Os leitões enfrentam desafios significativos nos primeiros 45 dias de vida, período crítico que influencia seu desenvolvimento ao longo da fase produtiva exigindo a atenção dos suinocultores.Esses animais são particularmente vulneráveis à ação de agentes infecciosos devido à imaturidade de seu sistema imunológico. A transferência de imunidade materna ocorre principalmente através do colostro, fornecendo anticorpos essenciais que protegem contra diversos patógenos. No entanto, a eficácia desse processo é temporária e os animais precisam desenvolver suas próprias defesas para enfrentar as ameaças presentes na granja. Nesse período, o sistema imune dos suínos passa por um rápido processo de maturação. Células como macrófagos e linfócitos desempenham papéis fundamentais na criação de defesas contra agentes patogênicos. No entanto, uma resposta imune eficiente ainda está em desenvolvimento, tornando a pressão de infecção um fator de risco durante a fase de lactação. Entre os principais desafios deste período estão as patologias entéricas, como a coccidiose.
A coccidiose, causada pelo protozoário Cystoisospora suis, provoca uma enterite que resulta em diarréia nos leitões lactentes. O quadro gera perda de peso, desidratação e compromete a absorção de nutrientes essenciais, impactando diretamente o desenvolvimento dos animais. Embora apresente uma taxa de mortalidade baixa, a doença impõe danos irreversíveis às células intestinais, provocando um atraso no crescimento dos suínos afetados. Os impactos econômicos decorrentes da coccidiose suína são consideráveis, abrangendo desde a diminuição no ganho de peso até o aumento dos custos de produção devido às despesas com tratamentos e implementação de medidas de controle. Além disso, a necessidade de descartar animais doentes pode gerar perdas adicionais. Outro desafio inerente da fase de maternidade é a anemia ferropriva, uma condição que abrange a totalidade dos animais. Dentre os fatores importantes para o desencadeamento dessa afecção estão a baixa transferência de ferro da mãe por via placentária e consequente pouca reserva de ferro ao nascer, a limitada quantidade do mineral transferido pelo colostro e leite materno, e o rápido crescimento e ganho de peso dos leitões, que demandam o mineral para a formação de músculos e órgãos.
Uma leitegada anêmica apresenta redução no ganho de peso, crescimento muscular lento e uma maior suscetibilidade a infecções e outras doenças ao longo da vida. Para prevenir o quadro, a suplementação de ferro até o 3º dia de vida do leitão é utilizada mundialmente para garantir o desenvolvimento dos suínos. Já no período de desmame, os leitões também ficam susceptíveis a doença do edema, uma toxinfecção com elevada taxa de mortalidade causada pela colonização do intestino delgado dos animais por cepas da bactéria Escherichia coli produtora da toxina Shiga 2 (Vt2e). As mudanças fisiológicas e estruturais decorrentes do desmame facilitam a absorção da toxina produzida por essa bactéria, comprometendo a saúde dos leitões. Os animais acometidos apresentam edema de face, com inchaço bem característico das pálpebras, incoordenação motora com andar cambaleante que evolui para a paralisia de membros. Em toxinfecções de evolução aguda, os suínos podem ir a óbito sem apresentar os sinais clínicos da doença, sendo considerado morte súbita. O impacto conjunto dessas doenças transcende os aspectos clínicos, afetando a produtividade. A presença desses agentes na granja provoca a redução na eficiência alimentar, atrasos no ganho de peso e um aumento nas taxas de mortalidade, influenciando negativamente o desenvolvimento dos leitões.
É neste cenário que a adoção de medidas de manejo adequadas se torna essencial para assegurar a eficiência produtiva na granja. O controle efetivo da anemia e coccidiose em suínos requer uma abordagem integrada, abrangendo fatores relacionados ao manejo, como a limpeza e desinfecção e a correta utilização de fármacos. Uma medida essencial é a suplementação com ferro e administração de Toltrazuril, que para maior acurácia deve ser feita com a administração de uma única associação injetável com dose fixa dos fármacos. Desta forma é possível garantir uma entrega mais segura para o leitão, com menos estresse e uma redução considerável nas subdosagens ou falhas de administração. Essa abordagem visa suplementar adequadamente o ferro, mitigando o risco de anemia, enquanto o Toltrazuril atua como um eficaz coccidiostático, controlando a coccidiose suína. Além disso, práticas de manejo como o fornecimento de uma dieta balanceada, ambientes higiênicos e a prevenção do estresse são fundamentais para fortalecer a resistência dos animais a essas enfermidades.
No que diz respeito à doença do edema, é necessário investir na gestão cuidadosa do ambiente e na implementação de estratégias de biosseguridade. A vacinação com a forma atenuada da toxina Shiga (Stx2e) contra a Escherichia coli emerge como uma ferramenta eficaz na proteção contra a doença, contribuindo para melhores resultados no campo. A implementação dessas medidas não apenas reduz a incidência e a gravidade das doenças, mas também desempenha um papel fundamental na minimização dos impactos econômicos associados, contribuindo para uma suinocultura mais robusta e produtiva.
Pedro Filsner é médico veterinário e Gerente Nacional de Serviços Veterinários de Suínos da Ceva Saúde Animal.