficia produtores, consumidores e o meio ambiente. Nesse sentido, iniciativas como o H2A – Hub AgroAmbiental demonstram que, com colaboração, inovação e compromisso, é viável transformar desafios em oportunidades concretas. Garantir florestas saudáveis é uma necessidade ecológica e uma condição fundamental para a viabilidade da produção no campo e qualidade de vida nas cidades.
No Dia Mundial das Florestas, reforçamos nosso compromisso com a restauração ecológica e convidamos todos os setores da sociedade a se unirem para investirem na restauração.
Lara Ribeiro é Coordenadora Técnica de Restauração Florestal do Imaflora.