Os especialistas diriam que prever o preço do petróleo é mais difícil que acertar sozinho as seis dezenas da Mega Sena, cuja probabilidade é de uma chance em 50.063.860.
Enquanto que, na Mega Sena, nós conhecemos os números das bolinhas que serão sorteadas, no caso do petróleo não sabemos quantas bolinhas existem, nem que valores podem assumir, o que leva a um número infinito de combinações e faz com que a probabilidade de acertar seja, na prática, igual a zero.
Por esse motivo, os analistas do setor determinam as principais variáveis que influenciam o mercado e suas condições de contorno e, a partir da avaliação dessas condições, estabelecem cenários que permitam estimar faixas de valores mais prováveis.
Previsões de entidades e empresas mais importantes em termos de análise do setor, como a International Energy Agency, a IHS, a Wood Mackenzie e até mesmo a Energy Information Administration, órgão do governo dos Estados Unidos, apresentam variações significativas ao longo do tempo. Ao considerarmos o valor mais baixo da previsão mais pessimista e o valor mais alto da previsão mais otimista, estamos falando, nas previsões mais atuais, de uma faixa, em 2020, que varia entre US$ 50.00 e US$ 80.00 o barril do petróleo Brent.
Entretanto, mais útil do que tentar descobrir o valor que efetivamente será praticado nos próximos três ou quatro anos é entender as principais variáveis que influenciam a formação de preços e as possibilidades de sua variação vis-a-vis às mudanças do cenário geopolítico internacional.
O petróleo é tratado como uma commodity, mas, em decorrência de sua importância na matriz energética mundial e de seu peso na economia, a formação de seu preço acaba envolvendo uma quantidade muito maior de condicionantes e variáveis a ser observada do que outros produtos primários, como o minério de ferro, a soja ou o suco de laranja.
Para começar, a quase totalidade dos meios de transporte utiliza derivados de petróleo, parcela que significa praticamente um terço de todo consumo mundial de energia (os outros dois terços ficam divididos em partes iguais entre moradia/comércio e indústria/agricultura). Adicionalmente, a maioria dos produtos consome, em sua composição e ou em seu processo de fabricação, uma boa parcela de derivados de petróleo.
Assim sendo, é fácil entender o primeiro duelo que se trava, o qual tem a ver com a lei da oferta, que é a dos países exportadores de óleo e gás natural que necessitam da receita de venda para fecharem suas contas, e da procura, decorrente dos países que dependem da importação desse insumo para sobreviver. Tal duelo ocorre também entre o petróleo e o capital, pois oito dos quinze países mais ricos do mundo, que representam 38% do PIB mundial, dependem da importação do petróleo. Por outro lado, os países que detém 70% das reservas mundiais representam menos que 4% do PIB mundial (dados da CIA-USA) e dependem da exportação do petróleo como sua principal fonte de receita.
Devido ao tempo necessário para o desenvolvimento de novos campos, à disponibilidade de oferta potencial de rápida disponibilização e aos estoques acumulados em tempos de preços atrativos para compra no mercado internacional, o efeito das alterações na demanda e na oferta sobre os preços não é instantâneo. As variações no curto prazo, quando ocorrem, decorrem de fatos de forte impacto, como um terremoto ou uma guerra, ou simplesmente de especulação, pois o petróleo acaba sendo um importante ativo negociado em bolsa.
Existem ainda inúmeros outros fatores, igualmente importantes, que exercem forte influência sobre os preços, alguns passíveis de serem previstos e outros nem tanto. Alguns deles serão comentados a seguir.
Merece destaque o crescimento dos países emergentes, principalmente da China e da Índia, países que apresentam percentuais ainda proporcionalmente baixos de consumo de óleo e gás natural em suas matrizes energéticas e, no caso da China, mesmo desacelerando sua economia, ainda está crescendo acima de 6% ao ano e já passou os Estados Unidos como o maior importador de petróleo.
As catástrofes e guerras também são fatores a considerar, pois, se de um lado fenômenos climáticos ou geológicos podem paralisar importantes polos de produção, guerras e conflitos têm o mesmo efeito, dado que grande parte das reservas mundiais se encontra em áreas potencialmente conturbadas. Nesse aspecto, há que ser considerado o efeito do terrorismo em instalações produtoras, cuja probabilidade, hoje, não é desprezível. Sanções econômicas também têm um efeito importante, haja vista o que está acontecendo mais recentemente com a perspectiva de o Irã retornar ao mercado.
Fatos como os recentes conflitos entre os sunitas da Arábia Saudita e os xiitas do Irã também podem reverter esse quadro.
Outros fatores contribuem para a complexidade do tema, como o consumo de matérias primas para a indústria petroquímica, o desenvolvimento de energias alternativas, as ameaças ao meio ambiente, a concorrência com o gás natural, as práticas de redução de consumo, as novas fronteiras de produção, como as areias betuminosas do Canadá, o shale oil dos Estados Unidos e até mesmo o nosso pré-sal, cuja viabilidade é fortemente dependente do preço do óleo.
Finalizando, quando o preço do barril está muito baixo, os recursos para novos investimentos ficam comprometidos e a queda natural da produção não é compensada com produção nova, contribuindo, assim, para a redução da oferta e o consequente aumento do preço.
A dica está dada: Para estimar o preço do petróleo ao fim desta década, basta acompanhar, dentre outras, as variáveis acima. E pode estar certo: Se você acertar foi por mero acaso, pois, apesar de existir um número infinito de pontos em uma mesa de bilhar, em um deles a bola vai ter que parar.
Alberto Machado Neto * é diretor executivo da ABIMAQ e professor e coordenador acadêmico do MBA em Gestão em Petróleo e Gás da FGV.
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