23 de fevereiro de 2023

Os agrotóxicos e seus reais impactos aos seres humanos

O termo “agrotóxico”, tecnicamente, não é correto, a palavra mais adequada seria “defensivo agrícola”. A correção se faz necessária, pois os itens correlacionados com essa definição possuem, primariamente, a função de proteger os produtos agrícolas do ataque de fungos e insetos, ou seja, presenças que podem destruir ou estragar a produção. A finalidade dos defensivos agrícolas é atuar, principalmente, nas plantações, mas eles possuem agravantes: trazem efeitos colaterais aos outros seres vivos que ficam em contato com eles, daí o nome agrotóxicos. Não exagerando na profundidade da explicação sobre esses produtos em termos de química, em uma linguagem acessível, podemos defini-los como substâncias orgânicas, facilmente absorvidas por seres vivos, pequenos ou grandes. Em uma classificação ainda mais clara, eles podem ser chamados de venenosos. 

O problema, para ser mais exato, é que essas substâncias são absorvidas facilmente pelos seres humanos, seja por inalação, contato com a pele, pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Uma das características que tornam esse produto ainda mais preocupante para a saúde humana é que alguns deles são considerados persistentes, ou seja, são substâncias que demoram a se decompor na natureza, como, por exemplo, substâncias cloradas, trazendo, assim, um problema gigantesco de dificuldade de descontaminação do ambiente. Precisa ficar claro que a contaminação do ser humano que não trabalha com esse tipo de produto pode ocorrer mesmo com toda aplicação de normas sanitárias vigentes, já que muitos alimentos acabam ficando com esses defensivos agrícolas em sua composição. Mesmo em quantidade baixa, com o consumo constante, a contaminação pode se dar por acúmulo no organismo humano. 

A água potável, seja de torneiras ou garrafas plásticas, pode estar contaminada com quantidades mínimas de agrotóxico, uma vez que a legislação não prevê análise constante da presença dos insumos no produto que consumimos. São feitas análises especiais e não corriqueiras. Os males causados pelo acúmulo no organismo humano podem variar: o infectado pode apresentar mal-estar, indisposições e até câncer, isso nas ocorrências em que a exposição foi maior, como no caso de trabalhadores que manuseiam esses produtos e, porventura, não utilizam luvas, máscaras, viseiras e roupas apropriadas, os chamados Equipamento de Proteção Individual (EPI). Nos últimos anos, o Brasil permitiu o uso de inúmeros agrotóxicos, muitos, inclusive, proibidos na maioria dos países. O pior: entre os produtos liberados, alguns não possuem estudos definitivos sobre sua toxicidade ao ser humano. 

Estamos numa situação delicada, mas tudo depende do que comemos e da quantidade. Muito se discute sobre a ação secundaria desses agrotóxicos como aceleradores de doenças, as quais são dificilmente relacionadas aos produtos, mas como eles debilitam o metabolismo, acabam por ajudar na disseminação de problemas conjugados de saúde. A saída poderia ser o consumo de produtos livres de pesticidas, por exemplo, os alimentos orgânicos, mas a realidade econômica atual faz com que tenhamos que ter uma produção grande para baixar os custos e torná-los mais acessíveis, e isso vai contra a realidade da produção orgânica, que é mais demorada e menos produtiva em um mesmo espaço de terra cultivável. Temos que ter em mente o seguinte: estamos expostos a esses perigos, claro, mas não devemos nos esquecer que o contato e a ingestão do produto são dados em quantidades não tão grandes. Isso não vai gerar um problema de saúde apenas por ter comido um produto agrícola hoje, mas comemos todos os dias para sobreviver, então, é melhor começar a pensar nessa situação.

Rogerio Aparecido Machado é professor de Química e Meio Ambiente na Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

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