Os Desafios da Logística de Frutas no Brasil

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No fim de março, eu participei da Fruit Attraction São Paulo 2025 para falar sobre “Como otimizar custos e acelerar a entrega de frutas frescas”. Para quem é da logística, certamente, gostaria de movimentar frutas em formatos mais adequados. Por exemplo, melancia em formato cúbico, pensando em otimizar o uso do espaço do caminhão, minimizando ociosidade e diluindo custo fixo.

Quatro variáveis são importantes para a logística de frutas que devem ser bem equacionadas: custos, perdas, prazos e shelf-life para otimizar a logística de frutas. Por exemplo, como determinar o melhor nível de refrigeração para o volume movimentado? Quanto maior o uso de refrigeração, maior o custo. Por outro lado, menor o nível de perda. Como determinar a melhor localização de packings houses?

Quanto mais próximo de grandes capitais, maior a proximidade com o mercado consumidor e menor o custo de transporte, por outro lado, maior é o custo de armazenagem (em função do custo de terreno). Algumas decisões que não são triviais de serem tomadas e que impactam as principais variáveis de gestão mencionadas.

Os desafios do segmento são: elevadas distâncias de transporte (muitas ultrapassam a distância média de mil quilômetros), falta de equipamentos de transporte que garantam um menor nível de perda (refrigeração, por exemplo), heterogeneidade de prestadores de serviços, legislação atuante na restrição de tráfego e jornada de trabalho, produtividade, sazonalidade de produção de consumo, prazos curtos, perdas elevadas etc. A distância média que estimamos para a movimentação de frutas no país é de 700 quilômetros (concentrada por caminhão). Embora, algumas frutas apresentem mais de mil quilômetros na média, como melão (1.773 km) e maçã (1.276 km).

O volume de exportação tem ampliado ao longo dos anos (aproximadamente 1 milhão de toneladas). Curiosamente, o setor de frutas é um dos mais representativos para a movimentação pelo transporte aéreo. Por volta de 7% de todo volume exportado no último ano de frutas ocorreu pelo aéreo, frente a 83% pelo marítimo. Os aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro concentram maiores volumes embarcados.

A temática de perdas na logística de frutas é uma constante há tempos na segurança alimentar. Informações do Sistema de Informações de Perdas de Pós-Colheita (SIPPOC) do ESALQ-LOG ilustram elevado nível de perdas no transporte por caminhão, envolvendo causas diversas: falta de enlonamento adequado, granelização da carga, exposição as altas temperaturas, dentre outras. Não é incomum observar perdas que superam 20% no transporte para o caso de produtos perecíveis quando movimentados em condições precárias ou não ideais.

As embalagens são fundamentais para a mitigação de perdas, embora aspectos como custos e escalabilidade da operação, especialmente em relação ao tempo e à logística reversa, precisem ser considerados. Há uma série de soluções para a melhoria da eficiência logística, que passa pela gestão eficiente de custos, gerenciamento dos níveis de perdas e principalmente oportunidades com o redesenho da malha de localização ótima de packings-houses visando o ganho de eficiência na distribuição de frutas. A logística last-mile tem ganhado destaque recentemente, envolvendo a entrega de frutas em curtas distâncias para o consumidor.

Enquanto não temos a unitização ideal da geometria das frutas e maior resistência às perdas e temperatura por meio do melhoramento genético, dependemos cada vez mais da gestão e otimização da logística para contribuir com a minimização das perdas e entregar produtos cada vez mais competitivos para o consumidor. A universidade tem muito a contribuir com a integração com instituição privadas para o desenvolvimento de soluções em conjunto.

Thiago Guilherme Péra é professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP, Coordenador do Grupo ESALQ-LOG e Membro do Conselho Científico Agro sustentável (CCAS).

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